Capítulo XXVI - Despedida

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    O sol já estava prestes a desaparecer do horizonte quando o povo de Vestfold concluiu seus trabalhos. Thurgon despediu os civis de volta a suas casas a fim de que fizessem uma refeição para que se fortalecessem e tomassem os caminhos secretos para fugir da cidade.

— Meu rei, acha mesmo necessário que o povo fuja hoje mesmo? O sol já está entrando no ocaso. – Bern falou a Thurgon.

— Não correrei riscos, as tropas élficas podem surgir no horizonte a qualquer momento. Quanto antes evacuarmos a cidade, melhor.

— Entendo, está certo...

— Venha Bern, acabo de ter uma ideia – Thurgon exclamou e saiu em disparada em direção ao bailey interno – Convoque todos os guerreiros, nos encontraremos na entrada da torre de menagem. Ainda resta um último trabalho a fazer.

— Sim meu rei... – Bern respondeu sem compreender as intenções do rei. Deixou Thurgon seguir seu caminho e traçou seu próprio trajeto, convocando os guerreiros espalhados pela cidade e os dizendo para fazer o mesmo com seus camaradas.

    Quando os guerreiros, uma vez reunidos, finalmente chegaram a torre de menagem tiveram uma surpresa: Haviam sacos, potes, jarros e caixotes contendo ouro, prata, joias preciosas e todo tipo de tesouro. Servos iam e vinham trazendo mais e mais riquezas.

— Já que nos sobrou algum tempo, não há porque deixar esses espólios de mãos beijadas para os elfos. Vamos usar o tempo que nos resta para carregar tudo isso e escondermos nos tuneis secretos. Depois de algum tempo nosso povo poderá recuperar os tesouros e fazer bom uso deles!

    Os homens ficaram por alguns instantes sem reação, mas logo que compreenderam a situação, se colocaram a trabalhar. Separavam as peças de ouro em grandes caixotes de madeira, enchiam sacos e mais sacos com joias preciosas e os entregavam a seus camaradas, que abasteciam carroças de bois e as conduziam em direção às passagens secretas. Durante os trabalhos, Thurgon chamou Malcon para uma conversa em particular.

— Acrescentarei mais uma tarefa às suas responsabilidades, Malcon. Quando toda essa situação se acalmar, quando não houverem sinais de elfos nos arredores dos caminhos secretos, quero que destaque um grupo para recolher esse tesouro. Uma vez que tiver resgatado tudo, confie sua administração a Plínio, que por sua vez a transmitirá a meu filho Talon, quando esse tiver idade para governar.

— Sim, meu rei. Dou minha palavra, de que assim o farei. – Malcon respondeu, solene.

    Thurgon sorriu e repousou a mão direita sobre os ombros do templário. – Muito bem, agora, voltemos ao trabalho. Ainda há muito a se fazer.

    Os últimos raios do sol desapareceram e as luas de Eretz tomaram seus lugares no céu, enquanto os homens trabalhavam. As atividades se estenderam em um ritmo frenético por mais de uma hora, e até mesmo o rei ajudou no carregamento dos tesouros. Os serviços de carga, descarga e ocultação dos tesouros foi finalizado alguns minutos antes das primeiras pessoas chegarem às entradas dos túneis. Malcon e os demais guerreiros responsáveis pela proteção dos refugiados fizeram um juramento de que não revelariam a localização do tesouro a ninguém a não ser a Plínio.

    O povo começou a vir em grandes quantidades ao local. Era hora da despedida. Os corajosos guerreiros de Mannheim se despediam de suas famílias com lagrimas nos olhos e promessas de valentia e atos de bravura face o inimigo que estava por chegar, por sua vez, as famílias faziam suas promessas de relembrar os entes queridos e continuação da linhagem.

    Thurgon, caminhou em direção ao filho, que vinha acompanhado pelos servos e Malcon. O rei estava nu do torso para cima, o suor escorria pelo corpo, mas isso não foi um impedimento para que Talon se jogasse aos braços do pai em um abraço longo e apertado.

— Lembre-se meu filho, eu te amo e sempre te amarei.

— Também te amo papai...

    Thurgon se afastou um pouco do filho. Repousou as mãos nos ombros do menino e o olhou face a face.

— Vou Crescer e me tornar um grande homem. Vou ficar no reto caminho, nunca vou te esquecer, papai, nem do senhor, nem de Argon, nem de Ellon nem da mamãe. Também vou lembrar que um dia vou me encontrar com o Supremo, aí vamos ficar juntos de novo. Até lá vou ser corajoso e forte!

    Thurgon foi pego de surpresa com as palavras do filho e mais uma vez foi tomado pela emoção, quando o garoto repetiu a promessa que o havia feito dias antes. Tomou o menino nos braços outra vez e o abraçou por um longo tempo. Por fim, se afastou novamente, deu um beijo na testa do menino e tirando o anel real o entregou nas mãos de Talon.

— Fique com isso meu filho. Pertenceu a seu avô Théon, e ao pai dele antes dele. É o anel de nossa família, passado ao novo rei. Um dia você o usará. Até lá guarde isso para se lembrar de mim.

    Talon olhou maravilhado para o anel dourado que possuía a gravura de um grifo em alto relevo. Depois fechou as mãos e apertou com força, enquanto olhava para o pai. O garoto chorava demais para conseguir falar algo, mas acenou que sim com a cabeça. Thurgon, que também chorava, se levantou e se despediu de Malcon e dos servos. O rei ainda retirou de seu cinto o pergaminho que tinha escrito na noite anterior e o entregou ao templário.

— Entregue isso a Plínio quando se encontrarem.

    O homem assentiu. As demais despedidas foram finalizadas e o povo finalmente foi encaminhado pelo portal que dava acesso aos túneis secretos. Os fugitivos acenderam suas tochas e desceram pelas escadas. Os homens esperaram que o último refugiado desaparecesse na escuridão e então, fecharam o portão e selaram a porta, ativando uma magia antiga, feita não somente para ocultar a passagem de qualquer olho como também para a bloquear perpetuamente.

— Muito bem, está feito! – Thurgon falou a seus guerreiros. – Agora peguem suas armas e armaduras onde quer que as tenham deixado e voltem para o bailey externo. Escolham as casas mais próximas o possível das muralhas para passar a noite e desfrutem de um merecido descanso! Lembrem-se de deixar os equipamentos de guerra próximos de seus leitos.

    Os homens assentiram e se retiraram, recolheram seus pertences e seguindo as ordens do rei se encaminharam para as residências próximas à muralha. Thurgon e a guarda real fizeram o mesmo. Dessa forma a noite dos homens se findou.

Crônicas de Eretz: Queda de Reis (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora