Quando terminou, Thurgon chamou novamente os serviçais para que desfizessem a mesa. Esperou até que terminassem e os dispensou. Caminhou até o canto esquerdo da sala onde havia um grande baú. Abriu-o, revelando seu conteúdo: Uma reluzente armadura banhada a prata. "Gostaria que Erick estivesse aqui para me ajudar a vestir a armadura. " Pensava o rei enquanto retirava as peças da armadura do baú. Depois de vestir a armadura completa o rei saiu da tenda e foi em direção às muralhas. Sob o braço esquerdo levava o elmo encimado pela cabeça de uma águia dourada.
Ao chegar nas muralhas Thurgon foi recebido por sua guarda pessoal e os demais guerreiros. Todos já se encontravam a postos, organizados em fileiras de frente para o portão. Ao verem o rei os soldados fizeram uma reverência enquanto simultaneamente bradavam suas saudações. Thurgon acenou e ergueu a voz:
— Filhos dos homens, o inimigo jaz as nossas portas em desafio e nós daremos a eles a chance de provar do nosso aço. Iremos à luta e cobraremos vingança por Staldfold e todos que lá morreram. Sobracem os escudos e certifiquem-se que os gumes de suas lâminas estejam afiados, pois hoje nossas armas ficarão embotadas com o sangue élfico!
Enquanto os homens gritavam e batiam com suas espadas e lanças nos escudos, Nestor se aproximou do rei e lhe falou:
— E quanto as pessoas da cidade, meu senhor?
— Não se preocupe, Nestor. Deixei Plínio encarregado de tudo. Ele mesmo supervisionará o carregamento e embarque dos navios e também conduzirá nossa pequena frota a ilha de Ulster.
— Então podemos combater sem nos preocupar.
O rei ordenou que os portões fossem abertos e assim os guerreiros de Thurgon se puseram em marcha. A terra gemeu sob os pés dos caminhantes, que depressa diminuíam a velocidade entre si e o inimigo.
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Galahir viu que ao longe uma nuvem de poeira se levantava no horizonte e com sua aguçada visão élfica, percebeu um brilho metálico dentro dela. O general foi até a tenda armada para Elendor. Encontrou o rei sentado em uma cadeira banhada a prata, bebendo vinho de uma safra milenar em uma taça de ouro cravejada de joias.
— Diga a que veio, Galahir. – Falou Elendor ao notar a presença do general.
— Nossos inimigos caíram na armadilha. Estão marchando contra nós. – Disse o elfo enquanto fazia uma reverência.
— Então organize nossas tropas, pois iremos ao combate.
O general se retirou e passou a percorrer a passos rápidos todo o acampamento élfico bradando ordens para que os escravos fossem levados para suas cadeias e que os soldados aprontassem as armas. Os elfos que se encontravam dispersos nos mais diversos afazeres rapidamente se organizaram. Sob açoites, levaram os escravos para os postes cravados ao sul do acampamento e os ataram às correntes. Lá eles permaneceriam até o fim da batalha. Depois de prenderem os escravos os soldados começaram a vestir seu equipamento de guerra. Quando Elendor saiu de sua tenda, as tropas estavam terminando sua organização. O rei esperou por alguns instantes até que todos estivessem prontos e falou a seus guerreiros:
— Ouçam-me! O inimigo está para chegar. Eles serão pegos em nossa armadilha e serão massacrados. Hoje nossas espadas se banquetearão com o sangue dos homens!
Os elfos bradaram seus gritos de guerra, formaram colunas gêmeas com cem guerreiros de largura e dez de profundidade e se colocaram em marcha.
Quando as tropas não estavam a mais que trezentos passos de distância umas das outras e homens e elfos podiam ver o inimigo com qual chocariam seus escudos, Elthair o capitão responsável pelos elfos da extrema esquerda da coluna encabeçada por Galahir, saiu para o combate. Seu elmo era encimado por uma crista de penachos de cavalo, trazia nos ombros uma capa feita com a pele de um leopardo que caçara nas terras dos homens, na cintura levava a espada curta e na mão direita portava uma lança. Lançou seu desafio falando na língua mãe dos homens:
— Aquele que se considerar capaz, venha e me enfrente em um combate singular. Qualquer um que julgue ter o necessário para cruzar lâminas comigo, venha para o abraço da morte!
O vento levou as palavras de Elthair enquanto os elfos gritavam insultos e zombarias contra os inimigos. Mas o alvoroço logo se desfez, quando o próprio Thurgon deu dois passos à frente da formação. Vendo que o rei estava prestes a aceitar o desafio, Nestor esboçou reação, mas antes mesmo que ele proferisse palavra, Thurgon virou-se para traz e o encarou fixamente.
— Nem pense em dizer algo Nestor. A vingança me pertence e a benção de Tsaba'oh está sobre mim. Eu mostrarei a essa escória como se manuseia uma espada.
A voz do rei soou tão retumbante quanto um trovão e até mesmo os elfos que observavam a distância, mesmo sem compreender as palavras de Thurgon, sentiram o coração apertado. Nestor viu o fogo no olhar de seu rei e percebeu que o resultado daquele combate já estava decidido. Assentiu e se afastou. Thurgon virou-se novamente para o desafiante sobraçou o escudo de bronze que levava no braço esquerdo e apertou o cabo da espada na mão direita e avançou como um leão faminto em sua direção a sua presa até estarem a apenas dez passos um do outro.
Homem e elfo andavam lentamente enquanto se estudavam e lançavam olhares temíveis um ao outro. De repente, Elthair atirou a lança que empunhava. A arma atingiu o escudo do homem, mas não o atravessou, sendo repelida pelo bronze. Logo que se defendeu, Thurgon se atirou contra o elfo impelindo sua espada, Caledfwlch, contra ele. Diferente da lâmina do elfo, a espada do rei dos homens conseguiu perfurar o escudo do inimigo, chegando mesmo a penetrar através couraça que protegia o torso do elfo. Porém a lâmina não chegou a fazer contato com o corpo de Elthair, ficando presa em seu escudo. O elfo já levava a mão à cintura para desembainhar a espada quando Thurgon, largando sua arma, saltou sobre o inimigo e agarrou-o pela crista do elmo.
O puxão de Thurgon foi tão violento que lançou Elthair ao solo e, antes que o elfo se recuperasse da queda o homem tomou a espada das mãos trêmulas do inimigo e enterrou-a com toda sua força em seu peito. A lâmina penetrou a couraça, rasgou a carne, quebrou os ossos e atingiu o coração do elfo, matando-o instantaneamente. Thurgon retirou Caledfwlch do escudo do inimigo morto a seus pés e deixou o cadáver do elfo estirado ao solo enquanto caminhava em direção a seus soldados para juntar-se a eles novamente.
Os homens comemoravam e saudavam seu rei enquanto batiam em seus escudos em ritmo cada vez mais acelerado e com mais força ao passo que os elfos mantinham um silêncio sepulcral diante da morte de um de seus capitães. Galahir carregou o sobrolho em desaprovação, mas logo percebeu que aquele acontecimento não seria de todo mal. " Será bom que se sintam confiantes. Assim será mais fácil os envolver na armadilha. " Com esse pensamento em mente ordenou aos elfos que formassem a parede de escudos e avançassem em direção ao inimigo. Elendor fez a mesma coisa na ala direita.
Thurgon assumiu novamente seu lugar no centro da linha de frente das tropas humanas e ordenou a seus homens que erguessem sua própria parede de escudos e fossem de encontro aos elfos.
E assim, naquela tarde ensolarada as hostes élficas e humanas se lançaram ao combate. Elfos de armaduras cinzentas avançavam sob as ordens de seus capitães de armaduras escuras, e esses eram liderados por Galahir da armadura negra que por sua vez se submetia a Elendor, que trajava uma armadura tão escura quanto uma noite sem estrelas ou lua. Os homens por sua vez eram conduzidos pelos brilhantes homens de bronze da guarda real, os Grifos de Thurgon, que ocupavam toda a extensão da linha de frente, e ao centro como um ponto luminoso de brilho ímpar, estava o próprio Thurgon, trajando sua armadura banhada a prata liderando os homens vestidos a couro e ferro.
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Crônicas de Eretz: Queda de Reis (Concluído)
Viễn tưởngA terrível guerra entre elfos e humanos está aproximando-se de seu fim. De um lado, os malignos e antigos elfos, liderados por Elendor, buscam conquistar o último reino dos homens e expandir ainda mais seus territórios. De outro, os homens, liderad...