- A Coroa e o Cajado -

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No outro lado da Terra de Aradus, sobre os campos das Planícies Cinzentas e nos confins da Cidade de Vordia, estava localizado o Andor Conselheiro do Rei que deveria receber a determinada mensagem.

Omiran encontrava-se no mais prazeroso dos sonos. Sentado folgadamente em sua confortável poltrona de madeira negra, ele roncava com a boca aberta o que permitia que um resquício de baba descesse por seu queixo enrugado. 

Quando as palavras subitamente invadiram sua mente, ele despertou e saltou de sua poltrona onde quase derrubou o bastão que até então apoiava em seu ombro. Ao retomar sua consciência e olhar ao seu redor, ele percebeu que ainda encontrava-se na tediosa reunião dos demais andors pertencentes à corte. 

Havia muitos ali sentados em cadeiras muito semelhantes a sua porém menores para identificar que seus cargos eram inferiores. Estavam todos olhando diretamente para um único membro sentado em uma das cadeiras que ao todo formavam um retângulo. Este era o falante do debate. 

— Nesta manhã fui desafortunado com a mesma dúvida absurda de um dos frequentadores da Torre Ancestral. Me indagaram se a publicação de livros autorais já estava permitida na cidade. Céus, não podemos mais tolerar esse ultraje! — Foram as palavras do debatedor. 

A informação causou desconforto entre os ouvintes ao seu redor que se entreolharam demonstrando concordância em indignação ao que lhes foi relatado. 

— Deseja acrescentar algo agora no debate, Andor Conselheiro? — Um jovem andor perguntou em tom de respeito ao velho homem que estava em pé ao seu lado. 

— Rei... — Omiran ainda tentava retomar todos os sentidos. — Onde está o rei?

O rei certamente não estava por ali. Conselhos envolvendo a publicação de livros não costumavam ser de seu interesse. Logo, Omiran teve de deixar o debate que nem mesmo ele considerava importante mas, por conta de seu cargo, sua presença era mais que requisitada. 

Como Andor Conselheiro do Rei, Omiran detinha o terceiro cargo mais influente do reino e seu nome era conhecido não somente em Vordia mas nos outros reinos também. A maior responsabilidade de sua posição estava relacionada aos ensinamentos que eram pregados na cidade. Todo conhecimento que era acessível na Torre Ancestral devia ser aprovado por ele antes de qualquer livro estar disponível. O aprendizado permitido aos cidadãos da cidade devia estar de acordo com os preceitos da Sagrada Crença Alial e por ser um andor, seu dever era preservá-la não só na cidade mas também em todo o reino. 

Mas agora sua função era outra. Era mais um de seus deveres tomar o posto de mensageiro e alertar o rei sobre a mensagem que acabara de lhe chegar. Sua influência era traduzida na forma como os membros e funcionários da corte comportavam-se em sua presença. Cumprimentos e acenos com a cabeça eram lhe direcionados por onde for que passasse. Enquanto atravessava apressadamente os salões cinzentos do castelo, os guardas que marchavam em conjunto abriam espaço para ele passar e as copeiras lhe cumprimentavam com palavras simples mas de respeito. 

Os corredores não eram muito iluminados pela luz do dia, sua iluminação provinha de candelabros negros cujas luzes nas extremidades eram esferas brancas luminosas criadas pelos andors. Diferentemente dos demais reinos, Vordia não usava o fogo para iluminação. 

Não somente o castelo mas a cidade em sua essência era constituída de pedra cinzenta o que acabava por dar um ar lúgubre ao local. Mas isso não passava de um mero detalhe fútil na opinião dos vordianos. 

Omiran quase chegava ao ponto de correr e segurava firmemente seu bastão. Suas longas mangas brancas balançavam de um lado para o outro a cada passo apressado. Como todos os andors, sua vestimenta era sempre a mesma. Uma túnica branca se estendia até seus calcanhares e calças marrons cobriam suas pernas. No entanto, apenas seus calçados feitos de um confortável tecido eram visíveis aos olhos. Havia ombreiras de couro nos seus ombros e um grande cinto que elevava-se até a altura do umbigo. Seus cabelos brancos como a neve deviam estar sempre aparados e por sua própria vontade ele poupava-se de cultivar alguma barba. 

A Pretensão dos CavaleirosOnde histórias criam vida. Descubra agora