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Era para ser somente um dia, depois mais um e mais e isso se prolongou por mais do que imaginava.

Um mês.

E fazia mais de um mês que Owen estava no futuro. Mas eu não pensava nele, não até a primeira bebida. Fui a primeira balada da minha vida, foi incrível, legal e estranho.

Nós conversamos por horas, a música alta, casais flertando e bebidas brilhando nos copos. As luzes no teto me incomodou a princípio, depois de um tempo me acostumei.

Eu dancei, dancei sabendo que nada poderia me deter e que Owen ficaria furioso se me visse. A primeira balada foi uma experiência eletrizante. Como um vício, uma bebida que não conseguimos parar de beber quando tivemos um dia ruim, eu as encontrava depois do trabalho no mesmo lugar.

A primeira noite foi só um copo, vomitei antes de conseguir tomar outro. Na segunda já foi menos ruim e assim sucessivamente até chegar a quatro taças de vinho. Elas me ofereciam diversas bebidas, mas a que eu consegui solver com doçura era o vinho — de todos os tipos.

Cada dia chegava mais tarde, cada dia mais bêbada, cada dia mais distante de Owen. Talvez fosse intencional, fosse o que queria enquanto bebia o vinho. Esperava esquecer, apagar minhas linhas de raciocínio, o que meu coração insistia em sussurrar para mim todas às vezes que estávamos juntos.

Elas me ensinaram a dirigir, sempre me deixavam voltar para casa dirigindo, mesmo se mal conseguisse me aguentar em pé. Elas não se importavam.

Novamente eu me encontrava ali, sentada numa das banquetas do bar, o som alto na pista de dança, minhas companheiras de balada perdidas por aí. O que eu fazia ali, afinal?

Porque me reduzia a tanto? A que tamanho eu me diminui? Um rato ou uma barata? Quem sabe uma mosca.

Minha mente voltava a se perder em pensamentos e perguntas, meu coração batendo forte, o medo e a preocupação me deixando nervosa a ponto de as veias do olho esquerda ficarem visíveis.

A bebida me acalmava amortecendo meu corpo, blindando meu coração e embaralhando minha mente. Owen não passava de um borrão, uma carta perdida.

Embora quanto mais eu tentasse o esquecer, mais me lembrava dele e muito mais chamava o seu nome. Seu nome eram as únicas letras que saiam de minha boca sem arrastar.

Eu bebia para o esquecer. Para não me permitir ser iludida outra vez. Ansiava que tudo não passasse de um engano, mas meus sentimentos permaneciam os mesmos para meu desespero.

Contudo, meu estômago não aguentava mais do que quatro taças. Então eu precisava chorar para aliviar minha dor. Depois de anos tentando me esquivar, tentando não me ferir ou o ferir ainda mais, lá me encontrava perdida em seu sorriso e na sua solidão.

Querendo descobrir um espaço em sua vida para me encaixar eternamente. Eu fiz o mesmo com Mitchell e ele me expulsou de sua vida como se fosse um carrapato qualquer.

Owen era diferente, foi educado com gentileza e cavalheirismo, bem diferente de Mitchell que mesmo sendo príncipe de tudo o que lhe foi ensinado somente o ego e orgulho o caracterizavam.

Mas, não Owen. Ele tinha que ser gentil, meigo, atencioso e um cavalheiro que só não havia conquistado o título. Ele cuidou de mim quando tudo o que eu queria era desaparecer.

No dia em que fugi a cavalo na tempestade em busca da minha morte, na esperança de que um raio me atingisse fatalmente, ele surgiu em seu cavalo elegante como um cavalheiro de verdade. Sua postura e tudo mais me fez o reconhecer de imediato.

Suas palavras, jamais consegui as esquecer. E de tudo o que eu tinha para lembrar em meio a embriaguez, aquela frase não me permitia esquece-lo.

— Não seja egoísta! Não sabe o quanto me destrói cada vez que tenta se destruir.

Intended - Destinados a partirOnde histórias criam vida. Descubra agora