Mesmo que nos separe

Adeus para Snape

Pov Hermione

Tudo era inusitado para mim.

Eu estava completamente confusa. Em diversas situações em que me encontrei, nunca estive em uma como esta, complicada, sem solução alguma.

O que diriam, quando soubessem que Hermione Granger é apaixonada pelo professor mais temido de Hogwarts, Severo Snape, ainda mais agora que ele revelou-se estar ao lado de Voldemort. Iriam me chamar de insana, porém não consigo deixar de amá-lo.

Sim, eu já o amava antes, bem antes de tudo isso, de horcruxes e guerra, mas deixei este sentimento oculto, guardado dentro de mim, mas que gritava em meu peito, atormentando cada dia de minha existência.

Agora estou eu junto a meus amigos Harry e Rony retornando à Hogwarts, sem saber o que poderá acontecer, a guerra estava para iniciar. O que farei quando encontra-lo novamente? Meu coração palpita apenas de pensar nisso.

Ódio ou rancor por ele ter assassinado Dumbledore? O julgamento de muitos cairá sobre mim, mas não consigo ter tais sentimentos por ele. Jamais poderei odiar quem mais amo na vida.

Pov Snape

Tudo por uma missão, uma promessa para me redimir do que fiz a Lilian.

Tantos riscos, tantos perigos enfrentados e que ainda estão por vir, eu poderia não estar envolvido em nada disso, entretanto minha consciência não estaria tranquila, tenho que ir até o fim, proteger o filho da mulher que um dia amei. É impactante dizer que a "amei" no passado, depois de tantos anos amando apenas uma única mulher, jamais imaginei que um dia poderia sentir isso por outra pessoa e como sempre um amor que jamais será correspondido. Na primeira vez, havia expectativas, afinal Lilian e eu éramos amigos desde a infância, mas agora, atrevo-me a afirmar que é impossível, não tenho intimidade alguma com ela, provavelmente me odeia ainda mais agora com a morte de Dumbledore e também ela é minha aluna, seria um relacionamento mal visto aos olhos de todos.

Será apenas uma loucura em minha mente e um desejo em meu coração, afinal as chances que eu sobreviva a essa guerra são mínimas. E mesmo sobrevivendo seria esperar demais que ela ao menos me perdoasse por tudo o que fiz.

Pov Hermione

Era muito suspeita a forma que ele agia. Quando Harry e todos nós da Ordem ficamos frente a frente a Severo revelando nossa presença em Hogwarts, ele poderia ter nos prendido, poderia ter capturado Harry, mas ele não nos atacou, nem ao menos nos ameaçou. Para mim, tudo está muito suspeito.

Senti uma corrente elétrica percorrer por todo meu corpo ao perceber seu olhar fixado em mim.

Poderia ser invenção da minha cabeça? Sim! Mas posso jurar que por um segundo senti que ele suplicava por perdão com o par de ônix direcionados a mim.

Para completar, ele fugiu.

Pov Snape

Tudo corria conforme combinado com Dumbledore antes de sua morte, até mesmo a tentativa de Voldemort em me matar.

Não poderia ser um simples feitiço? Ele fez aquela maldita cobra me atacar, porém minha aflição maior era em finalizar minha missão antes de partir. Mas como?

Estou morrendo, sinto-me cada vez mais fraco, caído sobre este chão frio. Meu sangue deixando meu corpo velozmente por entre a ferida que Nagini me deixou e o veneno percorrendo em mim, espalhando-se cada vez mais.

Como poderei finalizar minha missão?

Estou frustrado, todo meu esforço não valeu de nada.

Até que eles surgiram diante de mim, o trio de ouro.

Era a minha chance de realizar o que eu fui destinado a fazer e todo esse sacrifício não seria em vão.

Quando olhei para ela, não pude me conter, lágrimas escorreram dos meus olhos. Senti coisas inimagináveis ao vê-la. Felicidade em ver que ela estava viva e bem, tristeza em imaginar que aquela seria a última vez que eu apreciaria aquele rosto angelical, raiva em ver a forma com que o Weasley a abraçava possessivamente, angústia em querer e não poder revelar meus sentimentos.

- Leve-as... para a penseira... – Foram as únicas palavras que consegui pronunciar, mostrando minhas lágrimas onde havia lembranças com tudo o que Potter precisava para vencer a guerra.

Pov Hermione

Tive que ser muito forte e me controlar para não correr em seus braços ao ver a forma que estava. Não consigo descrever se meu coração acelerou incessantemente ou se parou drasticamente. Minhas pernas vacilaram ao perceber o ferimento em seu pescoço e a quantidade de sangue que perdia.

Rony percebendo meu mal estar, me abraçou tentando me ajudar.

- Está tudo bem Mione? – Rony sussurrou próximo ao meu ouvido.

- Sim! – A mentira mais deslavada que disse em minha vida.

Ao vê-lo morrer, eu também estava morrendo por dentro. Nunca em minha vida me senti tão inútil e incapaz.

Harry me pediu um frasco, para coletar as lembranças dele e em seguida dirigiu-se a nós.

- Rony, Hermione... – Harry murmurava quase inaudível. – Temos que ir, não há mais nada que possamos fazer. Tenho que leva-las à penseira e...

- Eu vou ficar! – Não me importei o que achariam da minha atitude, mas de forma alguma o deixaria agonizando ali sozinho.

- Mione, é perigoso! Você-sabe-Quem pode retornar, algum comensal pode vir aqui.

- Sei me cuidar Ron. Preciso refletir um pouco, por favor.

Assim que os dois se retiraram, corri em direção a meu amado e pude derrubar todas as lágrimas que prendi desde o momento em que o vi.

Ele parecia desacordado, mas o receber meu toque abriu os olhos em minha direção, olhou ao redor e em seguida voltou seu olhar a mim.

- O que faz... aqui... sozinha? – Ele me perguntou com muita dificuldade.

- Não estou sozinha... – Acariciei seu rosto podendo perceber que estava suando frio e febril. – Estou com você. – Minha voz saiu trêmula e demonstrando toda minha angústia e sofrimento.

Corri até minha bolsa de contas a procura de algo que o salvasse, qualquer coisa que fosse. Retornei perto dele já com algumas poções em mãos fazendo-o ingeri-las, outras, derramava em seu ferimento no pescoço.

Em diversos momentos ele parecia perder a consciência aos poucos, mas não o deixei que fizesse.

Pov Snape

- Severo, não feche seus olhos, por favor. Olhe para mim. – Eu estava cada vez mais fraco, mas cada palavra dela, cada instante em que ouvia sua voz preocupada me chamando, implorando e querendo que eu vivesse, me dava forças para lutar.

- Severo, seja forte. Lute! Não vou deixar você morrer. – Em seguida ela acariciou meus cabelos retirando alguns fios grudados em minha testa e depositou seus lábios ali.

Eu estava extasiado em poder escutar meu primeiro nome dito por ela, mas aquele beijo em minha testa, já tive minhas dúvidas se estaria ainda vivo ou já estaria no paraíso.

Se fosse qualquer outra situação, me entregaria à morte, não haveria motivos para viver, já havia feito tudo o que precisava fazer, mas a cada instante, cada gesto dela para comigo, me fazia ficar mais forte, ter mais vontade de lutar pela vida para poder ouvir novamente meu nome pronunciado por sua voz, sentir seu toque, seu cuidado, seu carinho.

Porém houve um momento em que não aguentei, por mais que eu insistisse em permanecer consciente para aproveitar cada segundo com ela, meu corpo se enfraquecia cada vez mais, tudo estava ficando escuro e sua voz foi ficando menos audível, até sumir completamente.