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Valentina Bonanno

O que me intriga é compreender que nada afeta diretamente ao Alessandro.
Ele consegue disfarçar perfeitamente qualquer ressentimento, até aqueles mais profundos.
Nunca sei o que ele sente de verdade, se está triste, ou confiante.

Enquanto eu borbulhava pela fúria, sua expressão ainda permanecia serena.
Ele não se chocou, muito menos se comoveu com a minha palavra.

Eu estava decidida, talvez a pior decisão que tomei. Mas ele não iria me impedir de ter a oportunidade de dar uma segunda chance para Donatella.

Depois de olhar para seus olhos, caminhei até a porta passando rente ao seu corpo, a fim de deixá-lo sozinho ali. Mesmo tendo em mente que ele não deixaria, eu tentei.
Mas Alessandro me puxou novamente, dessa vez sem um pingo de delicadeza, ou talvez minha pele só estava sensível, de qualquer maneira sua mão em meu braço doía.

Embora eu tentasse não esboçar minha dor, minha boca estava trêmula, ao menos tentei controlar meu nervosismo.

- Você sabe que não tem minha aprovação. - Falou. Ele não estava brincando, nem mesmo sendo irônico como de costume.

- Eu não preciso dela. Essa foi a minha decisão! - o confrotei.

- Você chama isso de decisão? Eu chamo isso de covardia. - Ele Vociferou. Fazendo-me dar um salto sútil contra seu corpo, ao mesmo tempo que tentei me soltar de suas garras.

- Não me diga o que fazer, Alessandro. - Pedi, num Sussurro. Toda aquela minha pose de determinação evaporou ao escutar sua voz alta.

- Você tenta se fazer de forte, mas é uma fraca. - Sua voz sobressaiu à minha - É facilmente manipulada por qualquer pessoa. Sempre toma as piores decisões, você não pensa um só segundo.

Tentei segurar as emoções, mas elas escaparam em um soluço. As lágrimas escorreram pelo meu rosto, e eu estava horrorizada por escutar suas palavras duras.

- Ela precisa de mim! - Tentei justificar, mas ele ignorava qualquer palavra que saia de minha boca.

Segundos atrás, a dor de meu braço não se comparava com a dor de meu peito.
Pois doía, tentar se afastar da verdade doía.
Abaixei meu olhar, soluçando descontroladamente.
Era torturante escutar Alessandro.

- Olha para mim. - Ordenou, mas eu me recusei a olha-lo - Anda, olha para mim.

Ainda receosa movi minha cabeça, e o olhei implorando pelo sossego. Então Alessandro soltou meu braço, e a dormência tomou conta de minha pele.

- Meu sistema não é falho. Eu te dou a liberdade de escolha, e você só a usa de maneira errada. - Alessandro falou, com os olhos pesados sobre mim.

- Eu poderia facilmente afastar qualquer pessoa que te faz mal. Eu sei de todas as coisas. Como da vez que Nádia foi vê-la no hospital, ou quando você recusou o apelo de Clara. - Pausou - Sempre a orientei sobre o que é melhor para você, e sempre te dei a liberdade de tomar qualquer decisão. Se você quer se submeter a isso outra vez, não irei impedir.

- Alessandro, por favor... - segurei em sua mão. Eu tinha a plena certeza que em meu rosto estava estampado toda meu desespero emocional.

- Você está se sentindo culpada, pela morte de George, mas você não pode agradar a todos. - Ele soltou minhas mãos, mas ainda manteve o contato físico ao segurar em meu rosto - Você deve ser fria, ou irão passar por cima de ti.

Na altura do campeonato, segurar as lágrimas não era mais uma vitória.
Aliás, desde o momento da primeira verdade em meu rosto, meu interior desabou.
Nenhuma palavra foi dita, não era o suficiente.
Alessandro reparou o tanto que minha dor se transformou em água, em como aquilo doía dentro de mim.
Ele me reconfortou, com seu jeito másculo e bruto, mas me senti em paz.

Eu não sabia o que fazer. Não sabia em quem eu deveria confiar.
Fingir ser forte é um problema para quem era fraco.

- Eu tenho muito medo! - Sussurrei sentindo sua mão firme em minha nuca, e meu rosto úmido em contato com seu peitoral coberto pelo terno alinhado. - Tenho medo de ferir alguém.

- Não minta para si mesma, só assim evitará se ferir. O resto não importa, pense em você. -

- Você disse que eu tomo as piores decisões, como vou me sentir confortável pensando somente em mim? - levantei minha cabeça para o olhar.

Alessandro contraiu sua mandíbula e abaixou o olhar para mim.

- Você tem um coração!? Use-o. Pensar em si mesma é tomar a liberdade de escolher o que será melhor para você. Sem se importar com o que os outros irão pensar ou se isso é uma má decisão, pois se ela te faz bem ela não é uma decisão ruim.

- E se eu disser que dar uma segunda chance para Donatella me faz bem?

Alessandro soltou meu corpo e franziu sua testa totalmente incrédulo.

- É uma piada? Isso é uma completa ignorância.

- Então você não está pronto para que eu tome decisões. Por que não aceita? Tem medo de me perder?

- Escute bem, se quer voltar para Donatella volte. De qualquer maneira, vou estar te esperando para que chore nos meus braços outra vez.

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⏰ Última atualização: Mar 11 ⏰

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