Capítulo XXV - Érebo Revela Seus Planos

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    A comitiva élfica seguia seu caminho em direção a Vestfold. Elendor ditava um ritmo intenso para a marcha. Os elfos haviam deixado os escravos para trás, para que não atrapalhassem o ritmo da marcha, mas até mesmo os vigorosos guerreiros centenários tinham dificuldade em seguir no ritmo impetuoso ordenado por seu rei, os guerreiros na retaguarda da comitiva carregavam os materiais para a montagem das armas de cerco, eram eles os que mais sofriam para acompanhar Elendor e o restante das tropas.

— Diga-me, Gilgalion, como acha que será essa batalha? –Galahir perguntou ao general, que caminhava a seu lado.

— Um massacre, é isso que será. A nata do exército élfico está marchando contra Vestfold, e o que eles têm? Uns setecentos guerreiros em condição de lutar? Quando vencermos os portões e as muralhas eles estarão condenados.

— Imagino que tipos de espólios encontraremos – Comentou Galahir.

— Bem, é a capital do reino, o saque deve ser grandioso! – Respondeu Aeldred, juntando-se a conversa.

    Érebo acompanhava o pai que cavalgava alguns metros à frente dos generais. Pai e filho conduziam suas montarias em silêncio, ambos maquinavam o mal, cada um pensando em seus próprios interesses.

— Em quanto tempo acha que chegaremos a capital dos homens? – Elendor perguntou ao filho.

    Érebo retirou um pergaminho de seu cinto, que ao ser desenrolado se revelou um mapa. Após alguns instantes observando a paisagem ao redor e voltando os olhos para o mapa que tinha diante de si o príncipe respondeu:

— Veja, estamos aqui –Érebo indicou com o dedo a localização onde se encontravam – e Vestfold fica aqui – O elfo deslizou o dedo até chegar no local desejado – então creio que amanhã à noite já estaremos lá.

— Muito bem. – Elendor respondeu com um sorriso largo e continuou incitando seu garanhão em um ritmo firme e rápido.

    Os elfos seguiram marchando por toda a tarde e Elendor os ordenou a continuar marchando por um bom tempo depois das luas terem surgido no céu. Somente depois de uma caminhada longa e exaustiva Elendor finalmente permitiu que suas tropas montassem acampamento e descansassem.

    Sob a luz das luas de Eretz, os elfos montaram suas tendas e acenderam fogueiras, abriram os estoques de suprimentos que traziam consigo e pegaram o necessário para se alimentar naquela noite. Comeram queijos, carnes secas e tomaram vinho. Érebo, que não se juntou aos demais, mandou que Aeldred fosse convocado a sua tenda. Em pouco tempo o general atendeu ao chamado do príncipe.

— Entre Aeldred, temos que conversar – Érebo estendeu a mão, indicando o local onde Aeldred deveria se sentar.

— A última batalha contra os humanos se aproxima... – o príncipe começou a falar depois de seu convidado ter tomado seu lugar – As fronteiras élficas estão se expandindo. Mas me flagro pensando no reinado. Diga-me Aeldred, o rei está no trono a quanto tempo?

— Meu príncipe, Elendor, seu pai, já era rei quando nasci a quatrocentos anos atrás e ele já era rei quando meu pai nasceu mil anos atrás... pelo que sei, seu reinado já se estende por quase dois mil anos.

— Dois mil anos... Aeldred, não acha que é hora de mudar o reinado? – Aeldred olhou para o príncipe, seus olhos estampavam um misto de confusão, incredulidade e temor. Como o general não respondia, Érebo continuou – É hora de um novo monarca se assentar no trono em Svartálfar.

    Aeldred permaneceu em silêncio. Ele vinha suspeitando das motivações e atitudes do príncipe a muito tempo e naquele momento as peças do quebra cabeça finalmente se encaixaram.

— Escute-me. Na luta que travaremos, não fique próximo de meu pai. Tenho alguns planos para ele, mas não posso dizer o que acontecerá nem a ele nem aos que estiverem junto ao rei, então não se arrisque. Seria uma pena se algo acontecesse a meu general favorito...

— Não entendo, porquê está me dizendo essas coisas agora?

— Vamos Aeldred, não aja como se não suspeitasse de mim. Apenas confirmei suas suspeitas. E além disso, vou precisar de alguns aliados com alguma capacidade quando assumir o trono. Ou acha que te salvei apenas para me ajudar a me tornar rei?

    Aeldred, perplexo, olhava para o príncipe sem que conseguisse esboçar alguma reação. Após alguns segundos angustiantes, finalmente conseguiu retomar o controle dos lábios e questionou Érebo:

— E porquê acha que, agora que sei de tudo isso, permanecerei leal a você?

— Talvez seja apenas minha intuição. De qualquer forma, sua decisão não mudará em nada os acontecimentos que estão por vir. Na verdade, eu adoraria te ver tentando me impedir – Érebo revelou um sorriso sádico – Mas se souber o que é melhor para você, ficará do meu lado, não contra mim.

    Érebo sorriu, cheio de satisfação enquanto observava a expressão de Aeldred. Deixou que o silêncio reinasse por mais alguns instantes.

— Já encerramos nossos assuntos. – Disse o príncipe enquanto apontava com a mão direita a saída de sua tenda.

    Aeldred, ainda sem esboçar alguma reação, acenou e se levantou. Caminhou em silencio em direção a saída, deixando o príncipe a sós novamente. Enquanto caminhava, a mente do general fervia com uma infinidade de pensamentos. Aeldred passou a noite em claro, refletindo sobre qual seria a melhor decisão a se tomar.

    Elendor fez com que os elfos acordassem antes mesmo do raiar do sol. As luas ainda não tinham desaparecido do horizonte quando o contingente élfico terminou o desjejum e começou a s preparar novamente para a marcha.

— Certifiquem-se de que não estamos deixando nada para trás, especialmente as armas de cerco. Se uma única peça do aríete estiver faltando quando iniciarmos o ataque, arrombarei os portões de Vestfold usando a cabeça do responsável! – Bradava Elendor enquanto seus subordinados iam e vinham finalizando os preparativos para retomar a caminhada.

    Em menos de uma hora tudo estava pronto e os elfos se colocaram em marcha antes dos primeiros raios de sol tocarem a terra. Elendor ordenou um ritmo de marcha tão intenso quanto no dia anterior, sua ânsia por destruir a última cidade do reino de Thurgon era enorme. Érebo seguia junto ao pai caminhando a frente das tropas, Gilgalion e Galahir não estavam por demais afastados, seguiam cerca de dez metros atrás do rei e príncipe enquanto Aeldred se mantinha mais distante dos demais oficiais de alta patente, seguindo junto aos elfos que se encontravam no meio da comitiva, o general ainda pensava sobre a conversa que tivera com Érebo na noite anterior.

    Durante todo o dia os elfos seguiram a passos largos sem uma única pausa para recuperar o fôlego. Quase duas horas depois do sol ter desaparecido do horizonte, o contingente élfico finalmente se deparou com a visão das muralhas de Vestfold.

— Alto! – Bradou Elendor – teremos uma pausa de trinta minutos. Depois disso preparem as escadas e o equipamento de cerco, só permitirei que levantem acampamento e descansem depois que tudo estiver pronto. Amanhã os homens acordarão com os sons de nossos guerreiros subindo pelas muralhas e com o "badalar" de nosso aríete em seus portões.

Crônicas de Eretz: Queda de Reis (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora