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Valentina Smuck

Era inexplicável a sensação que me causou ver minha mãe sendo carregada em total desespero, seu corpo estava mole, a cabeça tombada em direção ao chão. Nunca a imaginei daquela maneira.

Nem mesmo desejei a ver assim.

E eu, estava incapaz de escutar. Era como se tudo ao meu redor estivesse em silêncio, e só era possível ouvir meu coração palpitar rapidamente, em total desespero.
Minha garganta estava travada, nenhuma palavra foi dita por mim, não conseguia.
E também, não era o suficiente, pois, em meu rosto, registrava todo meu espanto.

- Ela está respirando - Uma médica falou agitada e, aquilo causou-me um alívio.

Mesmo adicionando o fato de ter sangue sendo expulso do corpo de minha mãe, e gotejando violentamente no chão branco.
Eu fiquei leve ao receber a notícia. Talvez o remorso deixou de corroer minha alma.

O hospital estava em um constante movimento, todos preocupados em salvar uma vida.

Meus olhos eram capazes de enxergar minha mãe, apenas. Porém, não por muito tempo. Uma cortina grossa e branca foi puxada, escondendo quaisquer tipo de movimento ao seu interior.

- Olhe para mim. - Alessandro estava em minha frente, segundo após eu ser impedida de ver minha mãe, se não fosse pelas suas mãos segurando em meu rosto frágil, eu jamais olharia para ele.

Uma bomba relógio desarmou em minha alma, olhar para Alessandro foi o suficiente para descarregar toda água quente que descia de meus olhos.

Não contive uma lágrima selvagens que escorriam pelas minhas bochechas quentes e coradas.

- Está doendo muito! - Em meio aos soluços falei, encostando a mão em meu peito.

Todo aquele ego em forma de vingança havia sido quebrado da pior maneira. Quando eu jurei detestar minha mãe, a dor da perda me atingiu como um tiro.

Mostrando para mim, que eu a amava, acima de qualquer error, eu me importava!
Eu não a odeio, apenas estou magoada.
E não canso de pensar, como poderia ser bom se tudo acontecesse diferente.
Se eu pudesse ter a chance de ter uma mãe verdadeira, um amor materno.

- Sinto muito. - Seus braços longos envolveram meu tronco. Meu cabelo foi afagado pela mão de Alessandro, enquanto minha cabeça dolorida pelo choro excessivo estava reclinada próximo ao seu ombro.

- Ela é minha única família! - Minha voz saiu falha, num sussurro. Mas o bastante para que Alessandro ouvisse, e erguesse meu rosto tocando em meu queixo.

- A única que você reconhece como uma. - Corrigiu-me, e mesmo sem aderir certas informações acenei com a cabeça concordando. - Mas não tem apenas ela.

Meus lábios molhados pela lágrima foram tomados pelos lábios quentes de Alessandro, que despertou um sentimento traiçoeiro e irreconhecível em mim.
Logo, sua testa se juntou á minha, e meus cabelos ondulados foram afagados por sua mão firme.

Foram pequenos segundos, que desejei ser eternos. Mas não tive sorte.

Seu aparelho comunicador transmitiu um som, indicando uma conexão.
Alessandro precisou se afastar, e eu o olhando de longe percebi que algo não estava certo. Ele conversava com alguém de forma calculada, se esforçando para não expressar sua raiva no rosto.
Tirei como conclusão quando voltou ao meu encontro e disse:
- Preciso resolver um imprevisto! Pode aguardar Helena?

Em Suas MãosOnde histórias criam vida. Descubra agora