30°

1K 111 53
                                        

Valentina Bonanno

Observei o movimento das árvores em direção oposta ao carro em velocidade constante.
O sol tímido estava se pondo, para dar início a mais uma noite gelada em Itália.

Expirei o ar lentamente pelo meu nariz, visando alcalmar os ânimos aflorados em meu corpo.
Embora não tenha um sucesso, senti-me em paz por instante.

Entretanto, fraquejei ao me lembrar que neguei a palavra de Clara. Talvez um pouco arrependida por ter sido tão fria. Acontece que não pensei em dizer tantas palavras rudes, e que, apenas depois, de cabeça fria pude repensar em minhas atitudes.

Agora é tarde de mais. Ela não irá me perdoar, eu não me perdoaria.

- Aconteceu alguma coisa? - Helena perguntou indiferente, segurando o volante do carro com firmeza.

- Sinto enjôo - justifiquei, tentando evitar conversas ao longo do trajeto.

- Podemos parar por uns minutos. - Deu a sugestão.

- Não... Está tudo bem! Não quero atrasar toda a viagem, muito menos fazer todos os carros pararem. - Respondi, me referindo a alguns seguranças da Casa Nera que nos acompanhavam.

- Eles vão entender.

- Menos seu irmão. Você sabe! Hoje é um dia importante para ele.

- Tem razão. - Rolou os olhos em descontentamento.

Permaneci em silêncio, degustando todo conhecimento que adquiri na estrada deserta.

- Você pode está grávida. - Helena novamente falou, me fazendo dessa vez erguer minha nuca do banco e olhar em sua direção.

- Como? - Perguntei de maneira incrédula, tentando assimilar o que saiu de sua boca.

- Isso seria bom. Sinto que aos poucos o legado da família Bonanno está se afundando. - curvou os lábios em um sorriso tristonho - É uma chance para tudo voltar como era antes.

- Não estou pronta para ser mãe. - Confessei. - E isso é improvável de acontecer.

- E porque? - Arqueoou sua sobrancelha.

- Para ter um bebê precisa ser psicologicamente saudável. E eu não sou.

- Eu não posso ter filhos... - Helena falou, arrancando de mim uma curiosidade anormal - Eu carreguei um bebê morto por 5 meses. O médico disse que... Se eu engravidasse outra vez, quem iria morrer seria eu.

- Sinto muito, Helena... - Sussurrei olhando para seu rosto avermelhado, que forçava a segurar um lágrima solitária.

- Está tudo bem. - Sorriu - Eu quero ser mãe um dia, quero poder restaurar toda felicidade que um dia foi presente em minha família. Quando for a hora, irei adotar um bebê.

- Você será uma mãe incrível!

- Você também. - retribuiu as palavras na mesma intensidade, desviando o olhar para mim rapidamente. - E o Alessandro... Tenho certeza que iria amar.

- Por que acha isso?

- Ele iria dar ao filho o amor verdadeiro que nunca recebeu de nosso pai. - Opinou, não me convencendo nem um pouco.

- O que quer dizer com isso?

- Nosso pai era um homem mau, Valentina. Causou muita dor em todos nós. Minha mãe era uma dependente emocional, que se suicidou quando estava grávida de mim... - explicou, fazendo-me arregalar os olhos em espanto.

Em Suas MãosOnde histórias criam vida. Descubra agora