A angústia, o lamento e o arrependimento foram os sentimentos que perturbaram Derion durante as últimas horas. Ao longo do período de uma madrugada, as coisas mudaram imensamente na vida do pobre rapaz.
Os firmes passos que ele deu para se afastar do trenó naquela vila foi o momento mais tenso que enfrentou, pois ao mesmo tempo em que sua cabeça borbulhava os recentes acontecimentos, ele também temia que os colegas Virmon e Joron retornassem para lhe enfrentar a fim de lhe matar. Mas ele seguiu em frente, caminhou por entre as escuras e silenciosas ruas da vila até alcançar o primeiro degrau da escadaria do monte. Uma hora foi o tempo que levou para alcançar o topo. A tarefa de subir as escadas lhe tomou um esforço físico inimaginável. Suas pernas doíam a cada passo que ele se via obrigado a dar. Sua testa pingava as gotas de suor mas ainda assim ele estava grato por ter uma corrente de vento que lhe refrescava o calor. O percurso era desprovido de iluminação podendo este ser um fator para qualquer escorregão ou tropeço. Uma queda de tamanha altura certamente seria fatal.
Ao longo do percurso, a cabeça de Derion era consumida por uma raiva de si mesmo que estava acima da raiva pelos seus agressores. O fato de ter aceitado participar da maldita proposta lhe causava uma enorme angústia por relembrar o que isso lhe causou.
— Você é um burro, Derion — disse para si mesmo enquanto ofegava pelos degraus. — Você é o andor mais burro que já existiu nesse mundo! Como eu pude acreditar na palavra daquele cara?! Como?! O desgraçado nunca conversou comigo nesse templo e do nada vem me oferecendo uma proposta! Seu burro!
Aos xingamentos e às lamentações, o rapaz subiu degrau por degrau. Até o momento, Derion se ocupava totalmente em culpar-se por sua decisão e por ter chegado ao ponto de tirar a vida de Enerius para se defender. Embora fosse algo necessário, seu interior não aceitava isso, suas virtudes estavam em desacordo com suas ações. Não conseguia aceitar o que fez de forma alguma. Por mais que soubesse que as consequências de seus atos estavam prestes a chegar, Derion ainda não as tinha como preocupação. Isso mudou quando ele chegou no fim da extensa escadaria.
A manhã ainda estava por raiar, e por isso não havia muita movimentação no exterior do templo. Quando Derion chegou no início do pátio, viu que estava sendo aguardado por dois mestres andors cuja identidade era desconhecida para ele. Com poucas palavras eles o pediram que os seguissem, e em completo silêncio os três atravessaram o pátio, seus passos eram o som mais audível de todo o local. Derion os seguia e não pôde esconder seu receio por caminhar tão próximo àquelas figuras que permaneciam imóveis na guarda da região. Em um momento de curiosidade, o rapaz virou seus olhos para um guarda alial e este, para o seu azar, virou sua cabeça lentamente ao encontro do rapaz. Não havia nada, nem viseira nem olhos, apenas um elmo liso de bronze. O que aquela figura sentia era impossível interpretar, e Derion não se deu ao trabalho de desvendar tal mistério; apressou os passos em seguir os dois andors.
Durante sua travessia silenciosa, os três andors passaram próximos às estátuas dos antigos Ejions que estavam espalhadas e alinhadas nos extremos do pátio. As estátuas retratavam os poderosos seres em seu completo esplendor com poses que viessem a engrandecê-los e enaltecê-los.
No lado esquerdo do pátio, alinhados e virados para o horizonte à frente do templo, estavam três monumentos, sendo que o primeiro se tratava de Aloron, o Poderoso. Este assumia uma posição de guarda, com as mãos no punho de sua enorme Espada da Justiça cuja lâmina permanecia virada para baixo e a ponta diante de seus pés. A figura trajava uma armadura gloriosa cujos detalhes transmitiam uma realidade que olhos nenhum haviam por vez já vistos nesses tempos. Um elmo exótico envolvia sua cabeça e sua barba possuía adornos que preenchiam tranças e punhados de fios encaracolados. Um manto cobria suas costas majestosamente e espalhava-se por seus pés.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Pretensão dos Cavaleiros
FantasyO humilde Vilarejo Erban do Reino de Asmabel passou pela mais produtiva das primaveras e a adolescente Eurene vê seus dias tornando-se mais atarefados com sua família. No entanto, tudo muda quando a expansão territorial do Reino de Vordia chega ao v...