32º Capítulo

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A sua mão na minha nuca, permite-lhe massajar os meus cabelos.
- Eu contei-te porque tu tens o direito de saber e eu não me ia sentir bem em esconder-te isto... mesmo que não tenha tido importância.

Aceno ao de leve no seu abraço.
- Desculpa... Desculpa as minhas perguntas é só...
- Não peças desculpa. Por favor, Luísa. Não peças desculpa por uma coisa da qual não tens culpa nenhuma. Se fosse eu... Se fosse eu na tua situação também não saberia o que dizer, o que fazer...
- Eu sei que... É como disseste: não tens nenhuma necessidade de me mentir. 
- Luísa - o seu tom é diferente. É mais grave do que antes e ele solta-me do seu abraço - Eu não o quero fazer, Luísa. Não tenho quaisquer motivos para isso.

Sinto-me nua sem os seus braços à minha volta. Não quero que ele me leve a mal, mas quero que ele perceba que só tem de ser sincero comigo, em qualquer situação... tal como está acontecer agora.

- Se hoje, neste momento, quiseres terminar tudo para estar com ela, tens todo o direito de o faze-
- Mas eu não quero fazer isso. Porque me estás a dizer isto?
- Eu não quero que te sintas preso, só quero que estejas bem. Não quero que te sintas preso nem agora nem depois.
- Eu tenho todas as razões para ficar! Eu amo-te, Luísa! Como é que ainda não percebeste isto?!

As palavras saem de forma rápida e segura. É certo que ele está exaltado. Consigo ver isso apenas pela sua expressão. Está irritado com a minha postura, eu entendo, mas... ele ama-me?

Ele acabou de dizer que me ama?

Não sei o que fazer, o que responder. Nunca nenhum homem me disse que me amava. Ele é o primeiro. Como em tantas outras coisas, o André é o primeiro.

- Não é por ela me ter beijado que eu quero voltar para ela. Está tudo tratado. Eu cedi onde tinha de ceder e já assinei os papéis. Era isso que não te queria dizer pelo telefone. Nenhum beijo no mundo iria fazer-me mudar de ideias, não entendes?

Estou parada e exactamente no mesmo sítio. Ele já assinou os papéis? Porque não sou capaz de dizer seja o que for?

Consigo perceber como o André está desconfortável pelo meu silêncio. Não quero que ele depreenda que me está a perder ou que não está a conseguir chegar até é mim. Não. É exactamente o contrário. Ele disse que me ama. Terei ouvido bem?

- Tu o quê?
- Assinei os papéis do divórcio!
- Não... Não, o que me disseste antes... Tu o quê?

André coloca as mãos na sua cintura e olha-me nos olhos por um segundo, antes de responder.
- Eu amo-te. Eu amo-te e não consigo pensar no que fazer a seguir se não te tiver do meu lado.  Como é que tu precisas das minhas palavras para o saber?

Ele aproxima-se de mim e coloca a sua mão na minha face.
- Não consegues sentir? Não consegues sentir isto que nos une, que me junta a ti, mesmo que passem anos... é mesmo preciso que te diga o que sinto?

Uma lágrima escorre pelo meu rosto.
- André...
- Pensaste o quê? Que eu estava aqui porque gostava de estar contigo? Porque és boa na cama?

O ar fica preso na minha garganta. Porque é que ele está a ser tão duro? Não sei o que lhe dizer e ele afasta-se de mim novamente. André vira-me as costas e baixa a cabeça. 

Ele está zangado.

Eu, realmente, não sei o que deva fazer ou o que deva dizer.

- Sabes o que é que tenho vontade de fazer? De sair por esta porta e dizer-te que depois falamos.

Coloco as mãos na minha cara e as lágrimas caem em catadupa. Porque é que eu não consigo agir? Porquê este bloqueio? O André ama-me. Porque raio não consigo agir? Num minuto estamos abraçados, no outro estamos afastados. Eu não quero que ele se vá embora. Estou prestes a dizer-lhe isso quando ele se vira de rompante. Retiro as mãos da minha cara e ficamos a olhar um para o outro. Ele está zangado, eu estou triste. Mas...

- Eu não quero que te vás embora - Finalmente. Finalmente, consegui dizer alguma coisa.

- Tens a certeza? Porque é que não queres que eu me vá embora?

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