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Valentina Smuck

Toda aquela felicidade que brotava em meu peito era uma falta de respeito com legado da minha família.
Só de imaginar que aquele que me causou tantos traumas, agora pagou com a própria vida, meu corpo libera toda tensão de tantos anos.
Ele não estava mais entre nós.

Não me importo com meu tamanho egoísmo, muito menos com a dor que minha mãe possivelmente estava sentindo.

Eu fui dada como um objeto para um homem que imaginei possíveis teorias de morte, e o universo me surpreendeu imensamente com uma família de verdade.
Talvez o amor de um pai, ou de uma mãe não me faça tanta falta. Aliás, nunca me fez, nunca tive esse amor.

O que importa de verdade, é ser vista como uma mulher. Uma mulher forte e determinada, mesmo que eu precise fingir.

Uma franqueza que ninguém está preparado para ouvir é: aquele que destrói seu psicológico, mora no seu lar. Sua família.

- Não se preocupe, no início também errei o alvo muitas vezes. - Tory tentou me consolar - Brincadeira, eu sempre fui boa nisso. Nasci para atirar.

Estávamos na Casa Nera, em específico área externa coberta pela neve. O local era amplo, e isolado da cidade. Mas havia presença de outras pessoas, membros da máfia italiana.

- Isso me incentiva muito. - Confessei com um sarcasmo na voz, e sua risada foi como uma resposta.

Eu estava exausta, jamais imaginei que acertar um alvo era tão difícil.
Apesar do frio está presente, meu corpo suava. Talvez pelo esforço em segurar aquele metal pesado e que impulsiona meu corpo para trás a cada tiro.

Eu tinha um apoio á minha frente, porém mesmo assim era cansativo.

- Vamos tentar mais uma vez? Você consegue. - Tory falou.

Consenti em resposta, soltando um lufada de ar pela minha boca. Me posicionei, mirando no círculo da silhueta humana.

Aquela era a segunda etapa, até então eu havia dominado o uso de revólveres. Eu estava orgulhosa de mim, e Tory mais ainda por ser uma instrutura excelente.

Puxei o gatilho, tentando me manter em equilíbrio. Tory comemorou, eu acertei.
Eu precisava acertar uma vez para não desistir.

- Isso foi demais, você acertou exatamente no pontilhado. -

- Qual é a probabilidade de ter sido sorte?

- A probabilidade é zero, foi fruto do seu esforço. - A ruiva me corrigiu, tocando com a ponta do dedo minha bochecha. - Merece até um descanso! Irei dizer para todos que a patroa é uma atiradora de elite.

- Não diga isso, vou ficar convencida. - Brinquei aceitando a arma no apoiador, e alonguei meus braços.
Eu estava confortável com aquela calça, botas longas e uma blusa de mangas. Exatamente como Tory, ambas estávamos vestidas de preto. E o cabelo preso em um rabo de cavalo era refrescante.
Embora o vento frio congelasse meus dedos e a ponta de meu nariz.

- Deveria se sentir a melhor! - Ergueu seus braços para o ar em um ato comemorativo.

(•••)

Lavanda. Era o aroma que preenchia o local, além do cheiro de alimento fresco e bem preparado.
Tory estava sedenta para abocanhar toda aquela comida que foi servia a ela, e eu estava sedenta por um resposta.
Tudo conspirava ao meu favor, estávamos sozinhas, nem mesmo os empregados poderiam nós atrapalhar.

Em Suas MãosOnde histórias criam vida. Descubra agora