- Já alguém te pediu em namoro?
A sua voz rouca surge no silêncio em que está o quarto. Já é de manhã, mas tanto eu como o André acordamos mais cedo do que era suposto.
Estamos juntos a aproveitar esse silêncio entre os dois. Depois de tudo, precisávamos disto. Quando estivemos juntos há quatro anos não havia grande espaço para aproveitar o silêncio. Sempre inebriados com a presença um do outro, a aproveitar os bons momentos que tínhamos pela frente. Tudo muito mais leve. Tudo muito mais descontraído.
Agora, não.
Agora é diferente.
Toda a carga emocional que tínhamos guardada em nós, dava lugar a uma harmonia onde o silêncio tinha o seu espaço.
A sua pergunta parece-me vinda do nada.
- Porque me perguntas isso? - questiono, sem abrir os meus olhos.
- Acho sempre engraçado quando me respondes com uma pergunta...
Sorrio e abro os meus olhos. O seu semblante não podia estar mais relaxado. O seu cabelo despenteado, o seu ar ensonado. André afaga-me os cabelos, ainda deitado, a sua face na almofada, os seus olhos fixados em mim como se eu fosse algo imperdível. Coisa que eu nunca consegui ver em mim..
- É um péssimo hábito meu, eu sei... - Suspiro - Não creio... Não creio que alguma vez me tenham pedido em namoro... Assim, seriamente. Quando era miúda sim.
Ele acena levemente.
- E não aceitaste esse pedido quanto eras miúda?
Gargalho. Recordar esse episódio é voltar atrás no tempo, que agora me parece tão longínquo, algo que já não me pertence, mas que fui eu que vivi.
- Sabes que não? Achava sempre que não eram para mim. Não sentia nada de especial por eles, então nunca aceitei... Coisas de miúdos...
- Hum... Selectiva já desde miúda, estou a ver...
- Oh! Sim... Eu, selectiva, não é?
- Eu acho bem... Gosto que faças só o que realmente te faz sentir bem...
- Dizes cada coisa... Eu apenas tento fazer o que sinto.
Ele acena ao de leve e olha para mim como se me estivesse a estudar.
- Sim. É isso que eu gosto em ti. Fazeres o que sentes...
- Às vezes isso também me magoa. Não penso muito nas coisas... Acho que de todas as vezes que fiz algo sem pensar, mais tarde, isso não foi bom... Saindo sempre magoada.
- Não precisas de ter medo agora... Isso não vai acontecer.
- Essa tua crença constante em mim também me tira do sério, sabias?
- Eu apenas te estou a dizer a verdade.
Maneio a cabeça.
- O que é verdade agora... Tudo pode mudar.
- O que tu sentes muda? Ou mudou?
Fito-o. Ele continua com esta capacidade de me fazer calar.
- Não.
Subitamente, não consigo bloquear tudo o que se passou e as lágrimas vêm-me aos olhos, mas não deixo de o fitar. Eu sei que chegou a altura de, pelo menos, isto ficar esclarecido.
- Nunca mudou, André. Para mim o que se passou entre nós há quatro anos foi tudo...Não lhe consigo dizer ainda que o amo. É tudo muito recente, foi muito tempo a guardar dentro de mim o amor que sinto por ele. Ainda não é a altura certa. Mas,eu espero que ele perceba com estas minhas palavras qual é o tamanho de meu sentimento.
- Foi como... Nunca deixei de sentir isto por ti ao longo de todo este tempo.
André para de me acariciar o cabelo e apenas olha para mim. Ele está surpreendido, mas está a dar o seu melhor para nada dizer e me deixar falar.
Prossigo.
- Quando te disse que eras uma estreia estava a dizer a verdade.Há 4 Anos:
- hum... isto é uma novidade?
Ele pergunta olhando para mim. Dou-lhe um beijo na testa e volto a distrair-me com o seu cabelo.
- sim. É uma novidade, acredita. Nunca o tinha feito muito menos em trabalho.
- hum... sou uma estreia.Solto uma gargalhada.
- não, digo-o a sério. Vendo bem, somos uma estreia.
- Aí, André... vês tudo de forma tão simples.- Nunca deixei de... Sempre exististe em mim, André.
A minha voz sai meio embargada. Não estou nervosa, talvez seja a emoção de lhe estar a confessar o meu maior segredo.
Ele apenas leva a sua boca à minha e aí fica. A sentir os meus lábios nos seus, agora com o sabor das minhas lágrimas. Coloco a minha mão nos seus cabelos, como se me dessem uma maior segurança do que o seu beijo. Depois, ele apoia a sua mão na minha nuca e sim. Sinto-me completamente segura.
Quando ele se afasta milimetricamente de mim, apenas me deixo ficar com os olhos fechados.
- Eu... - a sua própria voz sai embargada, fazendo com que eu abra os meus olhos de rompante - Luísa, eu... Eu acho que sempre o soube, mas tentei sempre... Tentei sempre não prestar atenção. Eu... Eu sentia como tu te entregavas. Eu sentia, mas eu quis ignorar... Se eu...
Coloco a minha mão nos seus lábios.
- Já passou...
Ele maneira a cabeça e retira os meus dedos dos seus lábios.
- Não.. Não... Temos de falar sobre isto. Deixa-me falar sobre isto. Eu fui um idiota. Eu fui um idiota por não dar uma oportunidade àquilo que estávamos a viver. Pensei que fosse algo que nos estava a divertir, mas... eu sabia que tu sentias algo de diferente por mim e eu sabia que aquilo que eu sentia não era apenas para uma curte. A forma como tu te entregavas a mim... De todas as vezes em que estivemos juntos, a forma como tu estremecias com o meu toque, a tua resposta ao que te fazia... Isso não podia ser meramente uma curte.
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A Vida em Livro
FanficO que pode acontecer quando uma jovem jornalista, que está a trabalhar numa biografia, e acaba por se apaixonar pela "personagem principal", o capitão André Almeida. Se terá futuro ou não isso apenas a história o dirá!