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A casa permanecia calma e reconfortante como me lembrava, os tons suaves e neutros a deixava com um sutil e elegante. Morar ali deveria ser bom, ao menos com uma família grande. O que não era o caso de Owen que a herdara do pai. 

Me aconcheguei no sofá  marrom-madeira e ele sentou-se na poltrona da mesma cor, do lado esquerdo do sofá e localizada entre o braço dos dois sofás. Owen suspirou quando jogou a cabeça para trás e uma perna sobre o braço da poltrona. Atirei uma almofada para ele que a pegou com precisão, ele tinha um bom reflexo.

— Agora me conte tudo. — disse, de olhos fechados.

— Não sei se irá entender o que estou sentindo. — comentei, emburrada.

O vaso de vidro com flores recém-trocadas chamava minha atenção para os detalhes nele talhado.

— Conte eu direi se compreendi ou não.

—  Estou cansada.

— Ah, bom, todos estamos, Aimee.

— Não é isso, estou cansada de tudo isso. — Abanei as mãos indicando fosse-lá o que.

Ele abriu um olho, preguiçosamente.

— Da minha casa ou da minha companhia?

— Seu idiota eu disse que não iria entender.

Fiquei de pé; as mãos na cintura. Precisava desabafar, me livrar do que estava preso na garganta como uma ânsia de vomito.

— Fale direito, então! — reclamou, abrindo o outro olho.

— É que... E-eu estou cansada de todos os dias serem sempre iguais, entende? - Concordou com a cabeça, uma sobrancelha arqueada em curiosidade. Ele sempre se preparava para o pior, não importasse qual fosse a ocasião, Owen estaria em alerta. — Todos os dias é a mesma coisa, tudo é igual, nada muda, ao menos para mim. Sinto como se fosse ser assim para sempre, como se nunca fosse sair da mansão e tão pouco me sentir satisfeita com a vida que levo. Estou fadada a isso? É o meu destino estar presa a rotina entediante de ver todos mudarem ao redor e eu permanecer do mesmo jeito? Uma hora os moveis precisam ser mudados de lugar para trazer um novo aspecto e um ar diferente ao ambiente, é tedioso tudo ser sempre a mesma coisa; é monótono.

— Oras nunca havia reclamado tanto. — observou, sentando ereto.

— É eu não reclamei, porque aceitava tudo o que escolhessem para mim. Declan escolheu, Emogen escolheu e até mesmo Kirsty escolheu! Mas eu, porque só posso observar todos crescendo, indo e vindo, sorrindo e chorando, feliz e triste, quando eu apenas sou a telespectadora; quando vivo por meio dos outros. Eu estou viva e também quero aproveitar a minha existência, senão para existo! — Desabei no sofá com as mãos na cabeça.

— Aimee eu gostaria de dizer: o que quer fazer, diga e eu  ajudarei. Mas pelo que imagino, conhecendo-a, não é mudar os moveis ou cortar o cabelo que está querendo.

— Não, não é isso. - concordei.

— Deveria se acalmar e repensar... Sabe, ser mais paciente.

O encarei, um olhar incredulo e cínico.

— Está brincando comigo! Eu esperei a vida toda e continuo esperando, e nada acontece.

— Você pode querer tudo agora, no entando a vida é calma quando se trata de nos dar aquilo que queremos.Já ouvir falar de "tudo no seu tempo"?

— Cale a boca, Owen.

— Só estou tentando apaziguar os seus pensamentos e trazer mais clareza. Talvez não seja isso que esteja querendo, talvez apenas queira trocar os moveis do quarto.

Intended - Destinados a partirOnde histórias criam vida. Descubra agora