Passagem de tempo

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Cena 1
Anoitece.
Após terminar de fazer as unhas de uma cliente, Neide está deixando a casa da mesma. Logo, ela segue até o ponto de ônibus, que não demora a chegar. Assim, em meio ao aperto ela regressa para casa. Quando finalmente chega, acaba estranhando o silêncio de sua mãe, e quando vai até o seu quarto acaba vendo-a caída no chão.
NEIDE(assusta-se)- Mãe.
Nervosa, ela tenta acordá-la.
NEIDE(continua)- Mãe. Fala comigo! Mãe.
Tensa, ela pega o celular e liga para Fábio.
NEIDE(continua)- Fábio. Volta pra casa imediatamente. A velha está caída no chão. Eu não posso levá-la pro hospital assim. Vão achar que eu não tô cuidando dela.
Cena 2
Cai à tarde.
Viaturas da polícia partem em direção a marginal Tietê, em uma operação comandada por Rafael. Logo, as viaturas estacionam e os policiais tomam a rodovia e começam parar os veículos para averiguação.
RAFAEL(acena para um carro baixo que vem se aproximando)- Encosta. Encosta.
O motorista o obedece.
RAFAEL- Seus documentos e o documento do veículo.
O motorista entrega-os. Rafael averigua e diz:
RAFAEL- O senhor por gentileza abra o porta - malas do carro.
Mais uma vez o motorista o obedece. O Major faz uma vistoria e não encontra nada mais que algumas feiras.
RAFAEL(entregando os documentos)- Está liberado.
Logo, um caminheiro vem se aproximando, e ao vê a polícia não consegue camuflar seu nervosismo.
Logo, Rafael pede parada do mesmo.
Mesmo tenso, o caminhoneiro encosta.
RAFAEL- Seus documentos e o documento do veículo.
CAMINHONEIRO(entrega-os tenso)- Aqui.
Rafael averigua-os por alguns segundos.
RAFAEL(questiona)- O senhor vai levando uma carrada de quê?
CAMINHONEIRO- Batatas.
RAFAEL- Eu vou pedir por gentileza pro senhor abrir a carroceria...
CAMINHONEIRO(tenso)- Eu estou atrasado senhor. Já era pra mim ter entregue essa mercadoria desde ontem, mas as estradas não ajudaram. Estava chovendo muito...
RAFAEL(sério)- Isso não é um pedido! Isso é uma ordem. Abra a carroceria do caminhão, ou está levando algo ilícito?
CAMINHONEIRO(nervoso)- Não senhor. Eu não mexo com esse tipo de coisa não. Eu sou um cara honesto. Sou pai de família...
RAFAEL- Abra a carroceria.
Mesmo a contragosto, o caminhoneiro desce do carro e o obedece. De imediato, dois policiais começam averiguar a mercadoria e em meio as batatas acabam encontrando drogas.
POLICIAL(para Rafael)- Olha aqui a mercadoria dele Major!
RAFAEL(solta uma breve risada)- O senhor está preso.
CAMINHONEIRO(nervoso)- Não. Eu não sei como isso foi parar aí. Eu sou inocente!
RAFAEL(ordena para os policiais)- Algema! Algema!
Assim os policial fazem.
Cena 3
Já no hospital, Zenaide acabara de passar no médico, que parece intrigado com as explicações de Neide.
NEIDE- Eu juro para o senhor. Por um segundo que eu fui até a cozinha pegar uma comida ela caiu. Foi muito rápido.
MÉDICO- Eu também encontrei uma marca no braço dela...
NEIDE(revoltada)- Espera aí! O senhor está tentando insinuar que eu estou agredindo a minha mãe é isso?
MÉDICO- Senhora...
NEIDE- Eu seria incapaz de encostar um dedo num fio de cabelo da mulher que me deu a vida. Eu não sou um monstro. Sim, porque quem faz desse tipo de coisa é pior que um monstro. Essa marca só pode ter sido da queda que ela levou...
MÉDICO- Está bem. A senhora me desculpe. (pausa) Eu vou deixar a sua mãe em observação hoje. Amanhã pela manhã eu lhe darei alta. Também irei passar alguns exames para ela fazer, certo?
NEIDE- Ótimo.
O médico regressa para a sua sala, e Neide que está no corredor, volta para o quarto onde Zenaide encontra-se internada.
Cena 4
Algumas semanas depois...
Após vários dias pedindo pela saúde do seu filho, Cremilda está na sala do doutor Raul recebendo alguns resultado dos exames.
DR. RAUL- Surpreendentemente o Lucas tem mostrado um progressivo avanço em seu quadro...
CREMILDA- Mas ele ainda permanece em coma doutor!
DR. RAUL- A qualquer momento ele pode acordar dona Cremilda. O seu filho irá sair dessa Sã e salvo.
CREMILDA(emocionada)- Deus te ouça doutor.
Cena 5
(A música " Ave Maria" de Paula Fernandes começa a tocar ao fundo)
Em um paraíso rodeado de anjos, natureza e pessoas felizes, Lucas caminha aparentemente perdido, és que então mais na frente vê Diego, que sorrir para ele e diz :
DIEGO- Eu tô bem. (pausa) Eu tô feliz aqui.
Lucas tenta tocar-lhe, mas infelizmente suas mãos não conseguem mais tocar o seu corpo.
LUCAS(nervoso)- Diego.
Diego sorrir para ele e acaba desaparecendo no horizonte.
Depois desse sonho, felizmente Lucas abre os olhos, o que acaba surpreendendo a enfermeira que está ao seu lado.
ENFERMEIRA- Meu Deus!
Cena 6
Após um dia inteiro de trabalho, Sheila está saindo do seu consultório entretida no celular, quando então é surpreendida por Alzira.
ALZIRA- Sheila. Eu te liguei várias vezes, mas você não me atendeu. Então, eu resolvi vim até aqui falar com você.
SHEILA(sem jeito)- Dona Alzira...
ALZIRA- Só me ouve. Ouve o que eu tenho pra te falar.
Cena 7
Já em uma lanchonete próxima dali, Alzira e Sheila estão conversando.
ALZIRA- Eu sei que o meu filho foi grosso com você, mas eu sei que ele te ama...
SHEILA- Desde aquele dia ele nunca mais me procurou. Nem se quer me ligou.
ALZIRA- Ele é orgulhoso, mas não importa. Vai atrás dele. Não joga esse amor tão lindo que vocês sentem um pelo outro no ralo. Da uma chance ao Rafael. Vocês só precisam conversar...
SHEILA- Sou eu quem sempre corro atrás dele dona Alzira...
ALZIRA(pega em sua mão)- Eu gosto muito de você Sheila. Eu quero muito que você se case com o meu filho. Me dar mais essa chance.
Sheila fica pensativa.
Cena 8
De volta ao hospital, Cremilda está ao lado do seu filho sem conseguir conter as lágrimas.
O Dr.Raul também encontra-se ao seu lado.
LUCAS(confuso)- O que aconteceu mãe? Aonde é que eu estou? Eu não viajei?
CREMILDA(acariciando sua cabeça)- Deus é maravilhoso meu filho. Obrigada meu Deus. Obrigada.
DR. CREMILDA- Calma dona Clemilda.
LUCAS- Me fala o que aconteceu mãe.
DR. LUCAS- Está tudo bem Lucas. Depois sua mãe conversa com você.
LUCAS(tenta se mexer mais sente um forte dor no corpo)- Aí. Meu corpo está doendo muito. Minhas pernas...
DR. RAUL- Eu vou lhe medicar.
Cena 9
Rafael está indo em direção a porta, e quando abre-a acaba dando de cara com Sheila.
SHEILA- Será que podemos conversar?
Rafael a encara por alguns segundos, e diz :
RAFAEL- Está bem. (pausa) Entra.
Rafael fecha à porta e aproxima-se.
RAFAEL- Quer beber alguma coisa?
SHEILA- Não, obrigada. (pausa) Rafael, eu sei que eu me precipitei naquele dia. Eu só pensei em mim...
RAFAEL(tenso)- Eu acho melhor não falarmos mais disso...
SHEILA(aproxima-se e encara-o)- Eu não quero te perder Rafael. Eu te amo tanto. Vamos nos dar uma segunda chance. Vamos continuar de onde paramos.
Sheila o beija, mesmo ele ainda muito indeciso.
Cena 10
Sentada à mesa, Neide está revendo as contas ao lado de Fábio.
NEIDE- Esse mês estamos no zero Fábio. A miséria que a velha recebe mal vai dar pra pagar esses três boletos aqui. Eu não faturei quase nada esse mês. Tive muitas clientes canceladas...
FÁBIO- Calma meu amor. Eu vou dar um jeito. Eu vou arrumar algum serviço. Eu sei que está difícil, principalmente para um ex-presidiário, mas eu vou conseguir. A gente vai sair do vermelho.
Cena 11
Amanhece o dia.
Já no quarto, Cremilda está abrindo o jogo para Lucas.
CREMILDA- Eu não sei por onde começar te falar isso meu filho...
LUCAS(nervoso)- Sem arrodeios mãe. Eu estava prestes a viajar...
CREMILDA- O avião que você estava pilotando caiu meu filho.
LUCAS(em choque)- Que?
CREMILDA- Você passou três meses em coma. Mas você sobreviveu...
LUCAS- E o Diego mãe? E o Diego, ele está vivo não está?
CREMILDA(sem conseguir conter as lágrimas)- Infelizmente não meu filho. Só sobreviveram cinco pessoas incluindo você.
LUCAS(em planto)- Não. Não mãe. O Diego não morreu. Fala pra mim que é mentira! Fala pra mim que isso é um pesadelo.
CREMILDA- Infelizmente não meu filho. Infelizmente isso não é um pesadelo.
LUCAS- Eu nunca mais vou pilotar mãe. Minha carreira de piloto acaba aqui.
Cena 12
Alguns dias depois...
Já em casa, Lucas mesmo andando com ajuda de moletas, está em frente ao bar com duas malas se despedindo de sua mãe.
LUCAS- Até um dia mãe. Eu vou tentar curar essa dor bem longe daqui.
CREMILDA(em planto)- Me dar notícias meu filho. Não esquece de mim.
LUCAS- Jamais mãe. Um dia eu irei voltar.
Diva se aproxima.
DIVA(abraça-o)- Boa viagem Lucas. Quando voltar, trás um presente dos Estados Unidos pra mim.
LUCAS- Pode deixar dona Diva.
Assim, Lucas entra no UBER com a ajuda do motorista, e segue para o aeroporto Tom Jobim.
Ao chegar, ele faz o checa - in, segue para o avião e em questão de minutos a aeronave parte rumo aos Estados Unidos.
Um ano depois...

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