Capítulo XX - A Angústia do Rei

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    O rei tomou uma rota pouco utilizada pela população local e caminhou sozinho em direção ao castelo. Não queria ver ninguém, não antes de se encontrar com o filho caçula, o último filho que lhe restava. Mesmo cansado e trajando a armadura completa o homem de meia idade apressava o passo em direção a sua casa, em direção ao filho, o último bem que lhe restava. A mente divagava e o coração ficava cada vez mais apertado no peito a medida que o rei se aproximava do bailey exterior do castelo e a torre de menagem despontava no céu.

    Já bem próximo a entrada oculta do bailey exterior o rei trombou com um jovem que vinha em sua direção. O jovem caiu sentado no chão, enquanto Thurgon dava um passo para trás, atordoado e surpreso pelo choque repentino.

— Majestade! Finalmente o encontrei. – Exclamou o jovem enquanto se levantava e sacudia a poeira das vestes.

— Erick? O que faz aqui?

— Eu estava te procurando vossa alteza. Quando ouvimos a trombeta real todos corremos em direção ao pátio externo, perto das muralhas, para que pudéssemos encontrar com vossa alteza e o restante do exército. Encontramos os guerreiros seguindo para as casas de cura, e o povo ficou por lá, procurando por seus parentes e amigos, mas logo percebi que o senhor não estava lá. Então comecei a procura-lo.

— E o que te fez pensar que eu estaria aqui? – Thurgon estava curioso. Como seu jovem escudeiro teria adivinhado o local pelo qual ele entraria no castelo?

— Bem... a princípio, quando percebi que o senhor não estava junto aos demais, fiquei preocupado, pensando que o pior tivesse acontecido. Mas logo me lembrei que se vossa alteza tivesse caído em combate, nossos guerreiros teriam adentrado os portões de forma totalmente diferente. Inclusive a nota da trombeta seria outra. Então, eu sabia que o senhor estava vivo. Pensei que por algum motivo o senhor quisesse distância do povo. Talvez para tratar de assuntos pessoais? Ver alguém querido... então me lembrei da porta oculta do bailey externo e corri para cá. E aqui estamos!

— Muito bem. Tem uma mente sagaz meu rapaz... mas chega de conversa por enquanto. Você está certo, quero ver alguém querido e quero vê-lo já. Vamos entrar.

    O escudeiro do rei assentiu e acompanhou seu senhor no restante do caminho. Entraram pela porta oculta e seguiram o caminho sob as muralhas do bailey externo até chegar ao pátio. Thurgon seguia a passos largos e era acompanhado de perto pelo escudeiro, que o seguia em silêncio. Alguns serviçais viram que o rei havia retornado e correram até seu senhor, mas Erick rapidamente os despachou de volta a suas atividades rotineiras, dizendo que o rei estava se dirigindo a seus aposentos para descansar e não deveria ser incomodado.

    Ao chegarem no portão principal do bailey interno, Thurgon entregou seu elmo à Erick e deu a ordem para que o portão fosse aberto. Os guardas vacilaram por um instante devido a surpresa por ouvir a voz do rei de maneira repentina, mas logo se recompuseram e foram em direção as trancas para abri-las e dar passagem a seu soberano. Thurgon adentrou o recinto um instante depois da porta de ferro ser aberta. Os guardas mal tiveram tempo de saudar o rei à medida que ele passava, andando apressadamente em direção a torre de menagem. Erick vinha logo atrás.

— Eu irei direto para os aposentos de Talon, faça-me um favor Erick, não permita que sejamos incomodados. Caso eu queira ou precise de algo chamarei. – Thurgon falou ao escudeiro à medida que se aproximavam da torre de menagem.

— Sim, meu rei e senhor.

    Ambos entraram na torre. O escudeiro ficou no salão principal e o rei tomou a escadaria em direção ao quarto do filho. Thurgon empurrou a porta, que estava encostada, e entrou naquele ambiente tão familiar. O quarto era iluminado por velas, o chão era coberto por um tapete de pele de leopardo, havia uma pequena mesa retangular trabalhada em madeira de mogno no canto esquerdo e junto a ela duas cadeiras também feitas de mogno, sobre a mesa estava uma bandeja com os restos daquilo que teria sido o jantar de Talon. O garoto dormia em sua cama situada no canto direito do quarto. Thurgon pegou uma cadeira almofadada que estava no centro do quarto e se sentou ao lado da cama do menino. Retirou a manopla da mão direita e começou a acariciar os cabelos do filho. Os olhos estavam marejados de lágrimas.

Crônicas de Eretz: Queda de Reis (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora