Quando Talion finalmente abriu os olhos, Laurelia não hesitou em envolvê-lo em seus braços. A mulher tinha seus olhos lacrimejantes, mas assumiu que agora não seria necessário chorar, afinal seu desespero havia ido embora por completo.
— Ah, os Seres Aliais foram bons comigo mais uma vez — dizia ela apertando o corpo do filho.
— Me solte, mãe — resmungou o rapaz, quase perdendo o fôlego. Se não havia morrido pelos ferimentos, morreria de asfixia.
Talion passou dois dias adormecido no quarto, mal sabia ele que estava no cômodo pertencente à Borbon e Mercel. Julgaria posteriormente que o cavaleiro grosseiro não se agradara da ideia de perder seu quarto próprio. Por três vezes ao dia, Laurelia ia até o cômodo ver se o rapaz estava em boas condições. A janela aberta poderia fazê-lo tremer de frio durante a noite, ou os cobertores poderiam fazê-lo transpirar em excesso, mesmo que ainda estivesse inconciente. Ela também tentou fazer com que ele engolisse um pouco de água, julgava que seria o suficiente para mantê-lo vivo por um ou dois dias, já que sua condição não permitia que ele comesse coisas sólidas. Mais um dia adoentado e Laurelia arriscaria lhe fazer engolir sopa de verduras.
Talion exibia olheiras e talvez seu rosto estivesse um pouco mais magro. Ele estava levemente sentado na cama, com as costas escoradas em almofadas na cabeceira. Quando sua mãe finalmente o largou, ele observou o ambiente ao redor e logo deu-se conta de onde estava. Não sobre o quarto em si, mas a Estalagem de Emelia. Quando movimentou a cabeça para analisar seu corpo, viu a parte que não estava mais lá.
Laurelia conteve seu sorriso, pois percebeu que agora teria que lidar com o desagrado de seu filho. Ela já imaginava o tipo de reação que viria por parte dele; desespero, raiva ou xingamentos. Mas ela também deu-se ao trabalho de pensar nas palavras certas para acalmá-lo e tentar apaziguar sua dor. Bastava apenas esperar o primeiro ataque de fúria.— Que ótimo, agora eu tenho um braço a menos. — Após um suspiro, ele afundou-se nas almofadas.
— Eu sinto muito, querido — Laurelia esboçou um olhar de compaixão, como se compartilhasse de cada dor que ele pudesse sentir.
A reação foi mais amena do que a mulher esperava... muito mais amena. Laurelia realmente lamentava aquela expressão tristonha que o rapaz adotara. Tinha até mesmo o receio de tocar no assunto pois poderia aumentar o desconforto do filho com a sua nova realidade.
— Nós vencemos? — Talion a indagou tentando não focar tanto naquele detalhe imensamente desagradável. — Vencemos aqueles soldados?
Laurelia apenas anuiu com a cabeça.
— E o menino? O Devin? Ele está bem?
— Sim. Só teve um pequeno corte na bochecha, mas ele está bem, sim. Todos estão.
— Então pelo menos eu não perdi meu braço em vão. — Ele levou o olhar para a parede em sua frente. Ficou assim, quieto e reflexivo.
— O que você fez lá, foi muito corajoso, meu querido. Não só ter lutado contra aqueles homens, mas também ajudado o menino.
— É, eu quase fui morto por aquele soldado. Mas, mesmo tendo ficado aleijado, não me arrependo de nada.
— Não fale isso — Laurelia elevou a voz para repreendê-lo. — Você não é um aleijado.
— Sou um homem com um braço só, mãe. — Ele a deu um olhar de impaciência. Não estava disposto a tentar amenizar a realidade das coisas.
— Não quero que se mutile assim. Você já passou por muita coisa para ficar se lamentando, meu filho. Eu já agradeço aos céus por você estar vivo. Quase perdi Adilan, e agora quase perdi você. Os Seres Aliais têm sido bons comigo.
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A Pretensão dos Cavaleiros
FantasyO humilde Vilarejo Erban do Reino de Asmabel passou pela mais produtiva das primaveras e a adolescente Eurene vê seus dias tornando-se mais atarefados com sua família. No entanto, tudo muda quando a expansão territorial do Reino de Vordia chega ao v...