- O Príncipe e a Donzela -

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A festa ocorria normalmente na Casa das Canções, tal salão foi erguido em um jardim com enormes proporções, e Eurene detestou saber disso. A garota seguia os passos do príncipe esguio que não a poupava de contar os detalhes de sua não muito longa história de vida. Aos poucos o jardim perdia a movimentação das pessoas, de fato ambos adentravam em suas profundezas cada vez mais.

A não ser pela voz do rapaz falante, um completo silêncio tomava o local e os vagalumes dançantes eram a única coisa capaz de permitir um escape do tédio de Eurene. A garota dava passos segurando a saia de seu vestido carmesim. Às vezes olhava para seus pés, às vezes olhava para os vagalumes. Mas nunca o rosto do príncipe ao seu lado, por mais bonito ou feio que ele fosse.

— Você não acha que deveria ser assim?

De repente, Eurene saiu de seus pensamentos distantes.

— O que?

— A corte. Você não acha que todo o poder deveria ser centralizado unicamente ao rei?

— Han... mas já não é assim?

— Pelo visto você não sabe muito sobre como as coisas funcionam — Allanel suspirou. — Sim, é o rei quem toma as decisões finais, mas ele não pode ir contra as leis da Crença Alial. Ou seja, quem governa o reino é Nerendor, não o rei.

— Então deixe de seguir as leis da Crença. Pronto, isso resolve o problema.

— Mas isso não é possível. A Crença é fundamental para manter a ordem entre as pessoas. Se não fosse por seus ensinamentos, todos se comportariam como animais.

— Parece que você tem um grande dilema para resolver quando se tornar rei.

A fala da garota despertou um agrado no príncipe, sentiu como era bom saber que ela prestava atenção em suas palavras.

— Você acha que eu vou ser um bom sucessor para o meu pai?

— Difícil achar alguém que não seja.

Allanel foi incapaz de interpretar claramente tais palavras.

— Como assim?

— Você é o primeiro? Na... — ela revirou a mente para se lembrar. — Linha de sucessão?

— Não. Fenuella é a filha mais velha, logo está na minha frente. O que é um erro, já que ela é mulher.

— Ser mulher é um erro?

— Para governar um reino, sim.

— Pensei que tinha dito que quem governa o reino é Nerendor, não o rei.

— Sim, mas... Ah, esqueça isso. Não é o lugar adequado para conversarmos sobre assuntos políticos.

— Como queira, Alteza.

Os dois seguiram em silêncio evitando olhar diretamente para o outro.

— Qual a sua idade? — o príncipe perguntou.

— Quinze anos, cento e oitenta luas.

— Cento e oitenta passagens de lua, assim como eu.

— Sério? Eu não esperava. — Eurene esforçava-se para demonstrar interesse na conversa.

— Por que? Pareço mais velho?

— Não.

Allanel tentou decifrar o que a garota ocultava em sua fala. De fato, entender o pensamento de uma mulher mostrou-se ser algo mais complicado do que ele esperava em tal momento. Sem esperar pelo companheiro, Eurene caminhou direto para uma varanda circular onde a vista da cidade sob a noite lhe preenchia os olhos. Uma vista composta por chamas de poste ao longo das ruas.

A Pretensão dos CavaleirosOnde histórias criam vida. Descubra agora