capítulo 20: sendo irracional

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Nem acredito que janeiro chegou

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Nem acredito que janeiro chegou.

A convivência com Carter está cada vez mais insuportável. Ele me humilha sempre que pode e eu o ignoro. Só quero evitar mais brigas, mas acho que não está funcionando. Carter fica enfurecido quando nem sequer lhe lanço um olhar.

Apesar disso, tive uma notícia muito boa. Agora Grace é minha responsável legal. A assistente social deu a informação e isso me animou bastante. Também já estou frequentando as sessões de terapia aos sábados de manhã e Rachel, minha psicóloga, é uma pessoa amável, que tem me ajudado bastante com relação ao trauma vivido com o meu pai.

Na escola, o bullying diminuiu consideravelmente. Quando eu disse que diminuiu, não quis dizer que acabou. Shelly ainda é um problema, mas parece me temer um pouco e não supera Sean Wallace. O garoto é realmente ruim e, quando Carter não está por perto, me chama de vadia e até de coisas piores. Ele tem me lançado olhares maliciosos e isso me assusta, por isso evito ficar sozinha nos corredores ou em qualquer outro lugar da escola.

Sobre minha barriga, ela está ganhando forma aos poucos. Notei que meus seios estão maiores e minha fome insaciável assim como a vontade de dormir o dia inteiro. Grace me explicou que isso é normal no meu estado, então não me preocupei.

No sábado, Carter desce as escadas quando estou assistindo uma série na TV com sua mãe e Alex. Encaro-o disfarçadamente. Ele está usando calça jeans, camiseta cinza de botões, de mangas longas, e tênis. Seu cabelo está molhado depois do banho e consigo sentir o cheiro de seu perfume masculino. Está lindo, mas é um idiota.

Desvio o olhar, incomodada.

Ele cumprimenta Grace e seu irmão antes de passar pela porta sem me lançar um olhar sequer.

— Ele vai pra onde? — Alex questiona, encarando a mãe.

— Uma festa na casa de um amigo. Ele me disse depois do jantar.

— Se Alyssa estiver lá, já prevejo a confusão.

— Espero que ela não esteja. Carter ficou muito mal depois do término. Pode fazer alguma besteira.

— Será?

— Carter às vezes é imprevisível. Conheço meu filho como a palma da minha mão.

Observo minhas unhas, fingindo não ouvir a conversa.

— Ei, Marilyn. Os enjoos diminuíram? — Grace me encara.

— Um pouco. — sorrio, recostando-me no sofá. — Mas o sono supera tudo.

— Marilyn chegou a dormir na sala de aula, mãe. O professor teve que chamar a atenção dela mais de cinco vezes. — Alex ri, balançando a cabeça. Sua mãe o acompanha, e acabo sorrindo ao me lembrar da cena na aula de história.

— Sinto falta dos velhos tempos, quando estava grávida de Carter e depois de você. — encara o filho com nostalgia. — Vocês me atormentaram durante os nove meses. — comenta nos fazendo rir.

— Algo me diz que Carter deu mais trabalho. — murmura Alex.

— Você tem razão. Ele chutava muito e não me deixava dormir. Além disso, era um bebê grande. O parto foi difícil, mas apesar das dificuldades, adorei cada momento da gravidez.

Fico imaginado como será com o meu bebê. Eu quero ter uma boa recordação, assim como Grace. Apesar de Carter me humilhar sempre que pode, a ideia de ser mãe já está formada em mim. Já estou me sentindo maravilhosamente bem com isso.


***


Desperto de madrugada com um barulho dentro do quarto.

Lanço um olhar rápido para a porta, encontrando Carter encostado no umbral.

Sinto um calafrio ao notar seu estado. Está bêbado, é obvio, e cheirando à vodca.

Enrugo o nariz, enjoada.

O quarto está meio escuro, sendo iluminado somente pela luz no corredor.

Carter continua me encarando em silêncio.

— O que você está fazendo aqui? — questiono em voz baixa.

— O quarto é meu. Posso vir a... droga. — parece ter se esquecido do que ia falar. — Eu... quer dizer, posso vir a hora que quiser.

Reviro os olhos.

— Eu sei que o quarto é seu, mas sua aparição aqui me deixou assustada.

Ele respira fundo, como se estivesse se controlando.

— Alyssa estava lá. Tentei chegar perto e discutimos. Acabei bebendo com os amigos e depois saí daquela maldita festa. — não sei por que ele tá me contando isso. Não faço ideia do motivo, mas agora ele parece perfeitamente lúcido. — Ela não quer ver minha cara. A garota que eu amo quer distância de mim.

Disfarço o quanto suas palavras me ferem. Ouvi-lo dizer que ama Alyssa, me deixa estranhamente mal. Eu não devia me sentir assim. Carter já me fez passar por muita coisa ruim. Ao invés de denunciar isso, forço um olhar de indiferença.

— Está tarde. Acho melhor você tomar um banho e dormir. — sussurro.

Não vou entrar em uma discussão com um cara bêbado. Conheço meus limites, desde que ganhei essa experiência com o meu pai.

Sem ligar para o que eu disse, Carter se aproxima da cama, deixando-me nervosa. Ele para ao lado dela, encarando-me com raiva no olhar. Seus punhos estão cerrados e sua carranca me assusta. Nunca o vi assim.

Estremeço e sento na cama, trazendo o lençol até o peito.

— A culpa é sua. — ele aponta um dedo para mim. — Desde que você apareceu, minha vida virou uma merda. Você é um lixo que precisa ser chutado.

— Não fala assim comigo. — fecho os olhos, tentando afastar as lágrimas.

Ele me ignora.

— Cala a boca. — ele segura meus ombros, sacudindo-me. Gemo de dor. — Eu odeio você... — me solta bruscamente e aponta minha barriga. — E odeio essa... coisa aí dentro. Vocês merecem morrer. Só assim eu vou ter paz. — berra no meu rosto, não ligando para minhas lágrimas de medo e dor.

Sinto uma pontada muito grande na parte baixa da minha barriga e grito de dor, contorcendo-me sobre a cama.

Carter se afasta, alarmado, então se dá conta do que fez. Ele leva as mãos à cabeça, atordoado.

— Meu bebê! Não posso perder meu bebê! — soluço, sentindo muita dor.

— Merda!

— Me ajuda. Não posso perder o meu bebê. — Carter se aproxima e me pega no colo, no mesmo instante que sua mãe e Alex entram no quarto.

— O que você fez com ela, Carter? — Grace grita, com os olhos preocupados.

Continuo sentindo dor e isso está me deixando muito assustada.

Ele ignora a mãe. — Preciso levá-la para o hospital.

— Eu dirijo. Você bebeu demais, cara. — diz Alex, nervoso.

— Vamos logo. Ela está passando muito mal. Coitadinha. — Grace chora e minha vista escurece aos poucos.

Ouço alguém me chamar, mas apago.


***


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