Sentimentos

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Cena 1
Em meio a fumaça e ao medo, Rafael e Lucas levantam-se felizmente sem graves ferimentos e seguem caminhando com o objetivo de chegar até as viaturas.
RAFAEL(correndo a vista pelos quatro cantos)- Encosta em mim! Encosta em mim!
Nesse momento, um bandido de cima do morro acaba vendo eles, e imediatamente faz pontaria na cabeça de Rafael.
Cena 2
Em casa, Alzira está aflita rogando a Deus pela segurança de Rafael.
ALZIRA(pega uma imagem de São Jorge que está sobre a estante)- Protege o meu filho São Jorge guerreiro. Eu tô com um pressentimentos tão ruim aqui no peito. Não permitas que aconteça nada de ruim com o Rafael.
Cena 3
Quando ia apartando o gatilho, o bandido acaba sendo baleado por um policial que chega por trás.
BANDIDO(ao cair)- Ah.
POLICIAL(se aproxima com o revólver em punho)- Você tá preso!
Assim, felizmente Rafael consegue alcançar a viatura com Lucas.
RAFAEL- Eu vou te levar para o hospital...
LUCAS- Não. Não precisa. O tiro graças a Deus foi só de raspão...
RAFAEL- Nada disso. Você vai fazer curativo nesse braço agora. Isso pode infeccionar e te levar a óbito.
LUCAS- Eu não quero te dar trabalho. Você está em meio a uma operação...
RAFAEL- É o meu dever.
De imediato, Rafael liga a viatura e parte em direção ao hospital mais próximo.
Cena 4
Cai à tarde.
Após fazer curamento no braço, Rafael está deixando Lucas em casa.
LUCAS(ao descer do carro)- Obrigado aí por tudo.
RAFAEL- Não precisa agradecer. Eu só fiz o que qualquer um faria. Agora, da próxima vez toma mais cuidado. O morro não oferece segurança pra ninguém.
Rafael entra na viatura e se retira. Logo, Lucas adentra em casa e acaba encontrando sua mãe na sala muito nervosa.
CREMILDA- Graças a Deus você chegou meu filho? Aonde você estava? Quer me matar do coração? O maior tiroteio lá em cima e você desaparece...
LUCAS- Calma mãe! Eu estou vivo.
CREMILDA(ao vê a camisa suja de sangue)- E esse sangue?
LUCAS- Eu levei um tiro de raspão no braço.
CREMILDA(nervosa)- Como foi? Eu ouvi direito? Como isso aconteceu? Eu já te falei pra tirar essa idéia absurda de subir pro morro...
LUCAS- Já deu mãe. Eu estou vivo. Já passou. Agora eu só quero descansar um pouco.
Lucas segue para o seu quarto.
Cena 5
Anoitece.
Cautelosamente, Fábio está se dirigindo até um bar levando consigo uma mochila. Assim que chega no mesmo, ele vai até uma mesa onde um jovem senhor já espera por ele.
FÁBIO(senta-se a mesa)- E aí, como vai?
JOVEM SENHOR- Trouxe o combinado?
FÁBIO(olha para a bolsa)- Tá tudo aqui. E o dinheiro?
O jovem senhor olha para a mochila que está no chão e diz :
JOVEM SENHOR- O dinheiro tá todo aqui.
De imediato, eles fazem a troca das mochilas e conferem a encomenda.
FÁBIO(após vê o dinheiro)- Foi um prazer negociar com o senhor.
Fábio se retira levando consigo a mochila, enquanto o jovem senhor permanece na mesa bebendo.
Cena 6
Após um dia tenso, Neide está saindo do banho, quando então é surpreendida por Fábio que chega todo romântico.
FÁBIO(abraça-a por trás)- Boa noite minha nega.
NEIDE- Que abraço gostoso!
FÁBIO(entrega-lhe uma caixa de chocolate)- Comprei isso aqui pra você?
NEIDE(tensa)- Ferrero rocher!
FÁBIO- Você não gostou? É o seu chocolate preferido.
NEIDE- Eu não tô me sentindo bem.
Imediatamente Neide corre para o banheiro vomitar. Logo, Fábio também a acompanha buscando uma explicação.
FÁBIO- O que aconteceu meu amor? Você sempre gostou desse chocolate...
NEIDE- Tira esse chocolate da minha frente. Eu acho que estou com uma infecção intestinal.
FÁBIO- Vamos ao medico...
NEIDE- Que médico Fábio? Eu vou tomar algum remédio, e logo estou boa de novo. Não preciso de médico.
Cena 7
Amanhece o dia.
Sozinho, Lucas caminha pela praia, e por coincidência ou não do destino, acaba se esbarrando com Rafael.
LUCAS(surpreso)- Major!
RAFAEL(surpreso)- Você!
LUCAS- Que coincidência nos encontrarmos por aqui.
RAFAEL- Digo o mesmo. Gosta de praia?
LUCAS- Eu amo. Esse lugar recarrega as minhas energias.
RAFAEL- Digo o mesmo.
LUCAS- Me acompanha com uma água de coco?
RAFAEL- Só se for agora.
Os dois seguem até um quiosque que se encontra mais a frente.
Cena 8
Após sair do banho, Fábio atende seu celular que está tocando.
FÁBIO- Alô. (pausa) Isso é muito arriscado. E se nos pegarem? (pausa) Eu não sei cara. Eu não posso ser preso de novo...
Nesse momento, Neide adentra no quarto e indaga :
NEIDE- Por que você seria preso de novo Fábio?
Muito nervoso, Fábio desliga o celular imediatamente e fica lhe encarando.
NEIDE(insiste)- Me responde Fábio! Por que você seria preso?
FÁBIO(dar uma risada tentando disfarçar)- Preso? Você ouviu preso? Eu não falei isso...
NEIDE- Tu tá metido com droga de novo Fábio?
FÁBIO- Da onde você tirou isso meu amor?
NEIDE(furiosa)- Não mente pra mim Fábio. Você sabe que eu não suporto mentiras. (pausa) Pela última vez : tu tá metido com droga de novo?
Cena 9
Após tomarem uma água de coco, Rafael e Lucas estão caminhando pela praia.
RAFAEL- Então, você era piloto de avião?
LUCAS- Fui cara por quase dez anos, mas abdiquei da carreira desde aquele acidente.
RAFAEL- Foi um terrível acidente! Ainda bem que felizmente não ficasse com sequelas.
LUCAS- Eu tive muita sorte. Minha mãe rezou muito pra eu me recuperar, mas ainda passei meses em coma. Entretanto, apesar de ter sobrevivido, aquele acidente me tirou uma pessoa que eu amava demais, sem contar a vida de todas aquelas pessoas que foram ceifadas.
RAFAEL- Eu intendo. Minha vida também é um drama. Perdi meu pai ainda quando criança. Fui criado apenas pela a minha mãe,  que não concorda com a minha profissão.
LUCAS- Olha, eu não vou tirar a razão dela não. Ser policial nesse país é muito arriscado. Frequentemente vemos nos jornais policiais sendo assassinados por criminosos...
RAFAEL- Mas São Jorge me defende. Nada de ruim há de me acontecer, porque ele está sempre comigo me protegendo.
LUCAS- Quem ama não vai ficar tranquilo sabendo que a pessoa amada está em perigo, mesmo sabendo que há uma divindade protegendo - lhe. (pausa) Quem ama quer tá perto,  quer cuidar. Não existe uma dor maior do que a dor da perda. (pausa) A vida perde o sentido. É como se você também tivesse morrido com aquela pessoa.
Rafael e Lucas trocam olhares.
RAFAEL- Eu sei. Eu também já passei por isso. Quando eu perdi o meu pai eu sofri muito. Apesar de muito novo, eu adorava ele. (pausa) Quase todo final de semana a gente saia pra passear no parque. Era tudo tão simples, mas ao mesmo tempo tão especial. Como eu sinto falta desse tempo.
Rafael não consegue conter as lágrimas, que por consequência também comove Lucas.
LUCAS(coloca a mão sobre o seu ombro)- Fica assim não cara. Eu tenho certeza que estando onde ele estiver, ele tem muito orgulho do ser humano que você se transformou.
RAFAEL- Eu tinha várias profissões para escolher, mas escolhi ser policial por causa do meu pai. (pausa) Ele era um profissional admirável, e a cima de tudo um ser humano. (pausa) Essa pessoa que sou hoje, em partes devo a ele. Meu eterno mestre.

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