Capítulo XIII - Batalha por Vinnfold

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    Quando estavam a pouco mais de vinte passos de distância Thurgon ordenou que seus guerreiros acelerassem o passo, e soltando um grito de guerra que preencheu o céu os homens chocaram seus escudos contra os do inimigo, e a terra gemeu sob o estrondo do impacto. Então começou a batalha por Vinnfold, sob o som da terrível sinfonia que se formou com clangor das lâminas, o ruído do metal se chocando contra os escudos, nos gritos de fúria e dor dos guerreiros.

    No Momento do impacto as linhas élficas, menos numerosas, tremeram e foram grandemente pressionadas. Mas a disciplina e experiência dos soldados centenários equilibrou as coisas. Quando o aperto da parede de escudos diminuiu, o elfo a frente de Thurgon desferiu uma estocada baixa com sua espada, mas o rei conseguiu abaixar levemente seu escudo, o que desviou a trajetória do golpe fazendo com que a lâmina passasse a centímetros de sua barriga. Nestor, que estava à direita do rei aproveitou a oportunidade e impeliu sua espada contra o braço estendido do inimigo. A lâmina encontrou uma brecha na articulação do cotovelo da armadura do elfo e atravessou ossos e carne. O elfo gritou de dor enquanto retraia o braço mutilado e dava um passo para trás. No mesmo instante Thurgon silenciou o oponente enterrando a espada em sua boca. Uma lança foi atirada da terceira fileira dos elfos em direção ao rei, mas o escudo do capitão da guarda impediu a arma de atingir seu alvo.

    Uma trompa soou uma nota estridente e inquietante em algum lugar no fim das fileiras élficas. Os homens já sabiam o que aquilo significava.

— Continuem pressionando! Vamos passar por cima deles antes que seus reforços cheguem! – Nestor bradava enquanto empurrava o inimigo a sua frente com o escudo.

    Enquanto o capitão da guarda gritava suas ordens o elfo a sua direita tentou estocar por baixo de seu escudo, mas acabou errando o golpe. Nestor contra-atacou imediatamente, impelindo sua espada contra a cabeça do elfo. O golpe atingiu o elmo e penetrou testa a dentro além do osso. O elfo desmoronou no mesmo instante e a luta continuou sobre seu corpo caído. O homem que estava atrás de Thurgon tombou atingido no peito por uma lança élfica. Ao lado esquerdo do rei, Darin cravou sua espada na têmpora direita do elfo que estava a sua frente, a lâmina penetrou o elmo e os ossos saindo pela têmpora esquerda. Os elfos iam cedendo terreno diante dos homens, que a cada momento que se passava atacavam com mais ferocidade e elevavam seus gritos de guerra.

    Os homens dominavam a batalha e muitos elfos jaziam mortos aos pés dos Grifos de Thurgon, mas quando pareciam estar prestes a romper a parede de escudos inimiga um clamor de trombeta soou novamente, uma nota semelhante àquela que havia sido tocada logo no início do combate. Então surgiram, como um enxame de gafanhotos, os elfos comandados por Gilgalion. Estavam escondidos bem próximos ao local da batalha e rapidamente se juntaram ao combate para reforçar as tropas élficas.

    Os elfos de Gilgalion surgiram pelo flanco direito das tropas dos homens, que ao verem o novo inimigo rapidamente se posicionaram para receber a carga. A investida élfica foi brutal e muitos homens pereceram sob o ataque. Percebendo que a situação no flanco poderia se tornar crítica, Thurgon ordenou que alguns dos homens de sua guarda pessoal, os melhores guerreiros do reino, fossem reforçar o flanco, dentre eles estavam Nestor o capitão da guarda, e os caçadores de trolls Brandon e Bern. Pelo cuidado de Tsaba'oh ali também estavam Malcon e os guerreiros sobreviventes de Staldfold, que com suas forças renovadas e sedentos por vingança, se lançaram sobre o novo inimigo com uma ferocidade sobre-humana.

    Enquanto abria caminho para se juntar ao flanco direito das tropas, Bern sopesou a lança e atirou-a contra os inimigos. A arma cortou os céus até atingir o alvo. Trespassou o pescoço de Amnroth, um dos capitães dos elfos. Brandon estocou por baixo do escudo do inimigo a sua frente; a lâmina venceu a proteção do torso, rasgou a cota de malha e aprofundou-se na carne. O homem girou a arma enquanto a retirava, fazendo o sangue escuro do elfo jorrar. Assim que o oponente de Brandon tombou, Nestor passou por cima dele, pisando em sua face e desferindo um golpe descendente com sua espada contra o elmo de outro elfo. A lâmina do capitão da guarda perfurou o elmo e se enterrou profundamente no cérebro do elfo, que morreu no mesmo instante. Malcon lutava ao lado de um homem com um machado que usava a lâmina como um gancho para abaixar o escudo do inimigo; no momento que os escudos abaixavam o templário de Tsaba'oh desferia uma estocada mortal.

    Aprincípio os elfos se espantaram com a violência do contra-ataque dos homens,mas logo se recuperaram do susto e passaram a se lançar ao combate com ainda mais afinco, empolgados com a resistência e o novo desafio que se lhes apresentava. Gilgalion bradava ordens a seus guerreiros enquanto usava sua longa lança élfica para atacar os inimigos, enterrou a lâmina na garganta de um homem e rapidamente voltou a brandir a arma para estocar um novo inimigo. O guerreiro ao lado esquerdo de Malcon foi derrubado e, antes que seus companheiros pudessem lhe dar qualquer ajuda, meia dúzia de lâminas élficas foram enterradas em seu corpo. Um homem tombou quando teve seu escudo, elmo e crânio partidos por uma espada.

    O combate seguia equilibrado, apesar da vantagem numérica dos elfos, os homens contavam com a benção de Tsaba'oh e lutavam com habilidade e fúria dignas do Senhor da Guerra. Em ambos os lados os guerreiros aparavam, cortavam, estocavam, derrubavam e matavam. A batalha seguia terrível e o chão havia se transformado em um mar de sangue.

   Na linha de frente das tropas humanas, Thurgon lutava como o próprio Tsaba'oh e mandava elfo após elfo para o gélido abraço da morte. E os elfos o evitavam em combate, pois naquele dia ele lutava como um deus.

— Apareça Elendor, seu covarde! Apareça e venha cruzar lâminas comigo! – gritava o rei enquanto brandia a espada e avançava sobre os inimigos.

    Elendor ouvia as palavras e o desafio do homem e ele mesmo estava desejoso de combate-lo, mas a mare da batalha o levou para a ponta esquerda da formação élfica, bem longe de seu desafiante. Mas sua espada não ficou ociosa, e o rei dos elfos abatia qualquer oponente louco o suficiente para o enfrentar.

    Galahir também era alguém a ser batido. O general manuseava a espada curta com habilidade, rechaçando muitos inimigos. Usou o escudo para empurrar um homem e força-lo a se desequilibrar e quando o inimigo abaixou a guarda, a lâmina do elfo já estava se cravando em suas costelas. 

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    Bem próximos do sopé das montanhas que cercavam o deserto de Grungarn, coberto por um nevoeiro magico, à sul do local onde o combate era travado, olhos gananciosos observavam o desenrolar da batalha.

— Príncipe, não deveríamos nos juntar ao rei?

— Nos juntaremos. No tempo certo. Até lá, observe Aeldred.

    O general se calou e voltou a olhar para o campo de batalha, apesar de sua mente estar mais focada em descobrir as intenções do príncipe do que prestar atenção a luta que seus irmãos travavam.

Crônicas de Eretz: Queda de Reis (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora