Capítulo IV - O Jovem Grifo se Junta à Batalha

29 4 5
                                    

    Na ala direita os elfos de Aengor faziam um trabalho encarniçado. Sofriam muita pressão nos flancos, mas do mesmo modo que Aeldred, Aengor colocou os melhores guerreiros para segurar o máximo possível. Um homem tentou acertar Aengor com uma lança, mas foi um golpe débil. O general empurrou a arma para o lado e cravou sua espada curta bem fundo no estômago do inimigo. O homem ofegou e soluçou, Aengor o insultou enquanto subia a lâmina da espada, estripando-o. O guerreiro tombou emitindo um som que parecia um miado. O general elfo não conseguiu livrar sua arma do moribundo e outro guerreiro humano, ao ver a lâmina de Aengor presa nos intestinos do homem agonizante atacou. O elfo a esquerda do general bloqueou seu avanço chocando seu escudo contra o corpo do homem e impeliu sua espada contra o peito do inimigo que tentou desviar usando a própria espada, mas não conseguiu mudar em mais que um palmo a trajetória da lâmina élfica e o golpe destinado ao peito acabou por lhe atravessar a cota de malha e a barriga.

    Quando o abraço da parede de escudos ficou menos apertado Aengor ordenou que os soldados que estavam atrás de si pegassem de volta sua espada das entranhas do cadáver. Ele ainda levava a espada longa na cintura, mas ela seria mais um estorvo que útil na parede de escudos. Logo que lhe entregaram a espada o general desferiu uma estocada contra o pescoço de um homem. O elfo ao lado esquerdo de Aengor teve seu escudo, elmo e crânio partidos por uma espada humana. Logo que tombou o elfo foi substituído pelo soldado que estava atrás dele e este começou a estocar o inimigo tentando achar uma brecha em sua defesa. Um homem tentou cravar a lança em Aengor, ela encontrou uma fenda na armadura do elfo rasgou a cota de malha, perfurando a lateral da cintura do general que impeliu a espada e perfurou o olho de seu agressor. O elfo a direita finalizou o serviço estocando a garganta do homem.

    Apesar da eficiência élfica, os homens também combatiam com ferocidade. Suas lâminas, cheias de uma sede de sangue que era alimentada por anos de guerra e pelo desejo de vingança devido a todos os horrores que os elfos perpetraram ao longo daquele tempo. O grupo mais próximo a Aengor resistia bem, mas em outros lugares sua formação era pressionada e os elfos tombavam aos montes. Foi quando gritos dos soldados da extrema direita foram ouvidos:

— Eles estão recuando! Estão recuando! – diziam eles.

    Aengor abaixou um pouco o escudo para olhar para os lados, sem entender direito o que acontecia. Os homens estavam vencendo, mas realmente recuavam. Foi quando ele viu um dos capitães do inimigo. O homem alto se distinguia dos demais por seus ornamentos de guerra. A cabeça de uma águia encimava o topo de seu elmo, havia ouro em seu pescoço, trajava uma armadura acinzentada e por baixo dela podia-se ver uma cota de malha reluzente. O homem ordenava o ataque de seus homens contra os elfos da esquerda da formação de Aengor. Ao ver um dos líderes do inimigo o elfo imediatamente avançou contra ele aproveitando que seus agressores recuavam.

— Venham uns quarenta comigo! O resto de vocês ajudem o nosso flanco direito! – bradou o general.

    O capitão inimigo gritava enquanto atacava. A espada estava vermelha, encharcada de sangue élfico e sangue também manchava o escudo impedindo a visão da insígnia gravada nele. Os soldados que acompanharam Aengor abriram espaço com seus escudos e espadas entre os humanos para que seu general pudesse combater o líder inimigo. Quando Aengor finalmente conseguiu ficar frente a frente com seu alvo o homem já tinha matado três dos elfos que o acompanhavam.

— Ele é meu – gritou o general enquanto corria para o sujeito alto, que tentou bater nele com o escudo e estocou com a espada por baixo, tentando acertar as pernas do elfo. Mas Aengor abaixou seu escudo rapidamente, desviando o golpe e atacou o homem, que aparou a investida. O choque das espadas foi como um sino tocando. Elfos e homens próximos se afastaram e observaram as lâminas que se moviam tão rápido que era impossível contar os golpes. Eram dois artífices trabalhando. Aengor cambaleou depois de receber um forte golpe do escudo do inimigo, que viu uma abertura e impeliu sua lâmina à frente. O elfo avançou na direção da estocada, mas era um ardil, ele já havia se recuperado do golpe que recebera. Fingiu perder o equilíbrio, e em um instante girou o corpo desviando da espada do inimigo, e já estava à suas costas com sua espada na garganta do adversário, então a cortou. Uma nuvem de sangue se formou no ar e o chão ficou manchado, enquanto o homem tombava.

    Antes mesmo da morte do homem gerar algum efeito negativo sobre a moral das tropas humanas uma trompa soou uma nota alta, firme e límpida. Aos ouvidos dos elfos aquele som tinha algo de perturbador, como se houvesse alguma magia intrínseca naquela melodia e até mesmo Aengor tremeu ao ouvir aquele som. O general e os soldados que o acompanhavam se viraram para a direção de onde vinha aquele som no mesmo momento que os primeiros gritos dos elfos atrás deles ecoaram pelo campo de batalha, pois a cavalaria humana tinha chegado.

    Liderados pelo próprio príncipe os cavaleiros cobraram um preço de sangue ao avançar contra as linhas inimigas, penetrando até ao centro a formação de Aengor e ceifando inúmeras vidas com suas lanças e espadas.

    "Malditos desgraçados" pensava Aengor enquanto ele e os demais soldados corriam de volta em direção às suas tropas. " Não havia pior hora para essa carga acontecer. Agora sei porque aqueles insetos recuaram".

— Andem seus incompetentes! Temos que destruir uma cavalaria!

    Terminado o ímpeto da carga inimiga os elfos cercaram os guerreiros humanos. Apesar do esforço élfico e de sua sede de vingança contra os cavaleiros, aquelas figuras blindadas que combatiam em cima de seus corcéis de barda eram oponentes terríveis e dentre eles o príncipe era o mais temível. Ainda era jovem, não tinha visto mais de vinte e cinco verões, mas era um guerreiro formidável. Trajava uma armadura branca com detalhes em prata, seu elmo prateado estava cuidadosamente polido e o brilho do sol refletia intensamente em suas placas faciais, no braço esquerdo em que segurava as rédeas de seu corcel estava seu escudo feito de luaranium que ostentava a insígnia do grifo, o brasão de Thurgon e seus herdeiros e na mão direita, trabalhando incansavelmente estava sua espada que tinha assumido um tom escarlate devido à quantidade de sangue que cobria a lâmina.

— Ele parece um filho dos deuses – murmurou um soldado ao lado de Aengor.

— Pois eu o mandarei para encontrar-se com eles – rosnou o general. Derrubem os cavaleiros! Matem os animais e tirem-nos das selas, eles morrem como qualquer um! – gritou aos demais soldados.

    Os elfos atacavam cheios de fúria e a cada momento fechavam mais o círculo contra os cavaleiros que lhes faziam uma oposição digna. Mas os cavaleiros não eram os únicos inimigos daquele dia, e a infantaria das tropas humanas, que antes havia recuado, voltou para atacar as tropas de Aengor por todos os lados. "Se eu acabar com a vida do príncipe as tropas inimigas vão se dispersar. Esses covardes não vão lutar depois de ver seu príncipe e líder cair. Só tenho de derrota-lo para pôr fim a isso. " Pensava o general. Com o tempo os elfos conseguiam derrubar os cavaleiros, tirando-os das selas ou abatendo seus corcéis e fazendo com que lutassem a pé. Os que eram derrubados das montarias eram abatidos imediatamente pelas sanguinárias lâminas élficas, os outros ainda ofereciam alguma resistência. Aqueles eram alguns dos melhores guerreiros do reino de Thurgon, pertencentes a ordem dos templários de Tsaba'oh, o deus da guerra e padroeiro do reino, a ordem de cavalaria mais antiga de Mannheim e juntamente da ordem da pantera negra, a mais renomada dentre os antigos reinos dos homens; e para cada um daqueles guerreiros que tombavam quatro elfos ou mais caiam.

Crônicas de Eretz: Queda de Reis (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora