Um fim...

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Cena 1
Após atirar em Rafael, Neide sai correndo por um beco que dar para uma mata logo mais a cima.
Em baixo, Nem está trocando tiros com alguns policias, mas logo e baleado.
POLICIAL(para Nem)- Perdeu! Perdeu! Larga essa arma.
O policial o algema.
Mais a cima, Rafael está sendo socorrido por outro policial.
POLICIAL(tentando acordá-lo)- Rafael, fala comigo! Rafael. (por rádio) O Major Rafael foi baleado aqui em cima...
O policial entra em desespero com Rafael praticamente sem vida em seus braços.
Com todo o clima de tensão no morro, e apesar das dificuldades, felizmente a polícia consegue prender vários criminosos e desfalcar a quadrilha.
Cena 2
Sozinha em casa, Alzira está sentada na mesa muito nervosa tomando um copo com água haja vista está com um pressentimento muito ruim no peito.
Ao fundo, a televisão está ligada no programa da Fátima Bernardes, quando então entra o Plantão de notícias.
JORNALISTA- Voltamos a falar sobre a operação que o Batalhão das forças armadas do Rio de Janeiro está executando no Morro do Macaco. Vários criminosos já foram detidos, outros mortos, mas infelizmente um dos policias acabou sendo gravemente ferido, o Major Rafael Alencar...
ALZIRA(ao vê a foto de Rafael na televisão)- Não. O meu filho não.
JORNALISTA- O Major está sendo levado para o hospital das Cruzes...
Alzira pega sua bolsa e sai correndo muito nervosa.
Cena 3
Cai à tarde.
Hospital das Cruzes.
A ambulância do Samu acabara de Chegar com Rafael, que imediatamente é levado pelos enfermeiros até a sala de cirurgia.
Não demora muito, Lucas vem chegando na recepção muito nervoso.
LUCAS(para a recepcionista)- Cadê o Rafael? Pra onde vocês levaram ele?
Cena 4
Já na rua, Neide está passando por uma feira as pressas muito nervosa.
NEIDE(consigo mesma)- Eu preciso sumir daqui! Eu preciso sumir...
Neide olha para os quatro cantos, e logo vê um senhor indo com uma sacola de compras até seu carro que está estacionado mais a frente.
Sem pensar duas vezes, ela o acompanha, retira o revólver da bolsa e coloca em sua cabeça enquanto ele guarda as compras no porta-malas.
NEIDE- Perdeu! Passa a chave do carro agora.
SENHOR(assustado)- Calma! Não faz nada comigo. Eu te dou a chave do carro, mas me deixa vivo. Não me mata.
O senhor entrega-lhe a chave, e Neide dá-lhe uma coronhada e foge com o veículo em alta velocidade.
Cena 5
Já na sala de espera, Lucas espera por notícias de Rafael em planto sentado em uma cadeira, todavia, o tempo vai passando e ele então se levanta e começa andar de um lado para o outro.
Logo, Alzira vem chegando completamente abalada, e Lucas a ignora. Então, ela fica em um canto chorando, e no decorrer que o tempo vai passando ela questiona-lhe:
ALZIRA- Você sabe rezar? Reza comigo! Tem que ter fé.
(A música " Together The XX" começa tocar ao fundo)
Timidante Lucas olha para ela, e então, Alzira se aproxima e estende - lhe a mão.
LUCAS(retruca)- Eu não acredito em Deus! Ele parece brincar com os sentimentos da gente.
ALZIRA- Eu sei que temos as nossas diferenças, mas não é hora pra isso. O Rafael precisa das nossas orações.
Timidante Lucas pega sua mão.
ALZIRA(continua)- Senhor Deus, pai todo poderoso. Derramai sobre o Rafael as tuas bênçãos, pai. (pausa) Não permitas que ele morra.
Cena 6
Em fuga pela rodovia principal, Neide continua dirigindo em alta velocidade, quando então acaba avistando uma blitz mais a frente.
NEIDE(resmunga nervosa)- Essa não.
Quando olha pelo retrovisor, ela acaba vendo dois carros de polícia se aproximando por trás.
NEIDE(resmunga muito nervosa)- Não. Isso não pode está acontecendo. Eu não posso ser presa.
De imediato, o policial faz sinal de parada.
Sem saída, ela acelera mais ainda o carro, e acaba perdendo o controle do mesmo, que bate em um muro, todavia, Neide não sofre graves ferimentos, e logo o Major Dimas e outros policiais se aproximam.
NEIDE- Aí...
DIMAS(com o revólver sacado em sua direção)- Perdeu Neide! Você tá presa.
O policial abre a porta do carro e a algema.
Cena 7
Anoitece.
Na sala de espera, Alzira está sentada em uma cadeira muito abalada emocionalmente. Não demora muito, Lucas entra também muito emocionado, porém mantém uma certa distância de Alzira.
Logo, o doutor também entra na sala muito tenso.
ALZIRA(levanta-se ao vê-lo e se aproxima)- Doutor, como está o meu filho?
LUCAS(se aproxima)- Ele está vivo, num está doutor?
DOUTOR- O caso dele é delicado. A bala por pouco não atingiu o coração...
ALZIRA- Isso quer dizer que ele corre risco de vida?
DOUTOR- Infelizmente sim. O que tínhamos de fazer já foi feito. Agora só nos resta esperar.
Cena 8
Amanhece o dia.
Sentadas a mesa, Zenaide e Leinha estão tomando café ambas nervosas.
ZENAIDE- Eu não tô conseguindo nem comer. Eu estou muito preocupada com o Rafael. Eu quero visitar - lhe no hospital...
LEINHA- Eu não sei se é uma boa tia...
ZENAIDE- Eu exijo que me leve até o hospital! Eu devo a minha vida a ele. O tenho como um filho.
Nesse momento, a campainha toca e Leinha imediatamente vai atender. Quando abre a porta, ela acaba dando de cara com Suzy com o bebê de Neide nos braços.
LEINHA- Pois não?
SUZY- Vocês são parentes da Neide?
LEINHA- Sou prima dela.
SUZY- Eu vim trazer o filho dela.
LEINHA- Filho? E o que aconteceu com ela?
SUZY- A Neide foi presa e eu acabei ficando com o bebê dela.
Zenaide volta seu olhar imediatamente para Suzy, que entrega o bebê a Leinha e se retira.
ZENAIDE(questiona-lhe emocionada)- É o meu neto?
LEINHA(fecha a porta e se aproxima)- É tia. É o seu neto.
ZENAIDE- Deixa eu pegar ele!
Leinha a entrega, e Zenaide fica olhando para seu neto muito emocionada.
Cena 9
Nem está sendo levado para a cela no presídio masculino do Rio de Janeiro onde Fábio se encontra detido.
CARCEREIRO(empurra - o para dentro da cela)- Entra aí!
Nesse momento, Fábio se aproxima:
FÁBIO- Demorou mas chegou, né? Bem-vindo Nem!
NEM(sério)- Por pouco tempo! Daqui a pouco eu tô de volta, e quando eu voltar ninguém me segura.
Cena 10
Neide está sendo conduzida por um carcereiro até a cela do presídio feminino do Rio de Janeiro.
CARCEREIRO(empurra-a para dentro da cela)- Entra aí.
Neide fica encostada nas grades se sentindo derrotada.
Não demora muito, Soraya se aproxima.
SORAYA- Bem-vinda ao seu novo lar, querida!
Neide volta seu olhar para ela e fica em silêncio.
SORAYA- Me chamo Soraya. Sou eu quem mando aqui. Não gosto que me desobedeçam, e quando sou contrariada, ah... Eu perco o controle. Portanto, se liga!
Cena 11
Alzira está entrando no quarto onde Rafael está internado. Sem nenhum significativo progresso em seu quadro, ele permanece desacordado.
ALZIRA(emocionada)- Rafael. (pausa) Você me ouve meu filho? Me perdoa por tudo aquilo que te falei. Eu tô muito arrependida. (pausa) És o meu bem mais precioso. Eu só quero o teu bem. Te amo meu amor. Volta pra mim!
Cena 12
Anoitece.
Na cozinha, Leinha está terminando de preparar uma mamadeira para o bebê que está nos braços de Zenaide.
LEINHA- Bem que demorou, mas agora a Neide vai pagar por tudo que fez, né tia?
ZENAIDE- Amanhã depois que visitarmos o Rafael, eu quero ir ao presídio falar com ela.
LEINHA(indignada)- O que a senhora tem pra falar com aquela bruxa?
ZENAIDE- Eu só quero que você me deixe lá amanhã. Eu preciso muito falar com a minha filha.
Cena 13
Amanhece o dia.
No final do corredor do hospital, Lucas está rogando pela saúde de Rafael aos pés da imagem de São Jorge.
LUCAS- Salva o Rafael São Jorge! Não permitas que ele morra. (pausa) Eu o amo tanto.
Cena 14
Nesse momento, Leinha vem chegando com sua mãe no hospital, e logo veem Alzira sentada em uma cadeira na recepção. De imediato, elas se aproximam.
ZENAIDE- Bom dia. E o Rafael?
ALZIRA(levanta-se tensa)- Ele permanece na mesma. Não teve nenhum progresso em seu quadro.
ZENAIDE- Eu sei como deve está sendo difícil pra senhora. Até ontem desejava a morte do seu filho, e agora está vendo-lo jogado a uma cama de hospital correndo risco de vida...
ALZIRA- Veio até aqui tripudiar da minha dor? Eu estou arrependida...
ZENAIDE- Claro que não. Longe de mim. (pausa) Eu só acho que a senhora precisa repensar tudo que tem feito e falado ultimamente. A vida é tão passageira. Não podemos nos prendermos a detalhes. Nossa passagem aqui na terra tem prazo de validade, e muitas vezes quando viemos nos arrepender de algo é tarde demais. (para Leinha) Vamos Leinha! Quando o Rafael poder receber visitas eu venho visitá-lo.
Cena 15
Cai à tarde.
Neide está sendo conduzida por uma carcereira até a sala de visita, onde Zenaide a espera muito séria.
Neide senta-se na mesa a sua frente, e após alguns segundos de silêncio questiona-lhe:
NEIDE- O que veio buscar aqui? Veio vê de perto a minha derrota?
ZENAIDE(tensa)- O que eu te fiz pra você sentir tanta raiva de mim?
NEIDE- Eu sempre sonhei grande e a senhora me limitava. Estava contentada a viver uma vidinha de merda num lugar de merda. (pausa) Eu nasci pra ser rica...
ZENAIDE- Eu nunca te deixei faltar nada. Você sempre teve tudo que queria. (pausa) Eu trabalhava feito uma condenada pra te dar tudo que você queria...
NEIDE- Tudo que a senhora me dava era pouco. Eu queria mais, muito mais. Não sou mulher de migalhas...
ZENAIDE- E essa sua ambição insaciável te trouxe pra cá. Passar anos condenada a viver presa em uma cela. (pausa) Valeu a pena Neide?
NEIDE- Eu não me arrependo de nada.
ZENAIDE- Vai perder de vê o seu filho crescer. Não vai poder acompanhar os seus primeiros passos, não vai ouvi-lo chama-la de mãe...
NEIDE(emocionada)- Eu posso ter feito de tudo nessa vida, mas o meu filho é a pessoa que eu mais amo nesse mundo...
ZENAIDE- Mais infelizmente ele não vai poder sentir o mesmo por você. Ele vai crescer desconhecendo você como mãe dele, e quando você vier entrar na vida dele, possa ser tarde demais. (pausa) Eu tenho muita pena de você minha filha. Eu tentei muito te dar uma vida digna, mas você fez questão de jogar todos os meus esforços na lama. (pausa) Eu só espero que Deus tenha piedade de você. Independente de tudo, eu sempre vou está de braços abertos para te acolher.
Zenaide se retira até a porta e chama pelo policial:
ZENAIDE- Policial.
Neide enxuga as lágrimas.
Cena 16
Três dias depois...
No pátio do presídio, Deda está a conversar com Fábio.
Nem está a frente fumando um cigarro.
DEDA- Enquanto tu ficava tentando cair fora do morro, a tua mulher ficava se pegando com o Nem, parceiro. O morro inteiro sabia, menos você meu cumpade. Tu pagou de corno manso.
FÁBIO(indignado)- Isso não pode ser verdade! A Neide não seria capaz...
DEDA(solta uma risada)- Abre os olhos parceiro! A tua mulher não vale nada.
Cena 17
Anoitece.
Na cela, Nem está usando o banheiro imundo do presídio, quando então é atacado por trás com duas facadas no pescoço, levando-o a óbito imediatamente.
Cena 18
Na quarto de hospital, Rafael continua desacordado sem apresentar nenhuma melhora, quando então, Lucas adentra muito emocionado e pega sua mão.
LUCAS- Meu amor. Não me deixa. (pausa) Não me abandona. Eu preciso de você. Eu preciso de você para viver.
Nesse momento, em sonho profundo, Rafael começa sonhar que estava sobrevoando um paraíso cheio de flores brancas. Todavia, a beleza de tal lugar lhe perturbava a alma, haja vista estar sozinho.
Logo, um anjo de luz se aproxima, pega em sua mão e sai voando com ele de volta para a terra.
Nesse momento, Rafael abre os olhos imediatamente e acorda do sonho.
LUCAS(ao vê-lo acordado)- Rafael! Você acordou meu amor?
Lucas beija a sua boca apaixonadamente.
Cena 19
Dias depois...
Na biblioteca Municipal, Lucas está lançando o seu livro de fotos do Morro do Macaco, onde relata através de imagens o cotidiano a vida dos moradores da periferia.
Estão em cena Leinha, Zenaide com seu Neto, Alzira, Cremilda com seu Vicente, Leinha e Rafael, que recebe o primeiro livro autografado.
LUCAS(após autografar)- Eu te amo!
Os dois trocam olhares e a imagem se fecha com a menagem de Chico Xavier:
O homossexualismo, tanto quanto a bissexualidade ou bissexualismo, como assexualidade, são condições da alma humana. Não devem ser interpretadas como fenômenos espantosos, como fenômenos atacáveis pelo ridículo da humanidade. Tanto quanto acontece com a maioria que desfruta de uma sexualidade dita como normal, aqueles que são portadores de sentimentos de homossexualidade ou bissexualidade são dignos do nosso maior respeito.

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