capítulo 36: mantenha distância

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Carter

Acho irônico que a casa de Cailyn seja vizinha a de Geórgia. São praticamente grudadas e eu me xingo por não ter percebido isso antes.

Quando finalmente alcanço a casa da garota, sou proibido de entrar. Isso é suficiente pra me fazer deduzir que Marilyn está lá dentro. Acabo desistindo após implorar de todas as formas e sigo para casa.

Dia seguinte, estou seguindo para a saída da escola quando estanco no lugar.

Marilyn fecha seu armário e está prestes a se afastar quando eu me aproximo dela. Não contenho o sorriso de vitória e praticamente corro pelo corredor.

Empurro um garoto distraído do caminho e me enfio na frente dela, fazendo-a parar com os olhos surpresos.

— Marilyn, finalmente. Vamos para casa? Eu te levo e...

— Eu não vou! — dispara, me interrompendo.

Meu sorriso morre.

— Por que não? Você não entendeu o que estava acontecendo aquele dia.

— Entendi perfeitamente.

— Pelo menos volta pra casa. Até entendo se você não quiser olhar na minha cara, mas volta.

Ela balança a cabeça. Parece confusa por eu estar pedindo algo assim. Confesso que a entendo. Não agi muito bem com ela nos últimos meses, então compreendo sua reação.

— Eu não estou pronta pra voltar, e você tem que entender. Me deixa em paz, Carter. Pelo bem da sua filha, me deixa em paz. — diz antes de desviar para o outro lado e se afastar pelo corredor.

Estou prestes a segui-la, então penso nas palavras de Trenton.

Às vezes garotas só precisam de espaço.

Ele está certo, mas, no meu caso, está sendo difícil ficar longe de Marilyn. Está sendo uma tortura, na verdade.

***


Duas semanas depois, meu estado já pode ser comparado à de um dependente químico. Sigo para a escola por obrigação e nem na aula consigo me concentrar.

É uma tortura ver Marilyn pelos corredores ou no refeitório sem poder me aproximar. Até tentei várias vezes, mas ela sempre tem uma palavra ácida e está resoluta sobre me manter à distância.

Minha mãe até tentou me consolar, assim como meu irmão, mas isso não adiantava de nada. Eu estava na porra de um buraco e não conseguia achar uma maneira de sair.

***

Marilyn

Após a escola, decido ir até o mercadinho da esquina, comprar alguns materiais para o trabalho de história. Ele é individual e preciso entregá-lo na próxima semana, em um cartaz bem elaborado.

Sigo por uma calçada, observando o fluxo ameno de pessoas naquele horário. Ainda não são 18h, então não preciso ter pressa. Desde que vim para a casa de Cailyn, tenho aprendido a circular por aqui, o que diminuiu o risco de eu me perder.

Suspiro, sentindo a brisa suave contra meu rosto. Só então me dou conta de que um carro escuro para ao meu lado, e ouço o barulho da porta se abrindo.

Ignorando o alerta em minha cabeça, eu me viro.

Abro um sorriso surpreso logo depois.

— Will?

Ele está recostado contra seu carro, observando-me sem disfarçar o sorriso surpreso. Seu olhar desce por meu corpo, coberto por um vestido longo, até minha barriga. Seu olhar fica ainda mais surpreso. Minha barriga cresceu consideravelmente desde a última vez que nos vimos.

— Caramba, Marilyn. Que baita coincidência eu te encontrar outra vez. — ele segue na minha direção e trocamos um abraço.

— O que está fazendo aqui? Você não estava em outra cidade?

— Na verdade, eu aproveitei que hoje não ia haver aula em minha escola e vim dar um pulinho aqui na casa da minha tia.

— Então ela mora aqui perto?

Ele balança a cabeça, sorrindo.

— Sim, eu estava dando uma volta na quadra e ti vi. Pensei até que era uma miragem. — diz. — E você? Mora aqui perto?

— Não, não moro aqui. Só estou passando uns dias na casa de uma amiga.

— Entendo. — ele enfia as mãos no bolso da calça. — Quando nos encontramos naquela loja há um tempo, não peguei seu número de telefone. Aquele cara que estava com você não facilitou.

— Realmente.

— Ele é seu namorado, né?

Decido afastar Carter de meus pensamentos assim que ele tenta se enfiar na minha cabeça.

— Não. Só tivemos um envolvimento. Ele só é o pai do meu bebê. — coloco as mãos sobre minha barriga.

— Ah... — ele enfia a mão entre os cabelos, então me encara. — Eu gostaria muito de continuar falando com você. Então se não for um incômodo, posso ficar com o seu número?

— Claro, Will. — sorrio. — Estou sem meu celular aqui, mas tenho o número decorado.

— Certo, pode falar. — ele pega o próprio celular do bolso. Informo o número e ele digita em sua tela, então torna a guardar o aparelho. — Obrigado, Marilyn. Minha cidade fica há poucas horas daqui, e podemos marcar de sair um dia desses, o que acha? Talvez no final de semana.

Hesito por um momento.

Nesse instante da minha vida, eu deveria estar fugindo de relacionamentos, mas Will é só um amigo e não custa nada aproveitar minha adolescência, o que não pude fazer muito nos últimos anos.

— Sim, Will. No final de semana está ótimo para mim. — murmuro.

— Você está indo para onde agora?

— Para o mercadinho na outra rua. Preciso comprar alguns materiais para um trabalho escolar.

— Eu te levo.

— Não precisa se incomodar.

— Não vai ser incômodo algum, sério. Depois ainda posso levá-la até sua casa.

— Tudo bem, obrigada. — sorrio, agradecida. Meus pés inchados realmente estavam me matando.

Sei que não deveria confiar, porque mal o conheço, mas Will parece ser uma boa pessoa.

— Disponha. — ele responde, então entramos no carro.

Durante a breve viagem e na volta, conheço um pouco sobre esse garoto. Ele tem irmãos, uma família aparentemente acolhedora e um cachorro. Além disso, gosta de Nirvana e de basebol.

Will é modesto ao descrever a família e a si mesmo. E quando me despeço, tenho um sorriso no rosto.

Foi realmente agradável conhecê-lo um pouco melhor.


***


Oi, galerinha.

Passei pra agradecer pelas leituras, votos e comentários incríveis que tenho recebido no decorrer desse livro. Vocês são simplesmente incríveis e especiais.

Que Deus abençoe vocês, meus amores.

Votem e comentem!

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