Um mistério: Extensão do Último Capítulo

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Cena 1
Orfanato Gotas Flor Amor.
Rafael e Lucas estão a conversar com a diretora do orfanato, a senhora Beta Gurgel.
BETA- Então, vocês estão querendo adotar uma criança?
Rafael e Lucas trocam olhares.
RAFAEL- Sim. Queremos muito.
BETA(tensa)- Vocês sabem o quão vulnerável essa criança vai ser, né? Estão cientes que ela vai sofrer muitos julgamentos por ter dois pais...
RAFAEL- Estamos cientes sim, mas independente de tudo, não vai faltar amor pra essa criança.
BETA - Eu sei. Mas o convencional é um pai e uma mãe...
LUCAS- Isso não faz diferença. Quantas mães e quantos pais heterossexuais num abadonam seus filhos? São pais apenas no nome, mas na verdade nunca souberam serem pais de verdade.
BETA(tensa)- Um processo de adoção, principalmente no caso de vocês demanda muito tempo...
RAFAEL- Estamos dispostos a esperar o tempo que for preciso.
BETA(tensa)- Tá bem.
Cena 2
Numa curta passagem de tempo, Rafael e Lucas estão visitando as crianças no orfanato presenteando - as com brinquedos.
RAFAEL- Olha esse carrinho aqui que maneiro!
LUCAS- E essa boneca... Ela fala,  você sabia?
De parte, Beta e uma professora assistem ao comportamento do casal.
PROFESSORA- Eles serão ótimos pais!
Beta sorrir tentando disfarçar o incomodo que está a sentir perante tal cena.
Nesse momento, a enfermeira Matilde vem se aproximando com Lipe, um pequeno de seis anos de idade cadeirante.
MATILDE(para Lipe)- Vamos pegar um brinquedo, Lipe!
LIPE- Eu não quero nada, Matilde. Eu só queria uma família, mas sei que nunca vou conseguir ter uma.
MATILDE- Não. Não fale assim.
LIPE- Quem vai querer adotar um inválido?
Nesse momento, Rafael volta seu olhar para Lipe, e não demora muito se aproxima.
RAFAEL- E você, eu nunca tinha visto você por aqui?
LIPE- É normal. Ninguém nunca me nota.
RAFAEL(se agacha ao seu lado)- Por que está falando assim?
MATILDE- Ele se acha inferior a todas as crianças daqui por ser deficiente.
RAFAEL- Não. Você não pode pensar assim. Você é muito especial, sabia?
LIPE- Eu só queria uma família, mas ninguém me quer. Eu sou um aleijado.
Cena 3
Presídio Feminino do Rio de Janeiro. 
No pátio, as detentas estão tomando banho de sol. Isolada das demais, Neide está encostada no muro fumando, quando então o carcereiro Pedro se aproxima e fala discretamente:
PEDRO- É hoje! É hoje à noite.
Pedro se retira, e Neide resmunga contente :
NEIDE- Depois desses longos anos, vou ter a minha liberdade de volta.
Cena 4
Anoitece.
Na escola Monteiro Lobato, Gustavo está recebendo seu diploma de conclusão do ensino fundamental. Sua tia Leinha e sua avó Zenaide estão sentadas logo mais a frente.
LEINHA(emocionada)- Parabéns meu amor!
ZENAIDE(para Leinha)- É tanta felicidade que não cabe no peito.
Cena 5
(A música " Martelo Bigorna" de Lenine começa tocar ao fundo)
Com o apoio de Pedro, seu amante, Neide está fugindo da penitenciária cautelosamente pela a porta dos fundos que ele deixou propositalmente aberta.
Assim que chega do lado de fora, ela sai correndo até ele que lhe espera mais a frente de carro.
PEDRO(diz assim que ela entra no carro)- Tá livre!
NEIDE- Graças a você!
Neide o beija.
PEDRO- Agora podemos ir. Eu já consegui os seus novos documentos. A partir de hoje, você se chama Soraya Brandão.
NEIDE- Calma. Antes de ir, eu quero vê uma pessoa.
Cena 6
Amanhece o dia.
Na sala, Leinha está a espera de Gustavo, que está no quarto terminando de se arrumar para ir ao mercado com ela.
Em sua cadeira de rodas, Zenaide está fazendo croché.
LEINHA- Vambora Gustavo! Eu estou com pressa.
GUSTAVO(retruca entrando na sala)- Tô indo mãe.
LEINHA- Se aprece, que a mãe ainda tem que passar no correio.
GUSTAVO- Eu já tô pronto.
LEINHA- Então vamos! (para Zenaide) A senhora fique aqui tia, que eu não demoro.
ZENAIDE- Pode ir tranquila filha.
Leinha e Gustavo se retiram, e quando saem do lado de fora, acabam caindo na vista de Neide, que está dentro do carro de Pedro usando uma peruca loira.
NEIDE(emocionada)- É o meu filho! Meu Deus, como ele cresceu e ficou bonito. (pausa) Como eu queria poder abraçá-lo, ouvi-lo me chamar de mãe...
PEDRO(interrompe-a)- Vamos indo. É muito arriscado ficarmos aqui.
Pedro liga o carro e se retira em alta velocidade. Olhando para trás, Neide enxuga as lágrimas.
PEDRO- Daqui até Bom Jesus são longas horas de viagem.
Cena 7
Em casa, Alzira está servindo o café da manhã para Rafael e Lucas.
RAFAEL- A gente vai adotar uma criança mãe.
ALZIRA(nervosa)- Como assim vão adotar uma criança? Vocês não vão conseguirem dar conta de uma criança sozinhos...
LUCAS- Por que não vamos conseguir dona Alzira?
RAFAEL- Já está decidido mãe!
ALZIRA- É mais difícil do que vocês imaginam. Cuidar de uma criança é muito complicado, principalmente quando a criança não tem uma mãe...
LUCAS- Ela terá dois pais. Será muito bem cuidada por nós dois.
ALZIRA- Vocês estão malucos? Eu não vou compactuar com esse absurdo.
LUCAS- Eu não me lembro de termos pedido a sua ajuda em nenhum momento dona Alzira. A senhora só está fazendo esse escândalo porque nunca aceitou minha relação com o seu filho...
RAFAEL(intervém)- Lucas...
LUCAS-  Eu vou falar Rafael. Eu tô cansado disso. A senhora sempre me olha torto. Nunca nos apoiou em nada...
ALZIRA- Você tem razão Lucas! Eu juro que eu tentei, mas eu não consigo aceitar essa relação de vocês. É desconfortável pra mim. Eu queria uma nora. Eu queria um neto de verdade...
LUCAS- A gente vai te dar um neto...
ALZIRA- Essa criança não será nada minha.
LUCAS- A senhora vai aprender a amá-la, eu tenho certeza! Eu sei que apesar de tudo, a senhora tem um coração bom. Essa criança vai mudar as nossas vidas.
RAFAEL- Eu já dei entrada nos documentos para adoção...
Cena 8
Cai à tarde.
No orfanato, Rafael e Lucas estão a conversar com Lipe.
RAFAEL- O que você acha da gente Lipe?
LIPE- Eu gosto muito de vocês. São meus amigos...
LUCAS- O que você acha de fazer parte da nossa família?
LIPE(ignora)- Como assim?
RAFAEL- A gente vai te adotar!
LIPE(emocionado)- Vocês estão brincando comigo? Eu vou ter uma família?
LUCAS- Vai. Vai sim Lipe. Quer ser o nosso filho?
LIPE(emocionado)- É tudo que eu mais quero.
Os três se abraçam emocionados.
Cena 9
Três dias depois...
(A música " Reconvexo" de Maria Betânia começa tocar ao fundo)
Depois de uma longa viagem, Neide e Pedro estão chegando na cidadezinha interiorana de Bom Jesus, PB.
De imediato, Pedro estaciona o carro em frente a casa que alugaram, aparentemente muito Simples.
Os dois descem do veículo, e começam a observar a casa ainda de fora.
Logo, Dalva, a vizinha mais próxima se aproxima.
DALVA(questiona)- São os novos moradores?
PEDRO- Somos. 
DALVA(apresenta-se)- Dalvaprazer. Moro aqui do lado.
Neide se apresenta com seu novo nome:
SORAYA- Soraya Brandão!
Por conseguinte, Pedro também se apresenta :
MAURILIO- Maurilio da Silva.
DALVA- São de onde?
SORAYA- Somos do Rio de Janeiro. Estamos fugindo da cidade grande. Queremos uma vida mais tranquila, longe da violência...
DALVA- Pois vieram para o lugar certo. Nossa cidade é um paraíso. Aqui não tem registro de violência. Todo mundo praticamente se conhece.
MAURILIO- Era um lugar como esse que estávamos procurando.
DALVA- Bem, foi um prazer conhecê-los. Sejam bem-vindos, e qualquer coisa é só chamar. Aqui todo mundo se ajuda.
Dalva se retira, e os dois entram dentro de casa.
SORAYA- Aqui começaremos uma nova vida!
MAURILIO(se aproxima e a abraça)- Eu vou te fazer a mulher mais feliz do mundo.
Maurilio a beija.
Cena 10
(A música " Serpente" de Pitty começa tocar ao fundo)
Após alguns anos detido, Fábio finalmente está saindo do presídio.
FÁBIO(resmunga)- Livre! (pausa) Agora eu vou fazer tudo diferente.
Cena 11
Anoitece.
Sentados à mesa, Leinha, Zenaide e Gustavo estão jantando.
LEINHA- Amanhã mesmo o filme estará em cartaz no cinema, e eu não vou perder por nada...
GUSTAVO- Eu quero vê com você mamãe.
Nesse momento, a campainha toca e Neide vai atender, porém quando abre a porta acaba dando de cara com Fábio.
LEINHA(surpresa)- Fábio?
FÁBIO- Eu vim em paz, pode ficar tranquila. Eu só quero conversar...
LEINHA- Nós não temos nada pra conversar com você. Vai embora!
Nesse momento, Gustavo vai até a porta e questiona:
GUSTAVO- Quem é mãe?
FÁBIO(emocionado)- Sou o Fábio, e você?
GUSTAVO- Gustavo.
FÁBIO- Prazer Gustavo!
LEINHA(nervosa)- Vai embora Fábio! Vai embora daqui!
GUSTAVO- Por que você está tratando o moço assim mãe?
FÁBIO- Eu só saio daqui quando falar com você...
LEINHA- Lá fora. Aqui dentro não. Vá ficar com sua vó Gustavo, que eu vou falar com ele.
Cena 12
Em um bar próximo dali, Leinha e Fábio estão a conversar.
LEINHA(nervosa)- Eu sei muito bem o que você quer! Agora que a vagabunda da Neide fugiu, você quer carregar o meu filho pra ir atrás daquela cachorra...
FÁBIO- A Neide fugiu?
LEINHA- Vai dizer que não estava sabendo?
FÁBIO- É claro que eu não estava sabendo. A Neide não me interessa mais. Eu sou um novo homem Leinha. Eu quero recomeçar do zero, só preciso de um voto de confiança. (pausa) Eu quero ter o amor do meu filho, trabalhar honestamente...
LEINHA- Você já teve muitas oportunidades, mas na primeira oportunidade pisava na bola e voltava a cometer o mesmo erro. O Gustavo não merece saber que tem um pai como você...
FÁBIO- Eu vou provar que eu mudei. Eu vou provar que esse Fábio que está em tua frente agora é um novo homem.
LEINHA(encara-o)- Você pode ter virado um santo, mas não vai me tomar o Gustavo. Nem você e nem a Neide. O Gustavo é meu filho. Por ele eu sou capaz de matar.
FÁBIO- Você não seria capaz! Você não tem o sangue ruim da sua prima. Aquela vagabunda não vale nada. Se eu a visse na minha frente agora, seria capaz de matá-la.
Cena 13
Em mais uma curta passagem de tempo, Leinha, Gustavo, Alzira, Cremilda, Tônia e mais alguns policias amigos de Rafael estão na sala a espera do casal para a festa de boas - vindas de Lipe.
Não demora muito, Rafael e Lucas adentram com Lipe na sala, e todos aplaudem e gritam : Bem-vindo Lipe!
(A música " Celebrar" de Jamil começa tocar ao fundo)
Cremilda se aproxima emocionada.
CREMILDA- Bem-vindo meu neto!
Logo, Lucas se aproxima de Alzira com Lipe.
LUCAS- Esse é o Lipe dona Alzira!
Sem palavras, Alzira fica em silêncio muito tensa.
LIPE(questiona-lhe)- A senhora tá triste? Fica triste não. Antes eu vivia triste porque eu não tinha uma família, mas hoje eu sou a pessoa mais feliz do mundo. Sabe? Tantas pessoas reclamam da família que tem. Eu acho que elas não sabem o que é viver sem família. É tão bom ter alguém pra amar.
Emocionada, Alzira enxuga as lágrimas e o abraça.
ALZIRA- Bem-vindo a nossa família, que não é a mais perfeita, mas se ama acima de tudo.
Alzira o abraça.
Cena 14
Três dias depois...
Na casa de Dalva, Soraya  (Neide) está devolvendo-lhe o vestido que pegou para arrumar.
SORAYA- Agora ficou como você queria. Todas as medidas certinhas.
DALVA(ansiosa)- Eu vou vestir!
De imediato, Dalva veste-o e se surpreende.
DALVA- Ficou perfeito Soraya! Você costura muito bem menina. (pausa) Eu pensava que nunca mais iria vestir esse vestido.
SORAYA- Só dei uns pequenos ajustes!
DALVA- Ficou perfeito. Amei! Vou te indicar pra todas as minhas amigas.
SORAYA- Obrigada. Fico Agradecida. Bem, eu vou indo que tenho mais um vestido pra arrumar.
DALVA- Vai lá amiga. Mais tarde eu passo lá pra tomarmos um café.
SORAYA- Vai mesmo.
Soraya (Neide) segue para casa, e quando entra acaba dando de cara com o corpo de Maurilio (Pedro) caído ao chão todo ensanguentado após levar um tiro no peito.
SORAYA(assusta-se)- Meu Deus!
De imediato, ela vira o rosto para o lado e grita assustada:
SORAYA- Você! Não faz isso!
De imediato, ela recebe um tiro no peito, o que a leva a óbito imediatamente.
Sem nenhuma preocupação, o assassino foge pela porta dos fundos.
                               Fim.

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