XIV

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📚ANNABETH📚

O que Percy falou fazia sentido. E pensar que alguém imaginava que não importasse o que eu fizesse ficaria perfeito, me animava a fazer qualquer coisa. Então eu acabei cortando algumas coisas que eu havia colocado simplesmente porque eu achara que o Sr. D acharia interessante. Não que aquilo melhorasse a situação do meu trabalho, ainda haviam muitos outros assuntos que eu achava que ficariam interessantes. Mas cortar alguns já era um começo.

Quando eu cheguei em casa naquela tarde, Thalia estava jogada no sofá junto de Piper enquanto as duas assistiam Euphoria.

— Eu estou roubando a sua melhor amiga porque ela não me troca pelo crush — Piper disse ao me ver passar pela porta.

— Eu não te troquei pelo crush, eu te troquei pelo trabalho da faculdade — eu disse.

— Mas estava na Milk Shakespeare — Thalia falou, sorrindo.

— Porque lá me trás inspiração — disse me sentando no chão, em frente ao sofá e encostando minhas costas no móvel. — Ele conversou comigo hoje.

— E então? — A morena questionou e eu dei de ombros, fazendo-a sorrir.

— Foi bom, ele me entende — olhei-a, sorrindo, e então contei sobre a conversa que eu e Percy tivemos durante a tarde.

Assisti alguns episódios da série com as duas antes de Thalia ir embora e então decidi ir tomar meu banho. Quando voltei para a cozinha para comer, já vestindo meu pijama, encontrei com Luke, que mexia no notebook, sentado no sofá. Enquanto Thalia estava aqui, acabei me esquecendo que o loiro também morava ali e que ele poderia aparecer a qualquer momento. Thalia havia pensado nisso, não? Mas o que exatamente aquilo poderia significar na relação dos dois. A morena me falara que prentendia superar tudo isso, deixar no passado. E talvez se ela acabasse encontrando com Luke por acaso o dano não fosse tão grande. Eu sabia o quanto ele havia mudado e se arrependido de tudo. Mas quem podia culpá-la depois do que ele fizera? Luke teria um bom trabalho pela frente para deixar de ser o coração partido de Thalia do passado.

— E aí? — Ele notou que eu estava na cozinha. — Você parece melhor — ele observou e não consegui não sorrir.

— É... parece que o Percy falou com a Thalia e ele decidiu conversar comigo... — me sentei ao seu lado. — Foi bom isso, ter desabafado com alguém que sabia do que eu estava falando.

— Então, está feliz por conta do Percy — o loiro sorriu e eu o empurreu de leve pelo comentário, não evitando uma risada.

— O que deu em vocês hoje?

— Vocês? — Ele arqueia as sobrancelhas, curioso.

— Thalia e Piper falaram algo parecido — explico e ele dá de ombros, como se dissesse que elas não estavam erradas.

Está bem. Não era de hoje que eles me enchiam por conta do Percy. Na verdade, antes mesmo de eles saberem exatamente quem era o Percy, quando as únicas palavras que eu trocava com ele era "Um milk shake de morango grande, por favor" e "Obrigada", eles já faziam brincadeiras sobre o motivo da sorveteria ser a minha favorita ser o atendente. Nunca neguei que ele era bonito. E que havia um certo mistério em seus olhos verdes-mar que me hipnotizavam. Eu chegara a escrever um texto sobre eles uma vez, não que alguém vá saber disso algum dia. Mas a Milk Shakespeare era minha sorveteria favorita por me trazer inspiração, conforto. Para mim, ela era um outro mundo. Um mundo onde eu simplesmente conseguia respirar, fazer as coisas com calma, quando eu conseguisse fazê-las. Não posso negar que nessa semana eu não estava sentindo as mesmas coisas de antes, principalmente porque eu só sabia focar no trabalho que eu entregaria para Dionísio no final do semestre e em como eu queria que ele ficasse perfeito. Quando Percy conversou comigo, foi como que se todas aquelas sensações voltassem. Como se a Milk Shakespeare voltasse aos normal.

Suspirei pensando nisso enquanto voltava para meu quarto. Amanhã eu teria mais uma aula do Sr. D e eu pretendia prestar bastante atenção. Eu sabia que certos detalhes que ele desse em sala iriam ser cobrados no trabalho e eu não queria perder pontos exatamente nessa parte.

***

Eu estava na Milk Shakespeare. Meu notebook estava aberto na internet. O caderno com as possíveis ideias estava aberto ao lado. O milk shake se encontrava do outro lado. Abri uma pagina do Word. Eu decidira que iria começar as pesquisas. Nada de procurar mais ideias, eu iria desenvolvê-las. No final eu iria decidir qual me parecia mais interessante. O que eu não podia era ficar presa apenas nas ideias, se não eu nunca iria para frente.

Como no meu livro. Suspirei pensando nisso. Eu queria tanto levá-lo para frente. Era algo que eu queria fazer desde pequena. Mas agora que eu conseguia fazer, não conseguia levar para frente. Quase nunca conseguia escrever. Eu ficava encarando a tela, lendo e relendo o que eu já havia escrito, tentando, de algum jeito, dar continuidade àquilo. Tentei voltar o foco para o meu trabalho. Era algo que eu precisava terminar. Ele tinha um prazo. O livro teria que ficar para depois, ele ainda não tinha uma data de entrega, mas o trabalho sim. E ainda estava valendo a nota do meu semestre. Eu precisava me manter na faculdade, terminar o meu curso, porque do jeito que as coisas estavam indo, não me sustentaria escrevendo livros.

Eu fiquei ali até a sorveteria fechar. Fui conversando com Percy até a estação de metrô. Ele foi me contando um pouco sobre seu curso e sobre as aulas e que estava muito empolgado com essa matéria nova que o Quíron estava dando para eles. Eu comentei um pouco sobre o meu também e o que me levou a escolher Jornalismo. Até que tivemos que nos separar para seguirmos para nossas casas.

Milk ShakespeareOnde histórias criam vida. Descubra agora