capítulo 3: olhar de pena

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M a r i l y n

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M a r i l y n

You say I am strong when I think I am weak

And You say I am held when I am falling short

And when I don't belong, You say I am Yours...

Retiro os fones de ouvido, atenta a qualquer barulho.

Nada.

Meu pai não está em casa, então me permito respirar de alívio.

Eu me empurro para fora da cama e sigo até a pequena cozinha. Reviro o armário, encontrando um pacote de macarrão e extrato de tomate. Não há mais nada.

Desde que recebo o dinheiro da pensão no banco, porque meu pai não se dignaria a ir, escondo parte dele em baixo do meu colchão, onde sei que ele não vai revistar. Dez por cento, pelo menos, porque meu pai tem um faro ótimo para perceber que parte do dinheiro está faltando, até mesmo caindo de bêbado. Se eu fizer isso discretamente, não passaremos fome.

Pena que não sobrou nada desse dinheiro. A luz já foi cortada a um bom tempo, não temos TV e tudo é regado à luz de velas. Engraçado? Nem um pouco. Meu celular jurássico carrego na escola, quando estou enfiada na biblioteca. Desde que tem vários interruptores, aproveito essa regalia.

Poucos minutos. O macarrão com molho precisa de pouco tempo para estar pronto, então puxo uma cadeira da mesa e me sento, encarando a madeira gasta da bancada da cozinha.

Acabo pensando no assunto do momento: a temporada de futebol americano em Columbus. A escola está fervendo com a primeira competição do Phoenix Leader, deste ano, no estádio da cidade. Segundo Pauline, uma garota do segundo ano, vai rolar uma festa depois na casa de Sean Wallace. É a tradição.

Eu não estarei lá.

Hoje é sábado e, como sempre, não tenho nada interessante para fazer. Casas de amigas para ir? Nem pensar. Meu pai me mataria antes.

Ouço um barulho.

Estremeço, então percebo que o macarrão está quase pronto.

E meu pai acabou de chegar.

Ele bate a porta com força lá fora; seus resmungos de descontentamento se aproximam de onde estou, e eu fico de pé.

David passa pela porta com os olhos vermelhos.

Congelo, então me viro completamente.

— Está fazendo o quê, Marilyn?

— O almoço. — murmuro em voz baixa; olhos fixos no carpete de madeira.

Não olhe para ele.

Não o encare.

Ele odeia isso.

— Me deixa ver essa merda. — meu pai se aproxima do fogão, fuçando o que tem na panela. Eu me afasto um pouco. — Macarrão? Onde você achou isso?

— No fundo do armário. Só tinha...

Ele empurra a panela para fora do fogão, derramando o nosso almoço no carpete.

Meus olhos ardem, mas reprimo o soluço.

— Você não vai comer. Merece morrer de fome. — diz, encarando-me com nojo.

Estou paralisada no meio da cozinha. Afasto os olhos do macarrão arruinado e o encaro.

— Era o nosso almoço. Não tem mais nada. — minha voz sai frustrada e estranha.

— Que se dane! — ele chega perto e dá um tapa estalado na minha nuca, fazendo-me cambalear. — Cala a porra da boca!

— Por que o senhor me odeia tanto? O que eu fiz? — disparo com os punhos cerrados na lateral do corpo.

Ele franze o cenho, pego de surpresa.

— Eu... Marilyn... — ele encara a comida no chão, então vira as costas e sai da cozinha, cambaleando.

Ouço o barulho da porta batendo segundos depois e o silêncio.

Apoio meus punhos contra a mesa, sentindo o tremor característico em meu corpo.

Eu me sinto patética quando as lágrimas descem pelo meu rosto, molhando minha camiseta branca.


***


Subo a pequena escadaria principal e me enfio no prédio, desviando de outros alunos antes de seguir pelos corredores. Enfio minha mochila no armário e pego o livro da primeira aula, antes de caminhar para o segundo ano.

Comida. Em cada aula só consigo pensar nisso. Não comi nada decente desde sábado. As duas barrinhas de cereal e os copos de água só serviram para enganar o estômago.

Passo cada aula, cada discurso do próximo professor, ansiosa para o intervalo. Esfrego os olhos, tentando afastar a tontura e respiro fundo quando o alarme soa por toda a escola.

Caminho como um autômato, desviando de algumas garotas, antes de praticamente correr para o refeitório. Um pequeno sorriso está em meus lábios.

Mas eu não estava preparada para a tontura repentina que me tomou de repente.

Minhas pernas falham e eu teria caído se alguém não tivesse me segurado.

Apoio a cabeça contra um torso másculo, e o perfume masculino me lembra alguém. Ergo o olhar para o belo rosto acima do meu e perco o fôlego. Olhos escuros estão me fitando com confusão.

Carter Brackston acabou de me livrar de uma queda no corredor.

Seus braços ao meu redor aliviam a pressão e ele me solta, lentamente. Recupero o fôlego e apoio a mão contra uma parede, buscando equilíbrio.

— Ei, você está bem? — questiona.

— Sim... obrigada por ter me ajudado.

Minhas pernas continuam bambas pela fraqueza.

— Você está pálida. Não parece muito bem.

— Eu estou. É sério. Só preciso alcançar o refeitório. Depois que a fome passar, vou ficar melhor.

Droga!

Boca idiota! Por que eu fui falar isso?!

Ele me encara, espantado, então seus olhos passam pelo meu rosto abatido até minhas pernas trêmulas.

— Você tem se alimentado? — sua pergunta me deixa sem reação por um momento.

Eu o encaro, envergonhada, então faço um aceno com a cabeça, voltando os olhos para meus pés.

— Porra! Sinto muito. — ergo o rosto. — Estão servindo o bandejão lá no refeitório. Você ainda pode alcançar.

— Eu vou indo, então. — eu me viro, humilhada, antes de seguir pelo corredor.

Como sou idiota! Agora Carter tem pena de mim. O seu olhar foi bem significativo.

Perigo IminenteOnde histórias criam vida. Descubra agora