- Harmonia Mágica e Natural -

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A viagem desta vez estava sendo muito menos dolorosa. Eurene e Devin atravessavam as pradarias de Asmabel acompanhados pelo eufórico andor Idarcio e seu fiel amigo Filo, tais presenças os traziam certo conforto e segurança, coisas que eles não possuíam dias atrás.

Os quatro viajantes seguiam lado a lado em suas montarias, Idarcio raras vezes deixava o conforto da sela de seu cavalo para seguir a pé, ao contrário dos jovens irmãos que revezavam as vezes que caminhavam e que cavalgavam. Logo após a saída do Vilarejo Cimonell, Idarcio deixou claro, de uma forma bastante gentil, que se os três estariam dispostos a lhe seguir, deveriam obedecer as suas ordenanças e escolhas.

Quando o andor os despertava momentos antes do amanhecer, Devin e Eurene lavavam seus rostos em qualquer fonte de água limpa disponível e ambos seguiam viagem. No fim da manhã, quando seus estômagos já clamavam por alimento, Idarcio os conduzia a qualquer sombra com espaço para os três e para os cavalos. Desfrutavam de pedaços de pães e frutas que Devin recolhia no meio do caminho, os pedaços de carne seca geralmente eram guardados para a última refeição. Por um lado, água era o elemento mais abundante que possuíam pois poucas vezes se afastavam da afluente do Rio Florin. Seguiam pelas pradarias verdes e atravessavam campos de plantações e pastos para gado. Decerto havia proprietários de origem nobre naquelas redondezas próximas à cidade do reino. Embora poucas vezes eles se deparavam com viajantes que cruzavam seu caminho, Idarcio os aconselhou a evitarem trocar palavras com estranhos que lhe dirigissem perguntas pois possivelmente poderiam se tratar de saqueadores ou, no melhor dos casos, ladrões.

Este era o fim do terceiro dia que viajavam juntos, experiência considerada agradável e de certo modo divertida, principalmente para Devin. O céu adquiria uma coloração rosada indicando a partida do sol e os ventos frios pertencentes à noite já cruzavam o território.

Idarcio os conduziu até uma área repleta por árvores cujas copas lhe garantiriam uma formidável cobertura. Tudo o que viam ao redor era uma imensidão de troncos, o que os ocultaria em meio a escuridão. O andor amarrou os cavalos em árvores próximas à eles a fim de que qualquer movimento dos animais pudesse ser captado por seus ouvidos. O local em que estavam era coberto por uma pastagem úmida agregado a folhas secas e gravetos. Eurene esforçou-se para empurrar um tronco cilíndrico para que ela pudesse escorar suas costas. Devin analisou as redondezas para garantir que não haveria nenhuma importunação por parte de animais peçonhentos escondidos nas folhas e galhos no chão.

Quando a completa escuridão se apoderou do lugar, os três sentaram-se juntos próximo à um carvalho. Idarcio escorou suas costas no tronco da árvore e deixou seu bastão de lado. Filo vasculhou o chão ao seu redor para procurar alguma coisa comestível para se alimentar mas não obteve sucesso. Eurene e seu irmão sentaram-se um ao lado do outro no toco deitado, ambos visivelmente cansados e doloridos.

— Ahhh... como é bom espichar as pernas após incessantes horas de caminhada. Não que eu já não esteja acostumado com isso, mas descansar nunca é demais, não é mesmo? — Os irmãos ficaram quietos por alguns segundos com os olhos no homem em sua frente. — O que foi?

— Está muito escuro aqui.

— Oh, que mente distraída a minha, nem havia percebido.

Idarcio uniu as palmas das mãos e em um piscar de olhos uma luz branca surgiu entre elas. Ao afastá-las lentamente, uma esfera brilhante apareceu, ele ergueu as mãos e esta flutuou até parar a dois metros do chão iluminando uma considerável área ao redor.

— Como é que você faz isso?! — indagou Devin maravilhado embora já tivesse visto o andor realizar tal truque nas noites anteriores.

— Você já me perguntou isso duas vezes desde que estamos viajando juntos, meu caro Devin. — Ele suspirou e esboçou um sorriso. — Mas eu não repreendo sua curiosidade. Imagino a fascinação que uma criança sonhadora como você deve ter em ver tal truque que as pessoas normais não podem fazer.

A Pretensão dos CavaleirosOnde histórias criam vida. Descubra agora