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— Você pode ficar aqui. — Candy afirmou, abraçada a uma almofada. — Com a condição de manter tudo limpo.

— E o Eron?

— Vou pensar no que diremos a ele.

— Tem certeza que posso ficar aqui?

— Sim. Desde que Kirsty nos deixou para viver seu romance no século vinte, a casa ficou aqui sem ninguém. Eu tenho a minha e, apenas não quero, me desfazer dessa. Quem sabe não seja uma dessas coisas do destino "prescrito". Afinal se eu tivesse vendido você não teria onde ficar, não que não pudesse ficar na minha casa, mas você sabe como é o Eron. — comentou.

— Ah, estou tão cansada.

Candy sorriu meigamente.

— Vá tomar um banho, as roupas estão no mesmo lugar que você deixou. Vou pedir uma pizza para você e depois vou para casa, ok? — disse, mexendo no celular.

— Tudo bem.

— Não esqueça de atender o motoboy, deixarei dinheiro no balcão da cozinha.

— Hum.

Vrimmm... Vrimmm!!

O celular começou a tocar assim que ia colocá-lo na orelha. Pelo modo em que seus olhos saltaram surpreso a pessoa do outro lado era ninguém menos que...

— Eron, amore mio!

Mordi os lábios para conter a risada. Eron farejava melhor do que um cão. Não conseguia entender muito sobre o que falavam, conversavam em italiano, mas podia ler suas expressões.

E elas diziam uma única coisinha: Eron sabia que algo havia acontecido, senão, inacreditavelmente, que eu estava ali.

Ela desligou, soltou um suspiro, olhando para mim. Rindo histérica jogou o corpo para trás e afundou nas almofadas.

— Ele nós viu na cidade. Ou seja, é impossível escapar do meu marido. Isso até que é engraçado, mesmo sem querer, ele sempre acaba descobrindo! Bem, ao menos ele já sabe... No entanto... — Suas mechas ruivas balançaram como chamas sendo sopradas pelo vento, ao balançar a cabeça.

— O que ele disse? — perguntei, curiosa, porque Eron era uma pessoa sem papas na língua e muito divertido.

Apesar de suas palavras geralmente serem o que pensava, ele ainda era engraçado, já que geralmente mulheres tinham tal qualidade.

— Vindo dele não é nada que não esperassemos... Quer que eu lhe arranje um emprego.

Saltei do sofá como um grilo feliz.

— Um emprego? Sério?

Balançou a cabeça positivamente.

— Uau... Vou receber meu dinheiro, assim como meu irmão e Owen recebem o deles?

Assentiu com a cabeça novamente.

— Ahhh! — Virei-me para ela que ria e cai sentando no sofá quando a realidade pesou sobre mim como um elegante. — Como vão contratar alguém que não existe neste século?

— Não se preocupe, o amiguinho da minha irmã vai resolver isso pra gente.

Um trabalho.

Meu próprio dinheiro.

Minha liberdade e independência!

Parecia um sonho e eu não queria acordar.

— Certo, certo.

— Você está realmente feliz por Eron ter mandando, literalmente, que eu lhe arranjasse um emprego?

— Sim.

— Porque?

— O que eu mais queria na vida era ser independente.

— Entendi. No século vinte isso não era muito fácil, né?

— De modo algum, não com meu irmão e Owen em meu encalço.

— Imagino minha irmã tendo que lidar com esse detalhe em especial.

— No início ela era muito rebelde e constantemente contrariava meu irmão, mas com o tempo passou a se encaixar perfeitamente. — Como se tivesse sido feita para viver ali, quis acrescentar.

— Bem típico dela.

— Imagino que amanhã será um dia bem difícil.

— Sim. Será o primeiro dia que acordará no século vinte sozinha. E este onde teremos que andar e falar muito ao mesmo tempo que teremos de ser invisíveis. Eron ficará louco. — detalhou, guardando o celular.

— Com toda certeza.

— Bem, mandei uma mensagem pedindo uma pizza e um refrigerante para você, então já vou indo. Qualquer coisa me ligue. — falou, ficando de pé. — Tem certeza que vai ficar bem, aqui, sozinha?

— Sim. O que eu mais queria na vida está se realizando. Não sabe o quanto desejei ter a minha vida, escolher a que horas fazer as refeições; o que comer; como me vestir; aonde ir e que horas voltar; ser dona do meu tempo e de minhas escolhas. As portas estão se abrindo afinal. — comentei, os olhos ficando marejados.

— Todos temos esse momento de desespero antes de conseguir subir mais um degrau rumo ao futuro. Você ficará bem. — Me abraçou, fazendo o que eu mais precisava naquele momento. Iniciativa e um toque de incentivo. — Vou indo.

— Ok. Lhe acompanho até a porta.

— Você é tão cortês, educada e gentil, Amy.

— Entenderei como um elogio.

— É certo que sim. Ah, veja estou falando como você nos primeiros dias no futuro.

— Meu pai dizia que eu poderia, facilmente, ser uma influenciadora.

— Percebi. E sabe, acho que vou encontrar uma vaga perfeita para você na nossa empresa.

— Estou ansiosa por isso.

Seguimos para a porta de entrada onde ela parou como uma mãe preocupada, ou pensando se era o certo deixar-me sozinha.

— Fique bem e até amanhã. — Se despidiu com um beijo na bochecha e um abraço.

Menei a cabeça fechando a porta assim que ela entrou no carro e buzinou.

De costas passei os olhos sobre todos os móveis. Era a primeira vez na vida que ficava sozinha, somente eu e nada mais. Uma contagiante onda elétrica passou por minhas veias como um trem a todo vapor.

Meus pelos arrepiaram e as pontas dos dedos formigaram.

— Sozinha! Sozinha!

Num piscar de olhos corria por todos os lados, conferindo cada cômodo da minha casa nova, ao menos, o meu novo lar por um tempo. A euforia me deixando cada vez mais elétrica.

Depois de pular no sofá, jogar almofadas de um lado para outro, subir e descer as escadas, se jogar na cama, chorar no banheiro, dançar embaixo do chuveiro, chorar mais uma vez, me vesti e sentei encolhida na cama.

Chorando de novo comecei a perceber que estar sozinha poderia ser legal nos primeiros minutos ou horas de viver o novo, mas depois... Depois a solidão dos cômodos vazios e da falta de pessoas com que estava acostumada a viver, trazia amargura e medo.

Não existia Kirsty apesar de ali ter sido sua casa um dia, não existia Declan embora ainda houvesse muitas fotos dele na biblioteca espalhadas sobre os livros, não existia Emogen e muito menos, infelizmente, meu único amigo e companheiro da solidão, Owen.

A única coisa que os fazia presentes eram o relógio de Owen que eu segurava na mão como se fosse um diamante precioso. Em lágrimas o aproximei dos lábios e depositei um beijo suave sobre ele.

O gosto de metal, similar ao de sangue, fez meu estômago borbulhar e revirar. Deitei nostálgica de lado.

A respiração irregular se apaziguando conforme o choro silencioso cansava meu corpo e conduzia-me ao sono.

Foi a primeira vez que sonhei com Owen, e foi um sonho acolhedor, quase senti sua presença, senão a sua voz chamando meu nome:

Aimee!

Intended - Destinados a partirOnde histórias criam vida. Descubra agora