Podemos Nos Ajudar?

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O lugar escolhido por Zack, ficava há umas sete quadras do seu local de trabalho, era um lugar típico para quem gosta comidas de rua. Estávamos sentados em uma das mesas sobre a calçada de uma lanchonete, a rua estava bem movimentada com transeuntes espalhados por todos os cantos, e bastante barulhenta com o movimento e cheirava a tudo, desde à fumaça das grelhas até as comidas recém-preparadas.

- De onde vem esse seu hábito de ficar observando tudo que há ao seu redor? - Perguntou Zack mastigando o seu burrito de carne, embrulhado em volta de um papel grosso. - O que você procura?

Franzi o cenho confuso com a pergunta... até entender.

- Nada. - Dei de ombros. Ele continuou me encarando com um pequeno sorriso estampado naquela rosto branco. - Não procuro por nada.

Ele riu.

- Você é muito curioso. - Disse ele voltando a sua atenção para o que estava em suas mãos.

Não sei bem se isso foi uma pergunta ou uma afirmação, mas respondi mesmo assim:

- Você não é o primeiro que me diz isso.

E isso é mais do que verdade. As pessoas mais próximas de mim, dizem que eu sou bastante curioso e observador.

Desde pequeno eu tenho esse hábito de ficar observando tudo, até mesmo algumas cenas constrangedoras eu já cheguei a presenciar, como por exemplo a cena constrangedora do Bran - a maior de todas. Durante a adolescência ele costumava ficar bastante tempo sozinho no seu quarto e eu não entendia o porquê, até que um certo dia decidi matar a minha curiosidade, e de mansinho abrindo um pouco a porta do quarto dele sem fazer o menor barulho, me deparei com o Bran deitado na cama pelado olhando para o seu notebook ao lado dele, ele estava... o que só vim a saber mais tarde... se masturbando, eu podia ouvir claramente gemidos vindo do notebook, o que alguns anos depois eu fui saber por ele que aquilo era um vídeo pornô, Bran ainda não tinha se dado conta da minha presença, até a mamãe me ver espiando ele e nos pegar em flagrante, juro que aquilo foi o maior susto de toda a minha vida, e como resultado, o Bran teve de ficar de castigo por algumas semanas pelo simples fato de não passar a chave na porta, enquanto eu tive que passar uns dias na casa da vovó materna Sandra para tentar esquecer o ocorrido, o quê não adiantou de nada porque assim que eu vi Bran, a lembrança do ocorrido ressurgiu feito um relâmpago no céu.

- Fala aí, por que você quis pagar o meu almoço assim tão de repente? - Perguntou Zack me tirando do transe. Ele deu o último pedaço do seu burrito para o Bambu, que estava deitado debaixo da mesa. - O quê você quer afinal?

"Que bom que você perguntou, só não sei como te responder isso" - Pensei. Acho melhor dizer isso de uma vez.

- Eu quero te ajudar a passar nas provas das disciplinas de ciências da natureza! - Uau, não foi tão difícil dizer isso de uma vez. Do nada lembrei da minha última conversa com o Bran por mensagem. - E você me ajuda no que eu preciso.

Ele se encostou na cadeira cruzando os braços sobre o tórax me olhando com uma expressão confusa.

- Por que você acha que eu preciso da tua ajuda nessas provas? - Ele ergueu uma sobrancelha. E acho que ele havia percebido que eu não ia responder. - Te contaram não foi? Aliás quem foi o fofoqueiro?

"Não entrego meus informantes" pensei balançando a cabeça.

- Ouça, você é um cara bastante popular na escola, e qualquer notícia ou rumor a seu respeito pode correr como o vento pelos quatro cantos, e de um jeito ou de outro eu iria ficar sabendo. - Expliquei.
- É você tá certo. - Disse ele. - Você disse que em troca eu te ajudaria com o quê precisa, mas do quê você precisa?

Ele se aproximou da mesa descansando os braços cruzados sobre ela.

- Eu preciso que você finja ser o meu amigo. - Falei receoso de que ele não iria rir da minha cara. -  É por uma boa causa. E uma longa história.
- Tá de sacanagem né? Pra quê? - Ele perguntou se encostando na cadeira. - Aqueles seus amigos nerds do clube de ciências não estão sendo legais com você?

Balancei a cabeça.

- Não, não é isso! - Digo rápido. - Eles apenas não são tão esportivo como você, e eu preciso de alguém assim como você para me ajudar.
- Cara eu não sei não. - Disse ele receoso. - Seus amigos desse clube não vão ficar chateado com isso? Eles não gostam de mim, e isso também pode ser um problema pra você se fomos ser mesmo que de fachada amigos.

É ele tem razão, não é segredo algum que todos do clube detestam os jogadores de ambos sexos, e eu ainda não entendia o porquê dessa rixa entre eles. Mas isso é um problema entre eles e não meu, isso significa que posso ser amigo de ambos lados mesmo estando ciente de que posso acabar no meio dessa rivalidade entre eles.

- Tudo bem, eu tô disposto a correr o risco. - Falei tentando demostrar confiança. Acho que os meus amigos do clube não vão me perdoar nunca se descobrirem isso. - A gente pode nos encontrar fora da escola, para que eu possa te ajudar nos estudos para as provas, assim eles não vão perceber.

- Você tem certeza de que quer isso mesmo? - Disse ele sério. - É a amizade de vocês que vai estar em jogo.

Respirei fundo "tanto faz" pensei. E assenti para ele.

- Sim.

Zack pareceu pensativo por alguns segundos, e então anuiu com um sorriso na esquina da boca.

- Ok. Eu topo.
- Isso é ótimo. - Estendi a minha mão para ele que a apertou em seguida.
- Me passa o seu número. - Ele me entregou seu celular. - Eu vou te ligar para marcar um dia pra a gente nos encontrar.
- Ok! Eu estarei esperando. - Devolvi o celular.

Ele olhou para a tela do aparelho antes de me perguntar:

- Você sabe como voltar, certo?

Demorei uns segundos para entender a pergunta, olhei em volta ainda havia muitos transeuntes pela rua, mas nada que demonstrasse perigo, voltei a minha atenção para ele e respondê-lo:

- Sim eu sei.
- Você tem certeza? - Ele perguntou. - Não quer que eu te acompanhe?

Essa pergunta me fez rir por achá-la desnecessária, mas fiquei sem o quê dizer. Acho que ele percebeu isso e riu.

- Tudo bem não se preocupe comigo.

Ele me fitou por alguns segundos esperando ter certeza da minha resposta.

- Ok. Eu já vou indo, a minha pausa para o almoço encerrou agora. - Ele se levantou. Realmente ele é bem alto, talvez estou tendo essa impressão por eatar sentado e ele de pé. - Tchau Bambu foi bom te ver, e valeu aí pelo almoço... Theo.

Assenti e acenei um tchau para ele. Observei ele indo embora sem olhar para trás, não sei bem o porquê mas gostei de ver os movimentos da costa dele.

Prazer, Eu Sou Theo... Theodoro.Onde histórias criam vida. Descubra agora