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Valentina Smuck

Pregar os olhos foi o maior desafio que já enfrentei.
As palavras cruéis de Nádia circulavam em minha cabeça, como uma tortura.
Tive a plena certeza que a assinatura de guerra estava marcada à sangue.

Seria fácil me derrotar. E sabe porquê? Porque tenho um coração frágil, e não importa o quanto me faço de durona, quantas máscaras eu vista para disfarçar.
Todos percebem que meu ponto fraco... é a compaixão.

E o pior de tudo, é que eu não consigo odiar ninguém. Nem mesmo meus pais, aqueles que me causaram dor, a pior das dores.

Porque para odiar, precisa está com o coração doente!

- Por que não está sorrindo? Você vai ir para casa, transar com seu marido e comer um queijo búfalo enquanto bebe uma taça de vinho italiano. Não está sabendo aproveitar a vida. - Helena me perguntou intrigada, enquanto enfiava minhas roupas dentro da mala pequena com agressividade. -

- Estou sorrindo, internamente. - Retruquei em uma frieza na voz.

- Você não me engana. - Helena balançou uma blusa no ar, a batendo levemente em meu ombro. - Anda, diga. Me diga para mim mandar a vagabunda. É Clarisse, outra vez? Vou colocar ar no soro dessa cobra.

- É que... - Pensei - Estou nervosa! Clarisse... vai parar em um manicômio e, e eu não sei o que vai ser daqui para frente. -

Aquilo não era verdade, e todos nós sabemos.

Helena soltou as roupas sobre a cama e caminhou até mim. Abaixei minhas pálpebras, a olhar nos olhos iria entregar toda a verdade.

- Não sei o que você está escondendo, mas espero que seja por uma boa causa. - Helena passou a mão em meus ombros, me fazendo relaxar a rigidez dos mesmos. - Você precisa ser feliz, respirar fundo e... seguir em frente! Viver cada minuto da sua vida, porque o futuro é incerto.

Movimentei minha cabeça concordando com suas palavras. omiti minha voz, assim como meu olhar que neguei a elevar até ela.

- Quer dar uma volta? - Indaguei. Helena concordou com um barulho nasal.

Curvei meus lábios delicados, e ergui minha cabeça. Do outro lado do quarto estava uma funcionária da Casa, ela organizava meus pessoais delicadamente, viajando em seus pensamentos.
- Pode terminar de fazer as malas, por favor?

- Sim senhora. - Respondeu-me de imediato.
Fiz um sinal com a cabeça para a jovem que vestia roupas pretas e um documento de identificação pendurado no colarinho de sua blusa longa.

Ergui minha mão para Helena, que a envolveu rapidamente. E seguimos para a área externa do hospital.

Poucos minutos depois, estávamos caminhando em uma grama úmida pelo sereno da noite, e sua fragrância de terra molhada exalava no ar.
O vento batia em meu rosto como chicotes, elevando até onde pode meus cabelos. Sentia-me pura, pois o vento levava todo meu grito mudo de misericórdia.
E o sol tímido de recusava a se manifestar entre as montanha.

- Eu confio em você, Helena. Confio mais do que em mim mesma. - Segurei em seu punho, a trazendo para mim. A loira me olhou com suas íris penetrante e azuis como o céu. - Me promete que não irá contar isso para ninguém!?

Em Suas MãosOnde histórias criam vida. Descubra agora