Todas as Formas de Amor

Confusão

Cena 1
(A música "Pode soltar" de Jerry Smith começa a tocar ao fundo)
Fábio continua aguardando uma resposta de Nem, que logo retruca:
NEM- É claro que você pode ficar aqui no morro cumpade. Eu vou arrumar uma casa pra você. (pausa) Você tem futuro aqui parceiro. E quanto a tua mulher, pode ficar tranquilo que a gente vai tirar ela da cadeia o quanto antes. Nois vai trazer a tua patroa aqui pro morro cumpade. Agora, pega uma bebida e vem se divertir. Olha quanta gatinha aqui do nosso lado parceiro.
Logo, uma mulher que está dançando mais a frente pisca o olho para Fábio, mas ele a ignora.
Cena 2
Amanhece o dia.
Na cela, Neide está dormindo em um colchão jogado ao chão, quando então o carcereiro vem trazendo seu simples pão com uma sopa
CARCEREIRO(batendo nas grades com o cacetete)- Olha a comida bela adormecida!
Logo, Neide acorda, pega o prato com seu café da manhã e senta-se ao colchão ainda atordoada.
CARCEREIRO(continua)- Vai aproveitando esse silêncio, essa calmaria porque quando chegares ao presídio, essa vida de rainha vai chegar ao fim. (solta uma risada) Você não sabe o que te espera.
O carcereiro se retira.
Cena 3
Leinha está chegando com sua tia no parque, e logo vê Lucas mais a frente fotografando algumas roseiras, e assim se aproxima imediatamente.
LEINHA(chama-o tímida)- Oi.
LUCAS- Oi.
LEINHA- Que surpresa encontrá-lo aqui de novo!
LUCAS- Eu sempre estou por aqui.
Lucas se agacha próximo de Zenaide, que está com o olhar tristonho fixo ao chão.
LUCAS(para Zenaide)- E a senhora, como é que está? (pausa) Lembra de mim?
Zenaide o ignora.
LEINHA(interfere)- Ela não tá bem. Você acredita que a filha dela a agredia?
LUCAS(sério)- Como é que é?
LEINHA- A Neide batia na tia Zenaide, mas graças a Deus agora ela vai pagar por todo mal que fez a ela.
LUCAS(revoltado)- Que absurdo!
LEINHA- Eu acho que é por isso que ela vive assim, sem alegrias na vida. Sem vontade de viver.
LUCAS(revoltado)- Como ela tinha coragem de cometer uma monstruosidade dessa? Que mulher é essa?
LEINHA- A Neide é um monstro!
LUCAS(segura sua mão)- Eu vou cuidar da senhora. Eu vou lhe devolver de novo a vontade de viver. (para Leinha) Amanhã vamos levá-la ao médico...
LEINHA- A tia Zenaide não tem dinheiro Lucas. A Neide além de lhe agredir tomava todo o seu salário...
LUCAS- Eu não vou exigir um centavo dela. Eu tenho algumas economias, e vou cuidar dela como se fosse a minha mãe. (olha para Zenaide) Eu quero vê um sorriso bonito nesse rosto lindo o quanto antes.
Cena 4
Em seu consultório, Sheila está acabando de atender um paciente, quando então Glauco vem chegando com um buquê de flores.
Maria João, sua secretária, está na recepção entretida com alguns documentos.
SHEILA(para o paciente)- Até a volta seu Simão.
O paciente se retira.
GLAUCO- Oi.
SHEILA(séria)- O que veio fazer aqui pré - histórico?
GLAUCO- Eu vim na paz. Eu vim trazer essas flores como um pedido de desculpas pelo o que aconteceu aquele dia...
SHEILA(pega o buquê de flores de uma vez)- Agradecida. Algo mais?
GLAUCO- Eu tô tentando ser gentil, e você me trata assim?
SHEILA- Eu não tenho culpa se você me irrita pré - histórico!
GLAUCO- Você não merece que eu seja gentil com você, bruxa! (arranca - lhe o buquê de flores das suas mãos) Me devolve o meu buquê de flores!
SHEILA(furiosa)- Que isso?
GLAUCO- Você não merece esse buquê de flores, bruxa!
SHEILA(grita)- Pré- histórico! Sai do meu consultório.
GLAUCO(encara-a)- Saio com o maior prazer. Ah, e pode me pagar o conserto do meu carro...
SHEILA(furiosa)- Eu não vou pagar nada...
GLAUCO(furioso)- A mais você vai pagar.
Glauco invade sua sala, e Sheila tenta barra - lo.  Da recepção, Maria João fica apenas assistindo a cena pasma.
SHEILA(furioso)- Sai da minha sala. Eu vou chamar a polícia seu pré - histórico!
GLAUCO(abrindo as gavetas da sua mesa)- Cadê o dinheiro? Eu não vou sair daqui enquanto você não me pagar, bruxa!
Furiosa , Sheila pega um vaso de flores que está sobre a mesa e quebra em sua cabeça fazendo com que ele caia imediatamente desacordado.
SHEILA(após quebrar o vaso)- Eu mato você pré - histórico!
Da recepção, Maria João se assusta e corre até a sua sala.
MARIA JOÃO(leva as mãos até a boca quando o vê caído)- Deus! A senhora matou ele.
SHEILA(assustada)- Tá maluca Maria João? Eu nem bati tão forte assim.
Preocupada e nervosa, Sheila agacha-se ao seu lado e tenta acorda-lo.
SHEILA(batendo levemente em seu rosto)- Acorda pré - histórico!
MARIA JOÃO(muito nervosa)- Aí, a senhora matou ele mesmo!
SHEILA(nervosa)- Não fala besteira Maria João, e vê se me ajuda! Faz alguma coisa.
Cena 5
No morro, Nem e mais quatro traficantes estão a conversar com Fábio.
NEM(para Fábio)- Amanhã nois vai resgatar a tua mulher parceiro...
FÁBIO(ignora)- Como assim?
Os traficantes se olham e trocam risadas.
NEM- O Nem aqui ficou sabendo que ela vai ser transferida para o presídio amanhã. Já temo todo o esquema montado parceiro. Ninguém pode com o Nem aqui não.
Cena 6
Ainda em sua sala, Sheila continua desesperada tentando acordar Glauco. Do seu lado, Maria João está chorando desesperada com muito medo.
SHEILA- Acorda pré - histórico! Não faz isso comigo.
MARIA JOÃO- Eu agora vou ser presa por causa da senhora! A polícia vai achar que eu fui sua cúmplices.  Mãinha vai me matar!
SHEILA(nervosa)- Ao invés de ficar aí chorando, faz alguma coisa Maria João, ou quem vai te matar sou eu.
Nesse momento, Glauco felizmente começa acordar com muita dor de cabeça.
MARIA JOÃO(ao vê-lo se mexer)- Ele tá acordando!
SHEILA- Graças a Deus!
GLAUCO(leva a mão até a cabeça)- Aí minha cabeça. Aí...
SHEILA- Pega uma água pra ele Maria João.
Ainda trêmula, Maria João o obedece.
GLAUCO- Foi você! Foi você que tentou me matar num foi sua bruxa?
SHEILA- Eu não fiz nada.
De imediato, Maria João volta correndo com o copo de água.
MARIA JOÃO- Aqui.
SHEILA- Toma um pouco de água...
Cena 7
Cai à tarde.
Lucas está saindo do banco do Bradesco entretido com o celular, quando então acaba se esbarrando com Rafael que vai em sua direção também entretido com o celular.
LUCAS(para sem jeito)- Desculpa.
Ao se reconhecerem, os dois ficam se encarando.