- A Aprendiz e o Mestre -

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A manhã mal terminava de nascer no Reino de Asmabel e Mercel já estava pronto em seu traje de couro escuro. Na noite anterior, o cavaleiro fez questão de avisar Eurene sobre sua intenção de iniciar o treinamento dela logo no amanhecer, mas parece que a garota tinha esquecido de tal compromisso.

Ela acordou com as batidas dele na porta de seu quarto na estalagem. Foi atendê-lo com uma expressão sonolenta e desgrenhada, mas isso pouco a importou. Apressando-se em atender ao compromisso, Eurene vestiu suas calças escuras, botas desgastadas e sua comum camisa de tecido carmesim. Apanhou a espada que havia adquirido dias atrás e sentiu certa animação pois pela primeira vez a usaria sem ser para cortar o vento.

Também fez questão de avisar ao dorminhoco Devin que demoraria a voltar, mas dificilmente ele se lembraria de tal coisa quando acordasse horas mais tarde. Sendo assim, menina e cavaleiro deixaram a estalagem e seguiram pelas ruas da cidade, a movimentação já mostrava-se estrondosa naquele horário.

— Precisava me acordar tão cedo? — Eurene o indagou aos bocejos, ela caminhava ao seu lado pela calçada.

— Quanto mais cedo formos, mais cedo retornaremos para a cidade.

— Nós vamos sair da cidade? Mas que lugar é esse que você vai me treinar?

— Você verá. — O ar de mistério que aquele homem carregava em seu rosto nunca deixava de incomodá-la, mas estava aprendendo a acostumar-se com isso.

Os dois seguiram diretamente para o portão da cidade e o atravessaram sem grandes complicações. Haviam duas coisas ao redor da cidade, as ramificações da Floresta Amarela no leste e a praia no oeste, esta encontrava-se mais longe e levaria um tempo a mais para chegar lá. Eurene nem precisou perguntar ao cavaleiro qual seria seu destino, pois o rumo que tomavam certamente os levaria para a praia.

A brisa já refrescava seus corpos quando terminavam de descer uma leve colina, o capim era alto naquelas redondezas e chacoalhavam fortemente pelo vento que os batiam. Quando olharam para o horizonte, viram uma imensidão de areia clara com águas calmas. Mercel não parou para apreciar a vista, continuou descendo a colina de areia e Eurene fez o mesmo. Pouco depois já estavam no centro da área que os separava do limite que as ondas traziam as águas.

Eurene observou ao redor e constatou que não havia ninguém por ali, poucas gaivotas voavam no céu por ali. Pôde ver que algumas canoas estavam organizadas na areia, certamente pertenciam a pescadores que participavam do comércio no interior na cidade.

— Por que a praia? — Eurene o indagou, seus cachos voavam fortemente pelo vento.

— É o único lugar onde não seremos incomodados pelos comentários de meus amigos Borbon e Roren. O bosque também seria propício, mas sempre tem pessoas caminhando pelas trilhas.

— Você pensou em tudo mesmo.

— Sim. Agora, pegue a sua espada.

Inesperadamente, Mercel retirou sua lâmina da bainha e pôs-se em posição de combate. Eurene se surpreendeu, mas não poderia esperar diferente. Ela tomou sua espada e deixou a bainha na areia, sem dúvida teria mais liberdade nos movimentos que iria realizar.

A menina olhou diretamente nos olhos do rival e tentou decifrar o que teria que fazer, preparar o ataque ou armar uma defesa. Mas Mercel não lhe deu tempo de pensar pois já avançava com a espada em punho. Várias ações passaram pela cabeça de Eurene, uma multidão de escolhas que ele tentava julgar qual seria a mais adequada a se fazer. Mas seu tempo havia acabado pois o cavaleiro desceu-lhe a espada com vigor. Agindo pelo seu instinto, Eurene levou sua lâmina acima da cabeça e segurou o golpe lhe dado. De fato surpreendeu-se pois julgou-se nem ser capaz de resistir ao primeiro ataque.

A Pretensão dos CavaleirosOnde histórias criam vida. Descubra agora