XXIX

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Recolho a mesa do café e arrumo a cozinha. Tento não fazer nada na casa e me sento no sofá. Não passa muito tempo até Gruto entrar assobiando. Ele fica na ponta dos pés e fecha a porta. Ele me encara e sorri.

- Bom dia Mary! - ele diz com a voz grave.

- Bom dia Gruto. Tudo bem? - ele assente.

- Ótimo! - ele caminha para perto de mim e sobe no sofá com dificuldade. Sorrio. Ele sobe no meu colo e se senta. Seu rabo felpudo passa de leve em meu braço cada vez que ele balança. Ele toca com a mão minúscula em minha bochecha. - Gruto está tão feliz hoje! Mary e Drake estão juntos agora né? - olho para ele e mordo o lábio.

- Estou bem confusa Gruto... - ele sorri.

- Então já é um grande avanço. - ele diz. Assinto.

- Drake é maravilhoso. - digo. Ele assente.

- E ele está de quatro por você. - gargalho.

- Não sabia que usavam esse termo. - digo e ele assente.

- Rocca me ensinou. Ada ensinou a ele. Quando alguém está dependente e irracional por causa de outra pessoa. Ela está de quatro. - sorrio.

- Ada é muito esperta às vezes. Que bom que posso usar esse termo quando precisar. - ele assente.

- Ele esta! Ele está sim. Muito Mary... - Assinto.

- Se está dizendo eu acredito. - digo. Ele assente.

- Então Gruto pode confiar em Mary? Drake é pavio curto e Mary pode acalmar ele. - Assinto. - Ele não vai mais brigar com Gruto? - olho para ele com confusão.

- Ele briga com você? - Gruto assente.

- Ele brigou ontem, me mandou embora! - abraço o pequenino.

- Ele não vai mais mandar. Prometo. - ele devolve o abraço.

- Mary é boazinha. - ele diz com a voz grave. Me afasto. Ele sai do meu colo. Me sinto um pouco estranha depois dessa conversa. Ele tem a voz grave como a de um adulto, mas é pequeno e fofo. Não sei o que pensar sobre um bronco. Ele volta a assobiar e começa a arrumar a casa. Fico sentada no sofá observando ele.

- Posso te ajudar? - ele assente.

- Pode, mas não faça meu serviço sozinha. - Assinto.

- Drake já me disse. - digo. Ajudo Gruto a arrumar a cozinha e em seguida subimos para o segundo andar. Arrumamos a cama. Lavo o banheiro e Gruto limpa o quarto. Lavamos as escadas e limpamos em cima dos móveis. Ele me distrai e pergunta sobre minha vida. Por um momento tinha me esquecido que tinha uma. Conto para ele que tenho um trabalho. Suspiro. Depois de faltar dois dias não sei se ainda tenho.

Limpamos a parte de baixo da casa e descemos para um porão. Limpamos e percebo que Drake guarda as armas dele aqui. Tem várias espadas e uma mesa de marcenaria com vários equipamentos. Limpamos e voltamos a subir. Fecho a porta do porão. Gruto pega moedas de ouro e prata do guarda roupa de Drake e deixo claro que não irei participar disso. Não quero ser acusada de ser ladra. Gruto ri. Seguimos para uma mercearia enquanto ele explica que sempre vai as compras e compra o necessário para o almoço com o salário de Drake. É parte do trabalho dele. Aproveito para comprar mantimentos para o café da manhã. Compro frutas, biscoitos, pães, leite, açúcar... Entre outras coisas. Voltamos e começo a guardar as coisas no armário. Gruto me obrigou a trazer um leitão. Disse que faria para o almoço, mas não estou certa se quero comer. Ele abriu o leitão, arrancou tudo de dentro dele, inclusive tirou sua cabeça e ele não para de gritar. Estou assombrada e com a faca na mão. Não tiro os olhos do leitão e juro que se ele pular de lá eu dou facadas naquela coisa!

Alguém bate na porta.

- Eu atendo! - digo com a voz mais alta do que quero. Quero distância do leitão. Deixo a faca na mesa e corro para a porta. Abro e sorrio. Dois homens mortais, como eles chamam aqui, sorriem e de repente ficam sérios. - O que gostariam? - pergunto. - Drake ainda não chegou para almoçar. - digo. Eles tentam empurra a porta e seguro ela franzindo o cenho. - Vocês me ouviram?! - um deles assente.

- Você vem conosco! - eles tentam invadir e tento fechar a porta. É em vão. Solto a porta e corro para perto das escadas. Gruto para na minha frente.

- Saiam! Ninguém toca na Mary! Vão irritar Drake! - ele diz. Ofego. Os homens continuam vindo em minha direção. Subo um degrau.

- Gruto... Venha comigo. - Digo. Ele me olha e grito. O homem chuta o Bronco. - Gruto! - chamo. Ele bate contra a parede de trás das escadas. Olho para os homens. - O que querem?! - pergunto alarmada.

- Já disse! Você vem conosco. É a mulher de Drake não é? Aposto que ele vai sofrer bastante ao saber que levamos você. - nego.

- Não se aproximem! - grito. Eles riem.

- Como pode amar aquele monstro de asas!? Ele matou dois dos nossos na sua frente. - franzo o cenho.

- Matou? - os dois se entreolham.

- Faruk deve ter apagado a memória dela. - eles voltam a olhar para mim. - Vamos levar ela para nosso chefe e fazer ela lembrar, talvez assim ela deixe o alado branco. - ofego. Eles começam a subir as escadas e corro para cima. Entro no quarto e abro a porta do banheiro. Entro e fecho ela. Tranco. É a única parte da casa que tem tranca. Me afasto da porta e ouço um baque. - Abre aqui! - ofego. Lágrimas se juntam nos meus olhos. Soluço. Um deles bate com tudo na porta e entra. Grito. Ele me agarra pela cintura e me arrasta. Assim que passamos pelo quarto consigo me soltar. Ele agarra meus braços e o outro segura minhas pernas. Me debato.

- Me solta! - grito. Meus olhos ardem. Eles descem as escadas me carregando. Penso em Drake. Queria que ele me ouvisse. Queria verdadeiramente que ele me escutasse. Sou arrastada para a sala e me debato. Sinto algo acertar minha cabeça e tudo gira.

"Drake!"

Penso nele com força. Não quero que me tirem novamente daqui. Já estou cheia disso. Minha visão fica turva.

Apago.

DRAKE - Saga "Pearl"Onde histórias criam vida. Descubra agora