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Owen

Ela dormiu, que inacreditável. Pelo visto jamais perderia aquele costume. Revirei os olhos me levantando. A noite estava tão linda como raramente acontecia, justo naquele dia Aimée adormecera antes de ver todas as estrelas surgirem e a lua redonda iluminar a escuridão infinita que se localizava acima de nós.

Passei os braços por baixo de suas costas, ao me inclinar para baixo, as telhas sujas e frias machucaram levemente as minhas mãos, quando levantei o corpo dela para cima,, pegando-a no colo. 

—  Argh, que peso! — exclamei, surpreso.

Aimée costumava ser leve como uma pluma, no entanto, agora pesava como um saco de batatas. Andara comendo muito no tempo em que esteve em Roma, este que ainda me faz perder o sono.

Quando soube que elas havia "viajado", procurei saber que as tinha levado até a Itália, e, inesperadamente, ninguém sabia. Logo que, ninguém as viu se preparando para a viagem e o quarto de Aimée tinha roupas demais no armário. E ao chegar da minha própria viagem,  não pude deixar de notar que não existiam malas visíveis ou um funcionários da casa levando objetos parecidos.

Um mistério envolvia a esposa de meu velho amigo, que passara a ser um segredo guardado por mais de uma pessoa naquela casa, este que eu descobriria custe o que custar.

—  Como vou leva-la? 

As telhas rangiam preocupantemente a cada passo em direção a janela deixada aberta. Se fosse a anos atrás ou mesmo meses, eu a teria acordado e a obrigado a descer os degraus e me esperar na passagem, mas Aimée dormia como uma pedra um tanto quanto pesada. E conhecendo-a não acordaria nem que alguém explodisse uma bomba perto de nós.

—  Você só me dá trabalho, Amy. 

Seus cabelos soltos balançavam de um lado para o outro similar a pendulo do antigo relógio de parede que enfeitava a sala de minha casa, conforme eu me equilibrava sobre as telhas para não quebrar nenhuma. Segurei o ar e o soltei numa lufada, Aimée pesava bastante para um mulher aparentemente magra. Ou, eu estava muito cansado.

Revirei os olhos, não ia dar certo, de modo algum. A chacoalhei como uma criança no colo da mãe, ela fugou, no entanto, nem os olhos abriu. 

—  Aimée acorde, não posso leva-lá hoje. Vamos lá acorde seu saco de batatas! — A chacoalhei mais uma vez.

Nada.

—  Acorde! — falei, alto, em seu ouvido.

Ela se remexeu, abriu um olho depois o outro.

—  Me deixe dormir mais um pouco... — reclamou, descaradamente.

—  Nem pensar.

A coloquei de pé, ela vacilou e caiu para trás atingindo meu peito. A envolvi com os braços ao redor de seu ombro e a obriguei a andar. Os passos pausadamente, Aimée andava e parava. A janela tão perto, meu coração inflou de alivio. 

Então, como eu deveria ter previsto, logo que era típico de Aimée faze-lo, ela parou e caiu no sono atirando o corpo para frente. Ambos caímos; eu ao menos consegui cair de joelhos e segura-la antes que atingisse a telha e machucasse o rosto. O barulho foi alto e se demorássemos mais em poucos minutos um dos guardas estaria vistoriando o telhado.

Fiquei de pé obrigando-a acordar novamente. A fiz subir em minhas costas. Suas mãos frias cercaram meu pescoço e sua cabeça encaixou em meu ombro, segurei suas pernas. Era estranho tê-la muito próxima de mim, todas as vezes. O seu perfume de eucalipto me deixava extasiado, Aimée era delicada e severa; uma joia bruta ainda sendo lapidada. Eu gostaria - sempre quis na verdade - ser a corrente que carregaria aquela preciosa e belíssima pedra.

Intended - Destinados a partirOnde histórias criam vida. Descubra agora