Capítulo I - Conselho de Guerra

48 8 5
                                    

    No acampamento élfico, Elendor analisava alguns mapas em sua tenda quando um de seus guarda costas interrompeu seus afazeres.

— Grande rei, um mensageiro acabou de chegar com as novas do príncipe Érebo.

— Mande-o entrar.

    O guarda assentiu e se retirou, e alguns segundos depois o mensageiro adentrou a tenda do rei dos elfos.

— Meu senhor – disse o elfo enquanto se ajoelhava e fitava atentamente ao rei, de pele branca, longos cabelos negros e olhos ainda mais escuros. – Trago as notícias do príncipe Érebo sobre o assalto a Styrfold.

— Diga.

— A cidade caiu, meu senhor, e pereceram junto dela todos os seus habitantes e defensores. O príncipe e suas tropas fizeram o saque e encerraram a cidade em ruínas. Nesse exato momento estão marchando para cá para se juntar ao exército de vossa alteza.

— Ótimo. Algo mais?

— Não, meu senhor. O príncipe apenas manda seus cumprimentos e diz que estará aqui o quanto antes para participar das próximas batalhas.

— Que seja – Com um gesto de sua mão, Elendor dispensou o mensageiro. Caminhou até uma mesa no canto de sua tenda, pegou uma taça de ouro ricamente trabalhada e a encheu-a de vinho. Assentou-se em uma pomposa cadeira esculpida em colmo enquanto degustava do fruto da videira, pensava no último obstáculo para consolidar sua conquista dos reinos humanos. Deu ordem a seus serviçais para que convocassem seus generais. Era a hora de definir os planos e estratégias de batalha que usariam contra seus inimigos.

    Em poucos minutos todos os generais já haviam se reunido na tenda de seu senhor. Elendor observava seus mais novos escravos, aqueles capturados em uma de suas últimas batalhas contra os humanos, organizarem a grande mesa retangular ao centro de sua tenda para que seu conselho de guerra pudesse se formar. Era divertido observar o quanto os escravos se esforçavam para terminar tudo o mais rápido possível enquanto eram açoitados por seus feitores.

    Uma vez que os preparativos foram concluídos Elendor ordenou que seus generais tomassem seus assentos enquanto ele assumia seu lugar na cabeceira da mesa.

— Meu filho envia notícias de que Styrfold caiu – Elendor fez um gesto para conter o alvoroço de seus subordinados diante de tal notícia – ele já está a caminho para se encontrar conosco e eu os convoquei para que pudéssemos discutir sobre a batalha que está por vir. Aeldred*, diga-me quantas cidades restam no reino de Thurgon.

— Meu senhor, agora que Styrfold caiu restam apenas três cidades. Duas eu diria que não possuem grande importância. Apenas a capital, Vestfold será problema.

— Diga-me porquê.

    As palavras e o tom de Elendor incomodaram o capitão, sabia que tinha cometido um deslize, percebeu que o rei não havia concordado com sua afirmação, mas não sabia em qual ponto. Pensou alguns segundos em que poderia estar equivocado e teria pensado por mais tempo não fosse a atmosfera que se instalou na tenda e o olhar inquiridor de Elendor fixo sobre ele.

— Meu rei... Vestfold é uma cidade grande e possui uma guarnição numerosa e defesas fortes, enquanto as duas outras cidades pouco mais são que "cidades-celeiro". Povoadas por pescadores, fazendeiros, caçadores e esse tipo de gentalha... – enquanto falava Aeldred percebeu em qual ponto o rei queria chegar e ficou feliz por ter descoberto antes que o próprio rei abrisse seus olhos.

— Essas "cidades-celeiro" não tem importância para nós, mas sim para os humanos ainda mais agora que são as últimas que restam. Nessas cidades a grande Vestfold obtém mantimentos para a sua grande guarnição. E uma vez que atacarmos essas cidades menores e com defesas mais frágeis o exército de Thurgon será forçado a marchar para defende-las.

— Boa observação – o rei dirigiu a Aeldred um sorriso burlesco – Aengor, diga-me qual estratégia adotamos para o ataque.

— Meu senhor, podemos marchar contra uma cidade de cada vez, ou dividir as nossas tropas e atacar ambas simultaneamente. Creio que o melhor a fazer é atacar a ambas as cidades pois assim obrigaremos Thurgon a dividir suas forças. – Aengor sorriu como se tivesse dado a ideia mais brilhante desde que a guerra havia começado.

— Mas não seremos nós quem dividiremos nossas forças primeiro? Não daríamos ao inimigo uma chance de derrotar uma de nossas forças e depois marchar contra a outra. – O rei se divertiu com a expressão de dúvida que tomou conta do semblante de seu subordinado, e se divertiu mais ainda ouvindo o riso abafado dos demais oficiais, Aengor era um guerreiro temível, mas não era o mais inteligente dos elfos.

— Mas, meu senhor, os homens jamais poderiam derrotar nossas forças ainda que as dividíssemos três vezes. São seres inferiores.

— É verdade, é verdade, mas não temos motivo para sofrer baixas desnecessárias – disse o rei com um sorriso no rosto – você, Galahir, diga-nos o que faremos para resolver essa questão.

— Meu senhor – Galahir olhou para o rei, depois dirigiu um olhar matreiro por toda a extensão da mesa onde se assentavam os outros oficiais, pousando finalmente os olhos em Aengor antes de continuar – dividiremos nossas forças e atacaremos ambas as cidades simultaneamente. Thurgon também terá de fazer o mesmo, e teremos um combate em um terreno que nos será favorável. Lidaremos com cidades pouco defensáveis em lugar das muralhas fortemente guarnecidas de Vestfold e enquanto o combate for travado o príncipe Érebo, que a essas alturas já terá sido avisado e instruído a reforçar uma de nossas tropas. Com a ajuda do príncipe conquistaremos uma das cidades e depois marcharemos para a outra, minando as forças de Thurgon aos poucos. Depois disso, avançaremos contra Vestfold que será um alvo fácil.

— Excelente. Fico feliz em ver a sagacidade de meus generais. – Elendor ostentava um sorriso matreiro enquanto falava – já temos nossa estratégia. Diga-me Aeldred quais os nomes dessas cidades?

— A cidade a leste chama-se Vinnfold e a cidade ao sul chama-se Staldfold, meu senhor.

— Muito bem. Você e Aengor conduzirão suas tropas para Staldfold e atacarão. Enquanto Gilgalion, Galahir e eu atacaremos Vinnfold. Darei ordens para que Érebo vá diretamente para Staldfold reforçar suas tropas e assim que ambas as cidades tiverem caído marcharemos para sitiar a capital dos homens. Organizem suas tropas, abandonaremos nosso acampamento amanhã, e quero que partam o quanto antes. Estão dispensados.

    Os generais se ergueram de seus assentos e realizando profundas vênias e se retiraram. Elendor escreveu suas ordens para seu filho e depois de ter selado a mensagem com o selo real chamou um mensageiro que despachou com ordens para ir de encontro ao príncipe imediatamente.

    Por quase duas horas o acampamento élfico se alvoroçou. Escravos desmontavam as tendas e enchiam carroças de carga com armas, armaduras, equipamentos de cerco e mantimentos; enquanto os soldados se armavam e andavam para todos os lados sob as ordens de seus generais. Ao raiar de um novo dia tudo estava pronto e duas grandes hostes élficas estavam organizadas e prontas para a marcha. A hoste de Aengor e Aeldred era composta por quatro mil soldados e mais um quarto desse número em escravos, que conduziam as carroças com os suprimentos e armas. A hoste liderada por Elendor era a maior, com seis mil soldados e mais mil e duzentos escravos e haveriam muitos mais, não fosse Elendor ter ordenado a execução daqueles que eram jovens demais, velhos demais ou que estivessem muito feridos para que não retardassem a marcha das tropas élficas. Desse modo as hostes de guerra dos elfos deixaram um campo de sangue e corpos frescos para os corvos antes de sair rumo aos seus objetivos.



*Aeldred é um nome comum entre os elfos, e o elfo que aparece aqui não é o mesmo que aparece em "A Queda de Styrfold" Aquele era um capitão das tropas de Érebo, este tem uma patente superior na hierarquia élfica, um general.

Crônicas de Eretz: Queda de Reis (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora