25º Capítulo

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Olho expectante para ele. Não sei se lhe deva perguntar o que está a acontecer. Tenho a certeza de que alguém deu sinal de vida: o advogado ou a Vanessa.
- Ela diz que não sabe como isto foi parar à televisão.
Aceno.
Tal como tinha pensado.
- Parece-me tão chateada quanto eu...
- Imagino que sim, ela também tem a sua vida e não a deve querer expor.

André suspira e deixa o telefone em cima da mesa.
- Não acredito que toda esta merda tinha de vir a público já...
Ele esfrega novamente a cara.
- Já?
- Sim, eu dei entrada aos papéis do divórcio ontem.
- Ontem? - pergunto surpreendida - Tão cedo?
- Sim. Fi-lo ontem. Assinei o que tinha de assinar ainda ontem, no Seixal. Estive com os meus advogados.
- Mas... Qual era a pressa?
André olha para mim. O cansaço que traz torna-se ainda mais evidente.
- Querias que fizesse o quê? Que esperasse até a época terminar? Estamos em Outubro, Luísa.
- Não é isso... é que ainda há uns dias tomaste a decisão de te divorciar e estás já a avançar com tudo, assim... Não foi meio rápido?
- Não, Luísa. Não foi meio rápido. Foi até muito lento. Eu já te tinha dito que a vontade de me separar não é de agora.

Penso e repenso em tudo o que ele me está a dizer. Também não entendo o porquê desta minha reação. Talvez porque tudo isto significa por certo que o divórcio vai ser mesmo real.
  
- O que é que se passa? - a frustração ainda mais evidente no seu tom acorda-me dos meus pensamentos.
- Ah... Nada, André. Nada - Volto a colocar a minha mão no seu braço - Juro-te que não se passa nada. Só me estou a dar conta de como as coisas estão a avançar... Pensava que tinhas ficado no Seixal para ajudar a equipa e que não estavas a pensar nestas questões...
- É a minha vida. É claro que penso nestas coisas... - ele diz, seriamente.
- Eu não ponho isso em causa. Eu não ponho em causa que tudo aquilo que me disseste seja verdade, André - Respondo, também, seriamente. Quero que ele de facto entenda que eu acredito nele a cem por cento.

Ele apenas acena e bebe um pouco mais do seu chocolate quente. Depois, com todo o cuidado, André começa a brincar com os meus dedos.
- Não penses que estou chateado por isto do meu divórcio estar a acontecer. Não faria qualquer sentido. Eu estou zangado em isto ter saído justamente na véspera deste jogo. É suposto os jogadores não contribuírem para o zumbido que existe à volta do Benfica. Tenho receio do que possam inventar para me tentar atingir. A mim ou à minha família, entendes?

Aceno e levanto-me.
Levo as minhas mãos aos seus ombros.
- Eu entendo-te e acredito em ti, André - Inclino-me. A minha boca junto da sua orelha - Sempre. Nunca te esqueças disso.

Oiço-o suspirar e sorrio levemente. Volto a endireitar-me e começo a massajar os seus ombros.
- Vais ter de paciência e acima de tudo falar com os teus. Eles querem o teu bem. Eles vão perceber o que se está a passar e tenho a certeza de que a confiança em ti vai ser superior a isso tudo.

Continuo a massajar-lhe as costas.
- Estás demasiado tenso... Como está o teu pé?
Ele nada diz por um segundo. Apenas oiço a sua respiração muito mais calma.
- Bem. Não tenho dores e o inchaço já passou. Agora está um pouco negro... - André diz baixinho.

Finalmente, sinto-o a relaxar sob as minhas mãos.
- Estava a precisar disto... - ele volta a sussurrar. É necessário aliviar o ambiente.
- E o chocolate quente?
- Do chocolate quente também... - ele solta um gemido baixinho e eu não consigo parar de rir.

É, realmente, uma excitação perceber que o consigo relaxar desta maneira.
- Não sabia que tinhas tanto jeitinho para massagens... Tenho de te levar comigo para o balneário...
- Hum... Boa ideia... Sabes que sempre tive um fraquinho pelo Samaris? Iria gostar de lhe fazer umas massagens também... - digo, sorrateiramente.
- Como? - André vira-se para mim - A minha intenção é que fosses a minha massagista pessoal. Não era para andares a fazer massagens a outros!

Rio da sua cara e afasto-me um pouco.
- Que pena... Já estava a pensar no que é que iria escrever na minha carta de despedimento ao Jorge...

André levanta-se de repente e vai até mim.
- Não acredito. Gostas demasiado de escrever para trocares o teu trabalho por umas massagens com o grego...
- Hum... - Finjo-me de pensativa - Não sei...
Ele abre a boca surpreendido, mas depois coloca as suas mãos em mim, uma de cada lado na minha cintura, deixando-me encostada à bancada, sem escapatória.

Finalmente, vejo o seu bonito sorriso e sinto-o perto de mim.
Arrisco e beijo-o suavemente.

É certo que a paixão que tenho por ele pode dar-me os sonhos mais impuros, mas quando estamos assim, não consigo deixar de lado todo este amor que está guardado em mim.

Ele afasta-se um pouco, para depois colocar uma das suas mãos na minha face.
- Não sei como me consegues fazer isto... Esta capacidade de me fazer esquecer tudo...
Fecho os meus olhos por um momento sentido a sua mão na minha face.

Devagar, ele dá-me outro beijo, este, desta vez, mais intenso.

Os seus lábios colados aos meus têm algo de poderoso que me faz querer mais e mais.

Paramos para respirar.

- Com o Grego? A sério?

Ele interrompe toda aquela tensão e eu não consigo evitar as minhas gargalhadas.
- Ai André... Achas mesmo que depois de tudo eu precisava de um grego? Pelo menos resultou...
- Resultou o que? - Ele olha-me confuso.
- Fez-te rir. Fez-me ver esse teu bonito sorriso.
A doçura que transparece dos seus olhos, faz-me ficar corada.

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