A noite veio densa e esse seria um motivo que decerto levaria os viajantes a visitarem a famosa Taverna de Gordel. O Vilarejo Ossoris costumava ser o destino de todos que passavam por suas proximidades tendo em vista que havia uma boa disponibilidade de vagas em estalagens e hospedarias. Mas em noites frias como essa, a comida quente de uma taverna tornava-se muito atrativa e irrecusável.
O galope do cavalo estava veloz mas não muito além do necessário pois seu objetivo nunca fora chamar atenção. A escuridão tomava as redondezas e uma trilha guiava o percurso até a entrada do vilarejo. A falta de cores em sua vestimenta contribuía para ocultar sua presença, assim como sua sutileza que o fazia passar despercebido de possíveis olhares desconfiados.
O cavaleiro atravessou pela humilde torre pertencente ao andor do local, esta era a primeira construção que recepcionava os visitantes. Diminuiu os passos de seu cavalo castanho e o fez caminhar calmamente pela estreita rua de terra batida. Havia poucas pessoas que cruzavam seu caminho, apenas alguns senhores que ainda encerravam seus trabalhos do dia. Mas como um gentil asmabeliano, o misterioso homem em seu animal cumprimentou os moradores a fim de não causar-lhes desconfiança ou estranhamento. Não demorou até que ele chegasse às primeiras casas do local; e lá estavam posicionados os três cavaleiros que o aguardavam. Estes eram seus companheiros.
— Mas que demora, hein? — disse Borbon, o mais alto deles.
— Eu sugeri que você se atrasou por ter enfrentado uma tropa inimiga no meio do caminho — Roren adiantou-se, o mais jovem deles. — Mas eu acho que não, senão você nem estaria mais vivo.
— Estaria, sim — respondeu Mercel, o que acabara de chegar.
— Vamos deixar para pôr a conversa em dia quando não estivermos mais aqui fora — aconselhou o que permaneceu calado até então. — Há uma taverna movimentada aqui perto e isso será muito útil para nós.
Assim, os quatro cavaleiros adiantaram-se em seguir caminho para o local onde comeriam e possivelmente descansariam. Observados à certa distância, as figuras eram quase idênticas entre si. Quatro homens montados em alazões de pelo castanho brilhoso. Os animais davam passos lentos já que não era a intenção que suas ferraduras despertassem a curiosidade dos moradores em suas casas. Todos eles trajavam uma armadura de couro fervido negro com peças mais firmes a lhes proteger em lugares mais frágeis do corpo. Suas calças eram a única peça que apresentavam um tom menos escuro pois todo o resto de sua vestimenta era negra. Os quatro seriam iguais se não fosse pelo manto vermelho que um deles usava. Esse era Adamor, o líder dos Cavaleiros Irmãos.
Após alguns minutos cavalgando pelas silenciosas ruas do Vilarejo Ossoris, eles logo começaram a ouvir os barulhos emitidos do interior da taverna. Havia uma sequência de estacas alinhadas próximo à entrada do local, lá os cavalos e burros permaneciam amarrados enquanto seus donos passavam horas se divertindo. Os quatro companheiros desceram de seus animais e amarraram as rédeas nas estacas. Os cavalos inicialmente mostraram-se desconfortáveis mas não deram trabalho durante a ação.
— Calma, garoto — disse Roren passando a mão na crina de seu fiel animal. — Nós não vamos abandonar vocês aqui.
— Certifiquem-se de amarrar bem suas montarias — aconselhou Adamor. — Nossos cavalos são de longe os mais vistosos entre esses aí. Não se surpreendam se alguém tentar roubá-los.
— Quero ver quem vai tentar roubar meu cavalo. Vou abrir a cabeça do espertalhão ao meio. — Borbon fez questão de pôr a mão no punho da espada em sua cintura.
Sem mais demora, os quatro avançaram juntos para a entrada da taverna e ao atravessar a porta vai e vem, depararam-se com o local completamente cheio. Em cada mesa redonda havia homens sentados em bancos ao redor. Estes bebiam e riam alegremente como de costume. Alguns comiam petiscos que eram servidos por Laurelia que ziguezagueava entre as mesas levando consigo olhares e assobios dos marmanjos. Ao passarem os olhos por cada canto do local, os novos visitantes avistaram uma mesa redonda com três bancos disponíveis. Andaram até lá evitando chamar atenção. De fato eram os únicos cavaleiros ali presentes tendo em vista que todos os membros de sua Ordem usavam sempre os mesmos trajes.
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A Pretensão dos Cavaleiros
FantasyO humilde Vilarejo Erban do Reino de Asmabel passou pela mais produtiva das primaveras e a adolescente Eurene vê seus dias tornando-se mais atarefados com sua família. No entanto, tudo muda quando a expansão territorial do Reino de Vordia chega ao v...