- Desavenças na Estalagem -

276 43 26
                                    

Não havia mais ninguém na estrada que levava ao fortificado portão da muralha. O último peregrino que formava a fila de pessoas que buscavam entrar na cidade já não estava mais ali. Tudo estava escuro, exceto a base do muro pois muitos guardas permaneciam posicionados segurando tochas para orientar a visualização de quem se aproxima, e foi esse o meio que levou os cavaleiros até a entrada da cidade. 

— Alto! Identifiquem-se! 

Quatro guardas se aproximaram dos que vinham, dois deles carregavam tochas e o recepcionador mantinha a mão no punho da espada. Mercel dirigiu sua visão para o alto da muralha e pôde ver arcos e bestas apontados em sua direção. 

— Boa noite. Me chamo Adamor, sou um cavaleiro proclamado pela Ordem dos Cavaleiros de Edaron e esses três ao meu lado são meus companheiros de espada. A senhora e os dois rapazes que estão conosco são nossos acompanhantes. 

O guarda pegou a tocha de seu colega e deu alguns passos para o lado a fim de ver os jovens que estavam montados nos cavalos. 

— E aquele ali? O que ele tem na cabeça? 

— Está ferido, há dias que está com a cabeça enfaixada e o trouxemos em busca de um curandeiro que possa ajudá-lo. 

— Toda essa comitiva de homens somente para trazer esse rapaz aqui? Estranho. 

— Solidariedade é um lema que a nossa ordem segue. 

O guarda olhou nos olhos decididos de Adamor e, após dar um suspiro, virou-se para seu colega que trazia um livro e uma pena.

— Quatro cavaleiros de Edaron, dois rapazes e uma mulher. Podem passar e sejam bem-vindos à Cidade de Asmabel. 

Após ter o acesso permitido, os companheiros seguiram em frente e Adamor lembrou-se de movimentar a cabeça a fim de cumprimentar os guardas que os observavam. 

— Solidariedade é um lema que a nossa ordem segue? — perguntou Borbon em um tom de risos. — Não sabia que os nossos valores tinham sido mudados. 

— Era isso ou nosso acesso seria impedido. Não digo palavras em vão, meu amigo. Tudo foi necessário. 

— E agora? Para onde nós vamos? — indagou Laurelia montada atrás de Roren. 

— Há de ter uma estalagem ou hospedaria sem muito movimento por aqui. Estamos cansados, barulho é tudo o que não queremos no momento, e tudo o que seu filho não precisa. 

— Precisamos nos desfazer dos cavalos. Um estábulo deve mantê-los bem enquanto estivermos aqui — aconselhou Mercel. 

Não demorou até que encontrassem um entre tantos outros estábulos por ali, estes eram locais que permaneciam a noite toda abertos já que o movimento de entrada e saída da cidade era constante. Após deixarem os quatro animais sob a tutela de um cuidador que cobrou um honesto valor, os companheiros seguiram pelas ruas pouco movimentadas da cidade. 

Borbon não precisou anunciar sua disposição em carregar Adilan, tendo em vista que ele era visivelmente o mais forte entre todos eles. Segurou o desacordado rapaz em seus braços e o levou noite à fora. Esse não era um horário que os asmabelianos costumavam vagar fora de suas moradias. Nenhum dos quatro homens detinha conhecimento da localização exata de estabelecimentos por ali, afinal nenhum deles havia pisado na cidade antes. Não foi necessário pedir informações, o observar de seus olhos era o suficiente para fazê-los distinguir qual local era adequado e qual não. Algumas das estalagens que encontravam em seu caminho exibiam homens bêbados que riam em voz alta, outras apresentavam bardos que cantavam seus poemas mas, por mais atrativo que isso parecesse para Borbon, não era o tipo de lugar que precisavam. 

A Pretensão dos CavaleirosOnde histórias criam vida. Descubra agora