Capítulo XIV - Batalha por Vinnfold Parte II

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    A batalha seguia encarniçada. Homens e elfos tombavam, regando o solo com seu sangue. Quando o abraço da parede de escudos afrouxou e abriu maior espaço para a movimentação dos combatentes, dois capitães dos elfos, Torwe e Gildas, avançaram contra Nestor, sedentos para obter a gloria de derrubar o capitão da guarda real. Torwe desferiu um poderoso golpe contra o escudo do homem, mas a lâmina de sua espada não conseguiu vencer a bossa de ferro. O contragolpe de Nestor foi rápido como um relâmpago. Brandiu sua espada curta e penetrando a armadura, enterrou sua lâmina no ventre do elfo; girou a espada enquanto a retirava e quando a lâmina saiu de dentro da carne, o sangue e os intestinos de Torwe jorraram sobre o campo de batalha.

    Sem se importar com o companheiro que tombava, Gildas arremeteu contra o homem. Desferiu um golpe rápido com sua espada, visando o pescoço do inimigo. Nestor deu um passo para trás enquanto erguia o escudo; a lâmina conseguiu atravessar a madeira de tília, ferindo o braço de Nestor no processo, mas não obteve êxito em atingir a garganta. Gildas, confiante em sua vitória, retraiu a espada enquanto exultava:

— Escória! Sua vida me pertence! Grande favor obterei de meu rei quando entregar tua cabeça aos pés de Elendor.

    Mas Nestor franziu o cenho e, num movimento veloz, desembainhou a espada longa que trazia junto as costas. Arremeteram um contra o outro. Gildas atingiu o topo do elmo, adornado com asas de águia, mas ao avançar Nestor lhe desferiu uma estocada na testa, acima do nariz. O elmo do elfo se rachou e seus ossos estalaram, enquanto ambos os olhos lhe caíram ensanguentados no pó da terra. Vergando-se, Gildas tombou. Nestor pisou-lhe o peito e cuspiu em sua face desfigurada dizendo:

— Porco. Fique caído em sua imundície, onde é seu lugar.

    Nestor passou por cima do cadáver, sentia fortes dores no braço do escudo e o sangue escorria da ferida, mas o capitão da guarda não recuou e continuou a pressionar os inimigos; enquanto ordenava que os homens ficassem firmes e incitava-os a grandes feitos de coragem. Os elfos por sua vez não cediam, e sedentos por sangue humano continuavam a atacar. O guerreiro ao lado direito de Nestor tombou com uma espada curta cravada em seu peito. Bern assumiu o lugar do companheiro caído.

— Esses desgraçados não desistem.

— São muito arrogantes, mas venha vamos mostrar a eles o que os grifos de Thurgon são capazes. – Respondeu o capitão da guarda, enquanto empurrava o inimigo com o escudo.

    Sorrindo, Bern assentiu para seu capitão e fixou o olhar no inimigo a frente. Apertou o cabo de Durandel, a espada de lâmina larga que usou para caçar os trolls do norte, e avançou contra os elfos. Brandiu a espada e feriu no ombro o elfo que tentava vencer a defesa de Nestor. A lâmina poderosa penetrou através da armadura e dilacerou carne e ossos. Enquanto o elfo tombava, Bern se lançou a outro inimigo e enterrou sua lâmina no flanco do elfo a sua esquerda. No momento em que recolhia o braço da espada para junto do corpo, Bern foi atingido por uma lâmina que o feriu próxima a articulação do cotovelo. O homem vociferou um insulto enquanto se contraia com a dor, mas não se deu por vencido e continuou a manusear a espada, Nestor atacou as costelas de um inimigo, forçando-o a mover o escudo naquela direção para se proteger, abrindo um ponto vulnerável em seu flanco oposto; Bern aproveitou a brecha e enterrou Durandel profundamente nas costelas do inimigo, fazendo com que a lâmina chegasse ao coração.

    Brandon abaixou-se para se desviar de um golpe de lança e, erguendo-se, desferiu uma estocada e sua lâmina penetrou a couraça e peito de seu agressor. Imediatamente após a queda de seu companheiro, o elfo que estava atrás saltou contra o homem desferindo um violento golpe de espada. O golpe penetrou o escudo, mas foi contido pela resistente couraça da guarda real. Em contragolpe, Brandon brandiu sua lâmina em um golpe diagonal de cima para baixo e sua espada rachou o elmo do inimigo, espalhando sangue e miolos por todos os lados. Em seguida virou-se aos companheiros e incitou-os a avançar e cobrar dos elfos a vingança.


    Naquele dia terrível, os homens não eram os únicos a estar sedentos por sangue, e os campeões dos elfos também realizavam grandes feitos. Galahir se esquivou de um golpe de lança de um dos grifos de Thurgon e agarrando a haste da arma puxou o homem a seu encontro, cravando a lâmina de sua espada na garganta do inimigo. Depois se lançou contra outro oponente e brandindo a espada por baixo da proteção facial do elmo, cravou sua lâmina em um maxilar coberto de pelos, quando o homem tombou, sua barba negra havia assumido a cor do carmesim com o sangue que jorrou da ferida. Galahir passou por cima do cadáver enquanto incitava seus soldados ao combate.

    Gilgalion não ficava aquém de seu companheiro, e lutava com habilidade e fúrias dignas de seu posto de general. Pegou uma lança caída junto a um morto e lançando-se contra o homem à sua frente, cravou-a no peito do inimigo que caiu com um estrondo. Avançando contra outro inimigo, o elfo brandiu sua espada e atingiu o baixo-ventre do homem que lhe fazia frente. A espada atravessou a couraça e chegou aos órgãos internos. Assim que tombou o homem foi imediatamente substituído pelo companheiro que estava atrás de si, e aquele novo oponente arremeteu com fúria contra o elfo, buscando vingar o companheiro abatido, impeliu a lança que trazia nas mãos contra o general. A arma não atingiu o alvo, passando por cima do ombro esquerdo de Gilgalion, apenas arranhando sua armadura; mas o contragolpe do elfo não foi em vão, sua espada atingiu o tórax do homem e, perfurando a couraça e os pulmões. Gilgalion voltou-se a seus soldados e incitou-os:

— Venham comigo! Sigam-me e abriremos um caminho de sangue entre nossos inimigos. Vamos mostras a essas crianças o poder e a força de seres superiores!

    Ouvindo as palavras do general o ânimo dos elfos se inflamou ainda mais e caíram sobre o inimigo com grande ímpeto. Sob gritos terríveis e o forte eco das armas de homens e elfos a sangrenta batalha por Vinnfold seguia aterradora. Brandon lutava em um local onde a parede de escudos élfica havia praticamente se rompido, e os inimigos estavam a alguma distancia uns dos outros. O homem se via pressionado por três elfos que estocavam e brandiam suas armas contra seu escudo em busca de vencer a defesa do homem e lhe ceifar a vida. Um dos elfos desferiu um golpe no flanco esquerdo do homem, mas o ataque não obteve êxito, sendo bloqueado pelo escudo; outro elfo aproveitou a oportunidade para atacar o inimigo pelo flanco direito, mas dessa vez a lâmina da espada de Brandon bloqueou o golpe do adversário; então o terceiro elfo atacou, e dessa vez não houve nada que o caçador de trolls pudesse fazer, a espada élfica atingiu o ombro do homem que gritou com a dor aguda que lhe percorreu o corpo.

    Nestor não estava longe do local onde Brandon combatia e, vendo a terrível situação em que seu amigo e irmão de armas da guarda real se encontrava, se dirigiu a seu encontro na esperança de o socorrer.

    Apesar da dor e da violenta pressão que os inimigos faziam, Brandon não se entregou e obrigou-se a responder o ataque de seus inimigos. O homem usou o escudo e o peso de seu corpo avantajado para empurrar o elfo a sua frente e o elfo a sua esquerda e quando os oponentes recuaram, dando espaço para uma maior movimentação, colocou toda sua força e peso em um chute de sua bota revestida ferro, que desferiu contra o joelho do elfo à sua direita. O golpe foi forte o suficiente para esmagar a armadura e tudo o que ela protegia, fraturando o joelho do inimigo e lançando-o ao solo com uma dor lancinante. Logo que o elfo caiu, Brandon se lançou sobre ele, obrigando seu ombro ferido a se movimentar para manusear a espada em uma estocada fatal que pôs fim a vida do inimigo.

    No momento em que Brandon inclinou o corpo sobre o adversário, os outros dois elfos encontraram a brecha que queriam, e sem pensar duas vezes atacaram o homem pelas costas; enterrando suas espadas profundamente no corpo de Brandon,que morreu sem ver o inimigo que o atacava. 

Crônicas de Eretz: Queda de Reis (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora