Cap. 27 - A pecadora

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"Uma parte de mim é permanente; a outra sabe-se de repente."
Isso é tão Solange!











1995


Se me perguntassem o que seria da minha vida, depois do colégio, eu.. sem pensar duas vezes, responderia: Não sei.

A real é que depois de anos, a minha resposta continua a mesma que a da garota com um dente em falta no seu sorriso.

Eu não sei para onde estou indo. Eu ainda não sei quem sou.

Talvez eu devesse me preocupar. Me preocupar pelo facto de minhas expectativas de vida serem as mesmas de uma criança de sete anos.
Estaria em meio de uma crise existencial?

Péssimo... mas enfim... Foda-se. Tudo agora não passa disso: foda-se.

"E depois?" Yara chamou minha atenção, já não estaríamos no ponto de ônibus, e não era só porque ela notou que não me importei em perdê-lo. "Depois de ter reencontrado os seus amigos, o que aconteceu?" Ela perguntou e eu dei de ombros.

"Eu... Fiquei no vício. Pelo menos até o sexto mês." Disse, sem vergonha. "Jake não descobriu. E pretendo que nunca o faça."

"Então... quem?" Ela perguntou. Yara agora não estaria apenas me ajudando, ela estava entretida. Era como contar o final de um livro à uma leitora muito curiosa. Eu estava, de certa forma, entretida pela sua curiosidade.

"Elis." Respondi. "Ela me ajudou." Peguei em minha sanduíche vegetariana e comi apressada. Estava com fome. Yara olhava para mim com pena e até dor. Eu mastiguei o que havia em minha boca e olhei-a de volta. "Eu sei que sou um pedaço de merda, mas não precisa deixar tão claro só pelo olhar." Disse e ela sorriu.

"Você não é um... pedaço de..." Ela começou e depois riu fraco. "Você é só uma garota. Você precisa de cuidados. Não deixei de reparar que minha filha teria exatos dezassete hoje. Como você." Ela me conforta. "Um pouco mais velha, talvez de alguns meses, mas ainda assim... mesma idade." Eu comi uma das batatinhas e bebi um pouco do suco.

"Eu não seria uma boa filha." Disse.

"Você... Se abriu comigo. Você parece ser bem simpática." Ela disse sorrindo e eu assenti. Afundei a minha mão na bolsa e retirei com cuidado o objeto afiado. Yara olha para mim um pouco assustada.

"Me abri com você depois de quase ter aberto um buraco em você." Disse. "Eu precisava me defender. A dada altura... Não sabia a quem confiar." Disse. "...Mas eu vou continuar a história... que já está terminando... por acaso." Disse e Yara assentiu.

"...Durante os seis meses... O que aconteceu?"

"Jake fez dezoito." Disse e sorri triste, lembrando do dia. Daquele dia.


1994


"Sol?" Jake chamou da porta do quarto e eu olhei para ele cansada. "Tá se sentindo melhor?" Ele perguntou e eu assenti. "Eu... Trouxe alguém. Na verdade duas pessoas." Ele disse e deu espaço para as duas mulheres entrarem.

"Solange! Como você tá?" Elis perguntou vindo em minha direção para me abraçar forte.

"Eu estou bem melhor agora." Disse correspondendo o abraço, logo nos soltamos e ela deu espaço para falar com dona Lea, que inclusive, é avó de Elis.

"Você teve uma queda de pressão muito grave, Sol. Devia ir ao hospital ver isso." Lea falou e eu olhei para Jake, preocupado, porém tentando manter a calma mostrando um sorriso. Eu olhei para Lea e sorri.

Isso é tão Solange!Onde histórias criam vida. Descubra agora