Todas as Formas de Amor

Planos

Cena 1
Confusa com tal proposta, Sheila se levanta e se afasta.
SHEILA- Esse é um plano absurdo! Eu não estou grávida.
ALZIRA(se aproxima)- Eu sei que você não está grávida. Mas esse é um plano perfeito pra você obrigar o meu filho a se casar com você. Depois que estiverem juntos, você dar um jeito de engravidar.
SHEILA(nervosa)- O Rafael é esperto! Ele vai descobrir...
ALZIRA(segura sua mão)- Deixa comigo Sheila. Eu estou com você. O Rafael nunca irá sonhar que isso é uma farsa. Faz o que eu estou falando, e deixa o resto por minha conta. (pausa) Você não vai se arrepender.
Cena 2
No banheiro, Neide está dando banho em Zenaide, que está tremendo de frio.
NEIDE(dá-lhe um tapa nas costas)- Para de se mexer velha insuportável! Eu vou te deixar aqui debaixo desse chuveiro o resto da noite, só pra vê se você morre logo de uma vez. (pausa) A tua sorte é essa miséria de dinheiro que você recebe, caso contrário, eu já estaria livre de você faz tempo. Eu não aguento mais limpar a tua bunda suja. Eu não aguento olhar mais pra essa tua cara irritante. (pausa) Muito em breve, o Fábio vai ter muito dinheiro, daí sim eu vou te colocar no primeiro asilo que aparecer na minha frente.
Neide dar um gargalhada e aperta as suas bochechas.
Cena 3
Anoitece.
No cair da noite, Fábio está subindo o morro com um carro repleto de armamentos e munições.
Ao chegar em cima, ele estaciona e segue até um dos traficantes.
FÁBIO- E aí primo! Na paz?
CARDEAL- E aí tio! Tudo suave.
FÁBIO- As encomendas estão todas no carro.
CARDEAL- Perfeito. Eu vou conferir.
Cena 4
Após receber uma boa grana pelo serviço, Fábio vem chegando em casa muito contente.
FÁBIO(chama-a)- Nega. Vem cá nega.
Nesse momento, Neide vem vindo do quarto preocupada.
NEIDE- O que ouve Fábio? Aconteceu alguma coisa?
FÁBIO(arrasta um maço de dinheiro do bolso)- Nossa primeira grana!
NEIDE(deslumbrada)- Quanto dinheiro!
FÁBIO- Isso é só o começo nega. Da onde veio esse, tem muito mais esperando pela gente.
Muito feliz, Fábio começa espalhar as cédulas pela sala e Neide o abraça muito feliz.
NEIDE- Eu estou vivendo um sonho meu Deus! Eu não estou nem acreditando que a nossa vida vai mudar...
FÁBIO- Muito em breve estaremos num casarão lindo! Eu, você é o nosso filho.
Fábio a beija.
Cena 5
Após um dia inteiro de muito trabalho, Rafael está chegando em casa. Cansado, ele se deita um pouco no sofá e começa relembrar à noite passada.
Sem conseguir conter a saudade, ele pega o celular e liga pra Lucas.
RAFAEL- Lucas. E aí, topa sair comigo hoje de novo? (pausa) Ótimo. Vou tomar um banho e a gente se encontra na lanchonete de sempre. Abraço!
Rafael desliga e fica pensativo.
Cena 6
Alguns minutos depois, Lucas já se encontra na lanchonete a espera de Rafael assistindo a uma roda de samba que está se apresentado ali cantado a música "Sonho meu" de Maria Betânia.
Não demora muito, Rafael chega na lanchonete e se aproxima de Lucas.
RAFAEL- Cheguei.
LUCAS(cumprimenta-o com um aperto de mão)- E aí?
RAFAEL(puxa a cadeira e senta-se)- Desculpa aí se demorei. Peguei um pouco de trânsito.
LUCAS- Sem problemas.
RAFAEL- Já sabe o que vai querer hoje?
LUCAS- Já. Vou pedir um bolo de cenoura no capricho, e você?
RAFAEL- Acho que vou pedir o mesmo que você se você permitir.
LUCAS(solta uma risada)- É claro que eu permito.
Cena 7
Após jantarem, Rafael conduz Lucas até a igreja de São Jorge.
RAFAEL(ao lado da imagem de São Jorge)- Esse é o meu santo protetor! Ele me protege desde quando eu era criança. Eu nasci com um problema de saúde, então a minha mãe fez uma promessa pra São Jorge e eu me curei.
LUCAS- Que lindo cara!
RAFAEL- Eu sou grato a São Jorge por tudo. (pausa) É o meu santo guerreiro.
LUCAS- Muito linda essa sua devoção por ele.
RAFAEL- A fé é capaz de mover montanhas.
Rafael e Lucas trocam olhares.
LUCAS(sem jeito)- Rafael, a gente vem construindo uma linda amizade, e até então eu nunca falei muito de mim pra você. Nos conhecemos "superficialmente".
RAFAEL- Imagina. Nos conhecemos ontem, e pra mim parece que já nos conhecemos há anos.
LUCAS- Tem coisas que não parecem óbvias, mas elas existem. Estão ali quietas. Verdades que sentimos medo de falar.
RAFAEL- Você falando assim me deixa preocupado. Está querendo dizer alguma coisa?
LUCAS- Eu sou gay Rafael. Eu sou homossexual.
Sem jeito, Rafael fica em silêncio.
LUCAS- Eu vou entender se você a partir de hoje não quiser manter mais contato comigo. Fica tranquilo. Eu não ficarei chateado contigo. Eu não podia ficar em silêncio sem te falar nada. Esse sou eu. O Lucas verdadeiro.
RAFAEL(nervoso)- Eu...
LUCAS- Não precisa falar nada. Eu entendo. (pausa) Foi muito bom estar ao teu lado durante esse tempo. Você é um homem perfeito! Um homem que um dia eu espero encontrar pra mim. Obrigado por tudo!
RAFAEL(nervoso)- Mas...
Lucas se retira e Rafael fica na igreja sem ação.
Cena 8
Amanhece o dia.
Em seu quarto, Lucas está conversando com Tônia.
LUCAS- Eu falei pro Rafael que eu sou gay...
TÔNIA- E ele?
LUCAS- Não soube falar nada. Ficou em silêncio. (pausa) Eu acho que a nossa amizade chegou ao fim ali mesmo.
TÔNIA- Nossa! Você acha que ele é tão retrógrado assim?
LUCAS- Eu não sei. Eu só acho que a nossa amizade ficou muito abalada depois de ontem.
Cena 9
( A música " Tristeza" de Diogo Nogueira começa a tocar ao fundo)
No bar, Cremilda está terminando de lavar alguns copos ao lado de sua amiga Diva.
Alguns clientes estão sentados nas mesas.
DIVA- Nunca mais eu vou esquecer aquela noite. Eu dançando com o Zeca Pagodinho...
CREMILDA- Ele ficou foi com pena de você. A pessoa quase tendo um troço...
Nesse momento, Rafael adentra no bar muito tenso.
DIVA(para Cremilda)- Amiga, o policial gostoso acabou de entrar aqui.
De imediato, Cremilda vira-se para Rafael.
RAFAEL(cumprimenta)- Bom dia! Dona Cremilda, eu gostaria de falar com o Lucas, ele está?
CREMILDA- Tá sim meu filho. Você já conhece a casa, pode entrar. Ele tá lá no quarto dele.
Cena 10
Ainda no quarto, Lucas continua conversando com Tônia.
LUCAS- Infelizmente apesar de todos os avanços sociais ocorridos, nós LGBTS ainda somos incompreendidos pela sociedade. Muitos pensam que é safadeza da gente... Uma escolha. Mas não é. Ninguém escolhe sofrer preconceito, ser agredido, menosprezado pela família. (pausa) Isso é questão de sentimento. Não nos sentimos atraídos por mulheres. Mas isso não nos torna inferior ou superior a ninguém. Somos todos iguais.
TÔNIA- Só espero que esse policial não seja ignorante até esse ponto...
Nesse momento, Rafael chega ao quarto que se encontra com à porta aberta e o chama.
RAFAEL(tenso)- Lucas.
Imediatamente Lucas olha para ele , e os dois ficam se encarando.