As coisas aconteceram da forma mais inusitada que Fenuella poderia imaginar. Ela seria incapaz de lembrar-se da última discussão entre seu pai e sua madrasta. Allanel estava atordoado, não sabia se devia inclinar-se a favor de sua mãe ou de seu pai naquele momento.
— Pai — Allanel o chamou. — O que o senhor acusou minha mãe, de querer me colocar no trono... isso não é verdade. Eu nunca iria querer que o senhor morresse para eu assumir.
— Você não conhece sua mãe, meu filho. Ela é uma mulher cruel e gananciosa. Mas eu acredito que você não compartilha dos planos maus dela.
Pela feição em seu rosto, o rapaz claramente não possuía conhecimento sobre o quê o pai se referia.
— Eu não quero que vocês briguem — disse ele.
— Eu me entenderei com sua mãe mais tarde. Agora, deixe-me conversar com sua irmã, sim?
O pedido o incomodou. A esperança de mostrar-se útil de alguma forma havia sido desfeita. Para ele, um curto diálogo já seria o suficiente para demonstrar sua grande utilidade mental.
— O senhor quer que eu saia? Eu posso contribuir na discussão sobre os ataques de Vordia, tenho conhecimento sobre política e li...
— Meu filho — Grival o interrompeu erguendo levemente a mão. — Vá, por favor. Nós conversaremos sobre isso mais tarde.
Allanel não poderia estar mais descontente. Não resmungou e nem expressou sua insatisfação, mas pôs-se a obedecer a ordem que lhe soou mais como um decreto real do que um pedido. Ele se levantou e seguiu em passos pesados para fora da sala, passou pela irmã ignorando-a totalmente.
Grival deu um longo e profundo suspiro, retirou a coroa dourada de sua cabeça e passou as mãos em seus cabelos, eles eram brancos como algodão. Afastou a grande cadeira da mesa e pôs-se de pé, seu traje real arrastava-se pelo chão lustroso. Fenuella permaneceu imóvel na sala observando o pai ir até uma jarra para beber um pouco d'água.
— Não precisava mandar ele sair — disse ela. Sentia receio pelo o que o irmão pensaria sobre a forma como foi tratado.
— Allanel estava unicamente interessado em conversar sobre guerras. Não se surpreenda caso ele te diga que pensa como você nesse assunto. Água? — Ele estendeu o braço para oferecê-la um copo de metal, e ela aceitou.
Houve um silêncio enquanto os dois umedeciam a garganta, decerto a discussão momentos antes foi cansativa para suas vozes.
— Eu não esperava que o senhor agiria daquela forma — continuou Fenuella.
— Que forma? Enfrentar minha esposa?
— Isso. Nem me lembro da última vez em que vocês discutiram sobre algum assunto.
— Eline estava certa em algumas coisas, filha — Grival falou lhe dando as costas. Pela forma que disse, parecia possuir uma certa dificuldade de afirmar aquilo. — Ela tem um bom entendimento de como conduzir as políticas do reino, e eu compreendo o descontentamento dela por você insistir em querer iniciar uma guerra.
— Não sou eu que quero iniciar uma guerra, há vários motivos...
— Eu não disse que você está errada por querer isso. — Ele a interrompeu.
Fenuella mostrou-se confusa com a fala do pai.
— O senhor concorda com o que eu disse?
— Você está certa em alguns pontos. — Ele afirmou sem olhá-la diretamente.
— Em todos, o senhor quer dizer.
— Não, em alguns. — Ele enfim virou-se para encará-la. — A minha pacificidade faz com que eu perca o respeito dos governantes, você disse. Hunf, mal me lembro do último dia que eu estive preocupado em agradar as luxúrias desses nobres gananciosos.
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A Pretensão dos Cavaleiros
FantasyO humilde Vilarejo Erban do Reino de Asmabel passou pela mais produtiva das primaveras e a adolescente Eurene vê seus dias tornando-se mais atarefados com sua família. No entanto, tudo muda quando a expansão territorial do Reino de Vordia chega ao v...