Os bardos costumam contar histórias, das mais alegres às mais tristes. Muitos foram os nomes que contribuíram para moldar a história de Aradus ao longo dos longínquos tempos, assim como muitos outros contribuíram para mudá-la ao longo dos recentes tempos. Reis e rainhas nasceram e morreram, deixaram seu legado para seus herdeiros e construíram novos rumos para os tempos venturos. Estações vieram e se foram, moldaram a terra e mudaram os céus, assim como os que habitavam nesse mundo.
A mais temida das estações sempre fora o inverno pois seus ventos gélidos traziam a fome, a perda das plantações e as doenças seguidoras do frio. Muitas vezes o inverno é dito como sinônimo de morte, e todos temiam isso. Ora, a Cidade de Asmabel já havia passado por incontáveis invernos desde seu levantamento, mas nenhum foi tão desastroso como o inverno de dezenove anos atrás. A maldita estação que gerou a guerra entre os dois reinos que até então viviam em paz. O mesmo inverno que destruiu as plantações de grãos, que afastou os peixes dos rios, que assombrou os animais das redondezas e levou as aves dos céus.
Alma nenhuma esperava que o frio desta vez havia chegado para ceifá-los. Em nenhuma época o sagrado Altar dos Ejions foi visitado tantas vezes como naqueles dias sombrios. Os cidadãos da cidade rezavam aos Seres Aliais pelo fim daquela calamidade, clamavam pela varredura das nuvens que insistiam em impedir a vinda do sol, as mesmas que perseveravam em mudar o adorado rosado por um branco sem fim. Os armazéns estão escassos, os fazendeiros avisavam. Os vilarejos não produzem mais, os governantes declaravam. Mantenham a fé, os andors pediam. Mas a fome prevalecerá, as pessoas diziam.
A cidade estava à beira de um colapso, e isso ninguém podia negar. O Rei Grival escondia-se nos confins de seus salões e mantinha-se aquém dos clamores de ajuda daqueles que tentavam adentrar o castelo. O povo estava faminto, e nem mesmo o rei e sua corte sabiam o que fazer. A adorada Rainha Ferlira, tida como solidária com o sofrimento de todos, insistiu que seu marido enviasse um pedido de ajuda ao único que teria capacidade de auxiliar seu povo, o Reino de Vordia. Um absurdo, muitos afirmaram. O orgulho prevaleceu nos nobres da corte ao ouvir tal sugestão. O rei não aceitou, não havia possibilidade para tal. Acreditava profundamente que nada poderia lhe fazer mudar de ideia. Até que a fome bateu na porta de seu castelo.
Na desolação do inverno, a Rainha Ferlira concedeu ao Rei Grival seu primeiro herdeiro, uma menina que recebeu o nome de Fenuella. No entanto, pouca foi sua felicidade pois a desgraça assolava cada vez mais a população. A fome perdurava não somente na plebe mas na corte também. O choro da menina foi o último lamento que quebrou o orgulho do rei. Uma mensagem foi redigida e enviada através da mente do Andor Conselheiro, nela era levada relatos de sofrimento e pedidos de ajuda.
O Reino de Vordia também enfrentava um rigoroso inverno naqueles dias, mas os Seres Aliais pareciam ter optado por castigar Asmabel com o extremo frio e fome. O Rei Malonder de Vordia recebeu o pedido de ajuda e ponderou o que deveria fazer. Alguns aconselharam o uso da solidariedade, já outros o persuadiram a dar ouvidos à esperteza. Sua esposa, a Rainha Cassiana lhe deu sábios conselhos. Por outro lado, seu único filho, o jovem Príncipe Valandir afirmou que a negociação presencial e assinatura de tratados era a melhor forma de garantir benefícios por ambas as partes. E essa foi a decisão do rei. Uma visita da corte asmabeliana foi solicitada a ser realizada na Cidade de Vordia.
O Rei Grival não hesitou, reuniu os membros da corte e marchou com sua comitiva pelas terras frias que antes foram as mais férteis desta terra. A Rainha Ferlira não aceitou deixar sua recém nascida filha sob a guarda de parteiras e aias, insistiu em levar a pequena Fenuella consigo, e assim fez. Quando chegaram nos portões da grandiosa Cidade de Vordia, foram recebidos com olhares silenciosos e atentos do povo vordiano. Três dias foi o período que levou a negociação. Entre reuniões e debates, foi estabelecido que o Reino de Vordia forneceria duzentas carruagens contendo sacos de grãos, jarras de óleos e potes de especiarias. Em troca, o Reino de Asmabel se comprometeria em fornecer minério bruto, madeira sofisticada e cavalos tratados. Sob esses termos, foi assinado o Tratado de Troca.
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A Pretensão dos Cavaleiros
FantasyO humilde Vilarejo Erban do Reino de Asmabel passou pela mais produtiva das primaveras e a adolescente Eurene vê seus dias tornando-se mais atarefados com sua família. No entanto, tudo muda quando a expansão territorial do Reino de Vordia chega ao v...