Owen
Ao chegar na mansão a primeira coisa que fiz foi subir para o quarto de Aimee. A voracidade dos acontecimentos com tudo o que escutei na noite anterior me faziam questionar ate mesmo minhas próprias lembranças.
A porta permanecia aberta, o quarto intacto como ela havia deixado. No entanto, vazio e escuro, nada do brilho e da alegria da radiante Aimee.
Meu coração se corroeu como traça roendo livros e roupas. Para onde ela poderia ter ido, onde deveria estar?
Permaneci na porta parado olhando o interior do cômodo com pesar e náuseas. Aimee sempre estava na penteadeira lendo ou na varanda pintando uma nova tela.
Muitas vezes ficava sentada no baú ao pé da cama trançando os cabelos e falando com Emogen, outras lendo deitada em meio aos travesseiros.
Sua existência naquela casa era despercebida, as vezes, logo que Amy era uma pessoa discreta e silenciosa.
Mas eu a notava, enquanto todos se distraiam com outros assuntos, eu a notava saindo da biblioteca; subindo e descendo a escada; saindo e entrando nas passagens secretas; escondida no telhado olhando as estrelas; escapando para minha casa; na cozinha saboreando sobremesas; no estábulo acariciando os cavalos e falando sozinha; sorrindo para mim todas as vezes em que me pegava olhando-a; balançando a saia do vestido; deixando seu perfume para trás; rindo baixinho de seus pensamentos solitários; aproveitando sua própria presença enquanto eu não me juntava a ela.
Aimee Munteanu era uma pessoa solitária como orvalho e um raio de sol perdido dos outros, desde criança não se encaixava perfeitamente naquele mundo.
Ela queria ser mais, toda a vida sempre quis. Poderia descreve-la como o tipo de mulher que a independência e a solidão não eram defeitos, eram o que a tornavam ela.
Apesar de constantemente ser aquela que vivia nas sombras como uma tela de pintura esquecida.
Lembro com muito alegria do dia em que nos conhecemos, do momento em que fiquei confuso com seus olhos e atordoado com seu sorriso.
***
Os lobos vinham passo a passo em minha direção como se disse por meio de nossos olhares atentos um ao outro - um predador e um presa - que iria me dar a chance de correr antes de me devorar.
A típica caça na qual eu com certeza cairia em algum momento e seria atacado. Ter me perdido de Declan no bosque de sua casa era a última coisa que eu queria na vida.
Mas, sendo distraído e desatento o perdi de vista. Inicialmente, depois de muito gritar seu nome, não fiquei apavorado até o momento que um uivo e uma agitação estranha nas folhas do chão me fizeram paralisar.
As costas e as mãos encostando no tronco da árvore alta. Lágrimas prestes a saltarem dos olhos em um grito silencioso de socorro.
Um dos lobos avançou ainda mais, minhas pernas falhando. Der repente um vulto pequeno e esvoaçante saltou detras de um arbusto. Parecendo uma pequena fada atirou, ousadamente, um pedra na cabeça de um dos lobos.
Este virou a cabeça em sua direção, o nariz torcendo ao mostrar os dentes e rosnar. Ela atirou outra pedra ,e na distração do animal, correu até mim.
Ainda perplexo com tudo o que aconteceu, senti sua mãezinha agarrar a minha e me puxar para uma corrida eletrizante. Os lobos procurando por nós.
Suas madeixas loiras flutuavam como raios do sol através das folhas das árvores. Acabamos caindo e no reflexo de proteção, para que os lobos não pegassem ela, estendi o braço como um escudo.
Os dentes afiados do animal feroz atingiram meu braço com brutalidade. Mordi os lábios para não gritar, as lágrimas caindo sem permissão. Ele tentou me afastar e foi quando Declan surgiu de algum canto do nada com um enorme pedaço de madeira.
Bateu nas costas do que mordeu meu braço este que uivou e saiu correndo. O outro avançou em Declan que atingiu o nariz deste com força o suficiente para que o animal saísse com o rabo entre as pernas atrás do outro.
- Temos que ir antes que outros lobos apareçam.
Declan percebendo a ferida em meu braço ficou pálido. Mas algo mais surpreendente o fez olhar para o que estava atrás de mim agarrada a minha blusa.
- O que eu falei sobre me seguir Aimee!
Então ela era Aimee a irmã mais nova dele. Mesmo sendo amigos há um bom tempo poucas vezes eu havia visto a garotinha, ela geralmente estava com a mãe.
- Venha.
A garotinha deu um sorriso amarelo e sua falta de alguns dentes me fez sorrir gentilmente. Ela ainda segurava minha mão, percebi, quando me abrigou a ficar de pé e subir na árvore mais próxima.
Sendo a última a subir no galho mais alto que conseguíamos, já que eu estava com o braço ferido, sentou ao meu lado direito com as pernas uma de cada lado do galho.
Declan, atras de mim, olhava para baixo sentado com uma perna recolhida para cima e o cotovelo apoiado sobre o joelho desta.
- Muito obrigada por me proteger do lobo. Eu tentei salva-lo, mas imagino que não tenha sido como eu planejei. - Aimee falou, a voz calma e doce.
Meus olhos estavam focados no sangue que gotejava da ferida profunda. Seus olhos claros escorregaram até meu braço e levantando as sobrancelhas como se uma ideia lhe viesse a mente der repente, rasgou a barra do belíssimo vestido esverdeado.
O tecido rasgado enrolou em meu braço o enfaixando. Ela era muito cuidadosa e atenciosa, além de nada comum. Aimee se arriscou para me ajudar e aquilo me atingiu de uma maneira desconhecida.
Quando voltou a sorrir para mim meu coração bateu forte e minhas bochechas queimaram. Desviei o olhar com o coração batendo rápido.
- Obrigado. - agradeci, apenas.
***
Sorrindo com a lembrança de um momento tão especial, o dia em que encontrei o amor de minha vida toda, não notei que alguem agora me fazia companhia.
- Oras, oras, que sorriso mais largo, Owen Sesh! - zombou uma voz rouca e feroz. - Posso saber o que aconteceu neste quarto para que sorria tão largamente com a lembrança?!
Virei-me recolhendo o sorriso e meus sentimentos que escaparam por alguns segundos, encontrando Declan abatido. Esperava um homem furioso por me ver ali, mas me deparei com um homem desolado.
- Aimee é uma lembrança suficiente para fazer qualquer um sorrir.
- Sei... - Tocou meu ombro olhando para dentro do quarto. - Se está aqui é porque veio atrás de resposta. Minha esposa está nos esperando na sala secreta. E, por favor, não grite porque os meninos estão dormindo.
Assenti em silêncio seguindo rumo ao que seria uma das minhas maiores aventuras: o desconhecido traçado especialmente pelo manipulador destino.
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Intended - Destinados a partir
RomanceHá pessoas que nasceram para ser celebridades outras para serem anônimas, e há as que nasceram no século errado. Aimee Munteanu já experimentou muitas coisas em sua curta existência, mas jamais imaginou que o seu lugar não fosse na Romênia e muito...