Capítulo 5

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CENA: 02/10/2019

Fazia muito tempo que Beatriz não tinha boas noites de sono como as daquela semana, ela sabia muito bem o que estava ocasionando aquilo, quem, na verdade. Lembrava-se de um tempo não muito distante, de como acordava cansada de tanto lutar por um casamento fracassado, pedindo forças para conseguir se manter de olhos e ouvidos tapados para não descobrir as traições de Otávio por mais um dia. Agora, se sentia leve como uma pena e era uma sensação maravilhosa.

Acordar sorrindo, com o coração preenchido de esperanças, o corpo exalando ansiedade e desejo, era algo que ela não queria perder nunca mais. Beatriz se sentia viva, depois de tantos anos apenas existindo.

Levantou-se após alguns minutos de preguiça na cama, enquanto pensava em tudo o que estava acontecendo. Abriu as cortinas do quarto e viu a luz do sol iluminar o ambiente até então escuro e frio. Foi em direção ao banheiro e começou o seu dia, após a higiene matinal vestiu as roupas para a academia e arrumou sua bolsa. Depois de calçar o tênis e conferir se tudo estava certo, Beatriz saiu do quarto e foi para a cozinha, encontrando sua mãe no meio do caminho.

- Arrumada tão cedo? Para onde você vai? – perguntou, achando estranho a mãe levantar antes das nove horas da manhã para algo.

- Marquei um café com algumas amigas, vamos relembrar os velhos tempos e colocar o papo em dia, faz tempo que não nos encontramos. E você, vai para a academia tão cedo?

- É, decidi começar o dia bem-disposta e malhar vai ajudar a manter o ritmo pelo resto do dia. – Sentou-se à mesa e colocou um pouco de café na xícara.

- Malhar vai te deixar bem-disposta, ou essa desculpa é para ver o tal garoto? – implicou, com os braços cruzados enquanto encarava a filha.

- Zé Hélio, mamãe... Eu não preciso de desculpas para vê-lo, e se você quer tanto saber, espero mesmo que o encontre hoje. Ele me faz muito bem e tenho certeza que meu humor iria melhorar cem porcento, ao contrário do seu.

Linda revirou os olhos e virou as costas, saindo da cozinha e deixando Beatriz sozinha à mesa.

- Bom dia para você também, mamãe. – Ela falou um tom mais alto, e acabou rindo quando a porta da casa bateu. – Eu mereço...

O sorriso divertido permanecia em seu rosto, ver a sua própria mãe demonstrando insatisfação com os caminhos que ela estava tomando, depois de certa idade, era completamente engraçado. Mas, não podia negar que certos tipos de comentários a deixavam zangada, e agradecia a Deus por hoje não ter sido algo tão maldoso e implicante.

Tomou seu café tranquilamente, as vezes era bom estar sozinha, em silêncio e sem nenhuma conversa que pudesse ocasionar em uma briga logo pela manhã, como acontecia muitas vezes entre Linda e Otávio. Tranquilidade. Era essa a palavra que a rondava ultimamente.

Beatriz estava usando seu carro com mais frequência desde que Cosme havia falecido e o outro motorista contratado acompanhava Linda em seus passeios. Deu as ordens do dia para as empregadas e foi até a garagem para pegar seu carro. Com os óculos de sol no rosto, bolsa no banco do passageiro e rádio ligado num volume agradável, Beatriz saiu de casa rumo a academia.

Nem mesmo o trânsito matinal de São Paulo estragou seu humor, continuava a cantarolar e admirar a vista dos prédios juntamente a cidade cinzenta que havia amanhecido ensolarada com um céu azul naquele dia.

A academia estava no seu movimento de sempre. Beatriz foi até os armários e colocou sua bolsa, pegando apenas a toalha e a garrafa com água para se hidratar durante os exercícios. Enquanto caminhava pelo local, cumprimentava os conhecidos e procurava por um funcionário que pudesse ajudar com as séries que faria naquela manhã.

- Adriano, bom dia!

- Beatriz, como vai? Pronta para malhar? – perguntou sorrindo.

- Vamos com calma, posso começar pela esteira?

- Deve, é sempre bom se alongar e esquentar o corpo para os exercícios mais pesados. Trinta minutos de esteira, ok?

- Certo.

Beatriz foi em direção a esteira e começou a caminhar devagar, para começar a se acostumar com o ritmo. Concentrada, se surpreendeu ao escutar a voz de Zé Hélio, olhou pelo canto de olho e sorriu ao vê-lo se aproximar.

ZÉ HÉLIO: Acertei o horário. Eu só vim porque eu sabia que você estava aqui.

BEATRIZ: Você sabe todos os meus horários.

ZÉ HÉLIO: Sei. Dou sempre um jeito de vir.

BEATRIZ: Mas eu não quero que você se prejudique no trabalho por minha causa.

ZÉ HÉLIO: Não, eu faço muito home office, Beatriz. A Fabiana não gosta muito. Também, eu trabalho tanto dentro de casa que eu mereço um horário flexível.

Logo uma funcionária da academia chamou a atenção de Beatriz e começou a conversar a respeito dos suplementos que estavam vendendo e que havia indicado para ela. Porém, Beatriz não teve tempo de levar ao médico por conta dos dias conturbados e acabou esquecendo. Se desculpou e encerrou o assunto garantindo que iria levar os panfletos ao médico para avaliar, voltando para a esteira.

ZÉ HÉLIO: Que suplemento?

BEATRIZ: É um suplemento que eles estão vendendo aqui na academia, mas eu não tomo nada sem falar com o médico.

ZÉ HÉLIO: Ah, bom... Se você quiser, você me dá todo esse material de propaganda que ela te deu, eu posso procurar na internet pra saber se é bom.

BEATRIZ: É... Boa ideia, tá bom.

ZÉ HÉLIO: E hoje à noite o que você vai fazer?

BEATRIZ: Vou... Vou ficar em casa vendo televisão.

ZÉ HÉLIO: Vou ver televisão com você.

BEATRIZ: Zé Hélio! Para. Você não acha que tá indo rápido demais, não?

ZÉ HÉLIO: Pra mim tá até devagar.

BEATRIZ: Bora malhar, hein? Vamos? Né, que a gente veio aqui pra isso.

ZÉ HÉLIO: De noite?

BEATRIZ: Tá, hoje à noite.

Ela sorriu e voltou o seu olhar para o painel da esteira, fugindo dos olhos verdes que lhe hipnotizavam. Precisava admitir, amava a companhia de Zé Hélio e se sentia muito bem nas horas em que passavam juntos. Mas, estava insegura com o próximo passo. Já fazia tanto tempo... Mesmo casada, Otávio não comparecia na cama e isso acabou virando uma rotina. Beatriz já havia perdido as contas de quanto tempo estava sem relações e sabia bem o motivo, o ex-marido se satisfazia na rua e esquecia o que tinha em casa. Isso acabava com a autoestima dela, a deixava insegura e crente de que não era o suficiente.

- Vamos começar? – ele perguntou, pronto para aumentar a velocidade da esteira.

- Zé, devagar... Eu não aguento o seu ritmo.

- Eu tenho certeza que você aguenta... – disse num tom de voz malicioso, recebendo o olhar semicerrado de Beatriz.

- Espero que isso seja uma brincadeira – entortou os lábios e o fuzilou com o olhar, no fundo estava morrendo de vergonha e com uma vontade imensa de rir.

- Toda brincadeira tem um fundo de verdade, Beatriz. – Ele piscou, começando a rir ao ver que ela ficou vermelha. Beatriz pegou a sua toalhinha branca e bateu no braço dele, fazendo-o rir.

- Vamos, quanto mais você corre menos você fala besteira.

Zé Hélio gargalhou e aumentou a velocidade, começando a correr. Já Beatriz começou a caminhar com mais rapidez, se seguisse o ritmo dele na esteira, não conseguiria levantar no outro dia. Será que na cama também seria assim?

SÓ VOCÊ E EU - Fanfic ZetrizOnde histórias criam vida. Descubra agora