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Valentina Smuck

O único barulho que preenchia o quarto era o som da escova em contato com meus fios de cabelo.
Ao tomar banho, me certifiquei de os lavar.
Alessandro estava vestido, havia entrado no banho junto a mim. Observava algo em suas papeladas enquanto se mantinha sentado no sofá. Pegou sua xícara de chá e a encostou em seus lábios, sem desviar o olhar das informações contidas no papel.

O sol se forçava a se manifestar entre as nuvens, mas o dia ainda estava começando. E isso me fez lembrar que Alessandro e eu não dormimos naquela noite.

O reflexo que era possível enxergar no espelho, era o do meu corpo. Que por ventura havia marcas vermelhas em pequenas partes expostas.

Soltei o ar de meus pulmões bruscamente, a fim de liberar a frustração de minha alma.

__ Enquanto eu gemia para Alessandro e estava em seus braços, esqueci-me completamente do motivo de tanta fúria entre nós.__

Depositei minha escova em cima da cômoda lentamente, buscando coragem para o confrontar outra vez.
Talvez eu estava me precipitado, e arrumando desculpas para odiá-lo.
Girei meu corpo, e abaixei minha fronte pressionando meus olhos. Meus pés me levaram até Alessandro, que não se incomodou com minha presença, continuou concentrado.

Parecia muito preocupado com o que lia, ate mesmo nervoso. Seus olhos rolavam de acordo com sua leitura,mas ao reparar que me posicionava á sua frente e erguia minha cabeça em sua direção, Alessandro suspirou prolongado com os olhos fechados, e os abriu com o olhar sobre mim na medida em que abaixava aqueles papéis .

Seu semblante entregava toda sua impaciência, o que era normal para quem convivia com tal. Sucumbi de imediato, a missão era não atrapalha-lo, mas fracassei antes mesmo de dirigir uma palavra. Fiz uma pequena menção em me retirar, mas Alessandro reprovou em palavras aquele gesto.

- Diga! O que precisa? - Perguntou-me. Em seu tom de voz percebi que ele se esforçava para usar a educação.

- Não queria incomodar! - Confessei.

- Se já incomodou, continue.

Levei os fios de cabelo que se localizava próximo do meu rosto, para atrás da orelha, procurando argumentos. Alessandro acompanhou cada movimento sem esboçar um emoção em seu rosto.

- O que estava querendo dizer ao me perguntar sobre "Nunca mais ver sua amiga Nádia" naquela manhã... - Falei tentando refrescar a memória de Alessandro. Embora eu não quisesse, durante o banho aquela frase de dias atrás não saia de meus pensamentos .

- Eu iria matá-la, por você.

- O que? - Minha voz saiu falha pela tamanha surpresa.

- Se alguém atacar um membro da família, seja moralmente ou fisicamente, deverá pagar com a própria vida.

- Você iria matar Nádia?

- Se quiser, posso matá-la hoje.

- O que há de errado com você? - O repreendi com o olhar - Iria tirar a vida de Nádia por um simples erro? Sem se importar com minha dor!?

Alessandro rolou os olhos com minhas respostas afiadas. Se levantou cautelosamente e deu passos em minha direção. Seu corpo quente e esculpido ficou próximo ao meu, Alessandro passou seus dedos no topo de minha cabeça simulando um carinho, mas acabou me deixando ainda mais tensa com seu olhar sobre mim.

Em Suas MãosOnde histórias criam vida. Descubra agora