13°

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Alessandro Bonanno.

Pequenas atitudes transformam algo não intencional em uma bola de neve.
Pretendo manter um discurso civilizado, e dizer que ela quis.
Mas eu iniciei.
Quando vi aquela imagem, meu peito borbulhou de tanta intensidade.
Ao ver ela com outro faz de mim um idiota.

Valentina reflete a mim no passado, ela era exatamente como eu. Seu jeito inocente... Eu sentia a necessidade de a proteger de todo mal. Mesmo que esse desejo de proteção a machucasse ! Era inútil me dizer que ela não me pertencia, porque para mim meu dever era a ter só para mim.

Digo mil frases bregas para descrever inúmeras sensações que sentia ao seu toque.

Empurrei a coberta de meu corpo, e me sentei na cama. Não há rastros de Valentina, a não ser as lembranças que circulam em meus pensamentos.
Encarei o relógio eletrônico em meu pulso e cai na realidade, eu estava atrasado.
Me apressei ao máximo e me arrumei adequadamente. Quando deixei meu quarto recebi uma ligação de Clarisse.
- Porra! - bufei irritado. Atendi, mesmo não querendo.

- Oi amorzinho! - Falou animada.

- Precisa de alguma coisa? -

- O bebê mexeu hoje! Ele está aqui mesmo...

Silêncio.

- Bom... Eu marquei a consulta, do ultrassom. - novamente falou.

- Quando estiver chegando me avise. Estou ocupado agora!

Desliguei.

Ainda não consigo reagir. Um ser logo irá depender de mim, e eu não estou pronto para ser pai. Não sou apto para dar uma educação digna para o meu filho.
E muito menos para Clarisse.
Ela tem suas falhas, é teimosa e quer passar por tudo isso mesmo sabendo que nunca iremos ser uma família tradicional.
Me dói ter que ser rude com ela, mas ela precisa deixar de me amar. É tão fácil.
Assim ninguém se machuca!

O amor dói. E sem ele tudo funciona perfeitamente.

(●●●)

- Você já disse à ela que o relacionamento acabou? - Sara perguntou. Minha psicóloga de cabelos grisalhos.
Eu estava a devendo,fazia exatas duas semanas que não me consultava. Hoje senti a necessidade de ir.

- Milhares de vezes. - Respondi apoiando meu antebraço na poltrona e suspirei fraco . Talvez frustrado.

- E como ela se sentiu?- me analisou com o olhar. Me neguei a dizer, e expressei isso em um gesto. - Alessandro, você precisa me dizer suas emoções... confia em mim!

- Ela não quer me deixar. Nos conhecemos há muitos anos, ela me moldou e eu a moldei. Estávamos tão acostumados com a vida à dois, que ela não aceita essa nova realidade.

- E como você se sente?

- Me sinto incapaz! Me sinto horrível por ter que machuca-la. - Abaixei o olhar. Aquilo foi sincero, talvez a única frase sincera que eu disse em toda consulta.

Em Suas MãosOnde histórias criam vida. Descubra agora