Vendo o amigo ser abatido de maneira tão covarde diante de seus olhos, Nestor foi tomado por um intenso sofrimento e, enfurecido, se lançou contra os inimigos. Então, lançando mão de uma pedra que encontrou pelo caminho até os oponentes, atirou-a com uma precisão mortal. A pedra voou até atingir a cabeça de um dos elfos, fendendo todo o crânio dentro do pesado elmo élfico. Desembainhou a espada e atacou o último dos três elfos, que também se lançou, de espada empunhada contra o homem.
O elfo correu em direção ao homem enquanto brandia sua espada em breves e rápidos movimentos, na intenção de confundir o oponente. Nestor não se intimidou com a movimentação do inimigo, nem diminuiu o ritmo de sua passada e avançou como um leão faminto que ataca sua presa. Quando estavam a menos de um metro de distância o elfo impeliu sua arma na tentativa de estocar o peito do adversário. Mas o golpe do elfo foi em vão, pois o capitão da guarda real girou sobre os calcanhares e numa hábil finta deu a volta em seu inimigo enquanto enterrava a lâmina em suas costelas, que desabou logo quando recebeu o golpe.
Não satisfeito com a morte daquele inimigo, tomado por fúria e desejo de vingança, Nestor gritou a alguns dos homens que combatiam próximos de si e os incitou a avançar contra a debilitada formação élfica que se apresentava contra eles. Aldrahard, um dos capitães dos elfos que se encontrava ali, tentou reorganizar a formação esbravejando ordens a seus subordinados que tentaram reorganizar a parede de escudos, mas a fúria de Nestor e dos homens era terrível naquele dia e não houve elfo que aguentasse manter sua posição contra a investida daqueles guerreiros.
Correndo a frente de seus guerreiros, o capitão da guarda se lançou sozinho sobre a parede de escudos inimiga, escondendo-se sob o escudo para se proteger dos dardos que os elfos lhe lançavam. Saltou sobre os oponentes e derrubou três deles consigo, levantou rapidamente e logo cravou a espada no peito de um dos caídos enquanto reerguia o escudo para bloquear os golpes dos demais elfos. Os outros homens vieram logo atrás como abutres se lançam aos cadáveres. Nestor se desviou de um elfo que carregou sobre si com uma lança, agarrou a haste da arma e lançou o atacante contra os próprios companheiros. Virou-se e, num movimento rápido e letal cortou a garganta de outro inimigo. Uma lança foi atirada contra as costas do poderoso guerreiro, mas foi desviada pelo escudo de um companheiro que rapidamente se postou em auxilio do capitão.
Aldrahard fintou um oponente e empalou outro com sua espada e logo se virou para combater o capitão dos homens. Nestor fixou os olhos no inimigo à quarenta passos de distância e seu espirito o incitou a combate-lo. Correu em direção a Aldrahard, com a maré da batalha conduzindo-o a seu destino. Enquanto o homem corria em sua direção, o vil Aldrahard olhou para o combate que era travado atrás do oponente e viu que os homens que ali lutavam eram uma minoria e que logo chegavam mais e mais elfos para pressioná-los. Então, para afastar ainda mais o inimigo de seus aliados e privar aqueles homens da forte liderança de Nestor, o elfo correu da face do homem.
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No nevoeiro sob as montanhas, uma voz sombria finalmente deu a palavra de comando que os elfos tanto aguardavam:
— Sopesem bem o peso de suas armas e certifiquem-se que elas estejam bem afiadas. Pois agora nos juntaremos a batalha.
Enquanto os soldados se armavam e organizavam a formação para marcha Érebo se pôs ao lado de Aeldred, que há muito estava pronto para o combate.
— Diga-me, o que acha do nosso rei.
A pergunta pegou o general de surpresa, e o elfo demorou alguns instantes tentando descobrir com que intento ela foi feita, mas não logrou êxito.
— Meu príncipe e senhor, seu pai é um grande rei. Um elfo poderoso e um grande conquistador.
O príncipe sorriu e virou as costas ao general. Proferiu suas palavras enquanto caminhava para assumir a liderança da hoste élfica:
— Bem, parece que o grande conquistador precisará de nossa ajuda para desbaratar aqueles homens. Venha. Vamos derrotar seus inimigos e dar a glória ao nosso rei. – Érebo não esperou por uma resposta e deixou Aeldred sozinho enquanto suas palavras pairavam no ar.
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Depois de se afastar Nestor à uma considerável distancia de seus homens, Aldrahard se voltou para enfrentar o capitão da guarda com um sorriso no rosto.
— O que há de tão engraçado, criatura nojenta? Sorrir não o livrará da morte que o aguarda.
— Morte? Creio que ela já recebeu todos aqueles guerreiros que tinham te acompanhado, agora que se encontram sem sua liderança.
Nestor se virou para trás quando se apercebeu da situação. Ao longe pôde ver que todos aqueles valentes homens que o seguiram para romper a parede de escudos élfica haviam sido cercados e massacrados. Voltou-se para o inimigo com o peito ardendo em ódio:
— Maldito! Covarde! Pagará por isso.
— Então venha me cobrar. – Respondeu o elfo, ainda com um sorriso zombeteiro nos lábios.
O líder dos grifos de Thurgon avançou contra o inimigo. Brandiu a arma em um golpe horizontal pela direita que foi bloqueado pelo escudo do oponente. O elfo contra-atacou com uma estocada, mas o homem desviou com um salto para trás e voltou a brandir a espada, dessa vez atacando pela esquerda. Aldrahard aparou o golpe com sua espada e chutou o peito do inimigo empurrando-o para longe.
O elfo avançou brandindo a espada enquanto tentava aproveitar o desequilíbrio do oponente, mas Nestor conseguiu se desviar do golpe, ainda que a lâmina de Aldrahard criasse um profundo talho em seu rosto. O sangue jorrava na face do homem que encarava fixamente o olhar desdenhoso do inimigo, que agora estava parado a sua frente como que o convidando a atacar. Nestor aceitou o convite. Se lançou contra o inimigo brandindo a espada violência e força selvagem em um golpe ascendente vindo pela direita. " Idiota. Fazendo um ataque imprudente e pelo lado onde está a minha guarda. Ele acha mesmo que pode romper minha defesa apenas com força bruta?..." Os pensamentos de Aldrahard foram interrompidos por uma súbita dor que o acometeu vindo de seu flanco direito. Inacreditavelmente o homem conseguiu não somente parar o golpe, bem como traçar uma nova trajetória com sua lâmina, fazendo sua arma atacar o flanco desprotegido do adversário. A ponta da espada de Nestor atravessou a armadura, perfurou a carne e rompeu os ossos da costela.
Por um segundo Aldrahard se retraiu com a dor. Foi o suficiente para o capitão da guarda brandir a espada novamente. O golpe foi tão brutal quanto o anterior havia ameaçado ser. Atingiu o braço da espada, atravessando a armadura e amputando metade do antebraço do elfo no processo. Aldrahard berrou de dor enquanto caia de joelhos sobre o solo encharcado com seu sangue.
— Você realmente achou que eu daria um golpe tão imprudente como aquele? Os seus séculos de vida não te deram nenhuma experiência? – Zombou o homem ao se aproximar do elfo caído – não vai erguer a cabeça para me olhar nos olhos? – Perguntou.
Como o elfo não dava resposta alguma e ainda mantinha a cabeça abaixada, Nestor desferiu o último golpe. A lâmina de sua espada, acertou a nuca e decepou a cabeça de Aldrahard, que morreu da forma que viveu: como um covarde. Logo que o elfo caiu, Nestor se virou em direção a seus aliados. Aqueles que o haviam acompanhado tinham perecido sob as lâminas élficas, mas Malcon e o grupo de sobreviventes de Staldfold lideraram um contra-ataque aos elfos e os rechaçaram. O capitão da guarda real correu em direção aos aliados para ajudar a repelir as forças de Gilgalion, que agora exceto pelo próprio general, estavam desprovidas de liderança; passou pelos soldados das últimas fileiras e logo se postou a combater na linha de frente novamente, ao lado de Malcon.
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Crônicas de Eretz: Queda de Reis (Concluído)
FantasiA terrível guerra entre elfos e humanos está aproximando-se de seu fim. De um lado, os malignos e antigos elfos, liderados por Elendor, buscam conquistar o último reino dos homens e expandir ainda mais seus territórios. De outro, os homens, liderad...