A Rainha Eline terminava de cantar os últimos versos da longa canção, sua voz atraía aplausos e elogios dos súditos ao redor. Se parabenizavam-na apenas pelo seu título e não por seu talento, ninguém saberia responder.
Adamor ainda permanecia diante do altar próximo à outros espectadores. O cavaleiro trocou sagazes palavras com os outros três desafiantes, pôde obter certo conhecimento sobre as personalidades e preferências estratégicas de cada um. Chegou a conclusão de que não havia o que temer por parte deles, mas sim do quê eles teriam que combater naquela arena.
Desfrutando de uma taça de vinho, Adamor observava a esbelta rainha receber seus devidos aplausos e saudações. Quando esta se pôs a descer os degraus esbanjando sorrisos, deparou-se com um silencioso cavaleiro observando-a.
— Mmm, eu assumo que a minha performance o agradou para tê-lo feito permanecer aqui até agora.
— Foi uma excelente apresentação, Majestade. Possui uma bela e agradável voz para canções.
Eline sorriu. A serena gentileza daquele homem a agradava.
— Espero que tenha aproveitado a ocasião para confraternizar com seus rivais no desafio — ela continuou.
— Sim, dialoguei longamente com eles. Todos são guerreiros admiráveis, pelo o que me contaram.
— Você é um guerreiro admirável, cavaleiro?
— Acredito que não cabe a mim enaltecer os meus próprios feitos. Ações admiráveis devem ser reconhecidas e espalhadas pelas pessoas, não por quem as faz.
— Que opinião respeitável. — Um criado passou entre ambos oferecendo taças de vinho e Eline logo estendeu a mão para pegar uma. — Me acompanha em uma caminhada?
— Seria um prazer.
Sem mais hesitação, rainha e cavaleiro passaram a andar lado a lado pelo interior do salão, Eline ainda cumprimentava os súditos ao redor e Adamor deixava seus olhos acompanharem os pés. Seria um tremendo desrespeito interromper os movimentos da monarca.
— De onde você veio? — ela indagou.
— De muitos e muitos lugares.
— Não, quero saber em qual vilarejo você nasceu.
— Vilarejo Tormell, o que mais sofreu durante sua existência.
— Ele deixou de existir, não foi?
— Sim, lamentavelmente.
— Ainda tinha parentes morando lá?
— Não, mas não sei se eu deveria agradecer aos céus por isso.
— Por acaso não tem mais fé nos Seres Aliais?
— Eu perdi a fé em divindades quando a desgraça assolou o meu lar e minha família. Se eles não me ajudaram antes, não vejo porquê me ajudariam agora.
— É um homem amargurado.
— Não me vejo assim.
— Nós temos a dificuldade de revelar nossos próprios defeitos, cavaleiro.
— Talvez seja por isso que somos suportáveis.
— É, talvez seja por isso mesmo. — Ela levou a taça à boca. — Não acredito que haja um homem ou mulher bondoso demais nesse mundo. Todos temos nosso lado obscuro.
— Me parece uma mulher temível, Majestade.
— Eu? Ora, não diga bobagens, homem. Em meu interior sou a mesma que aparento ser aqui agora. Veja os meus pensamentos se quiser.
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A Pretensão dos Cavaleiros
FantasyO humilde Vilarejo Erban do Reino de Asmabel passou pela mais produtiva das primaveras e a adolescente Eurene vê seus dias tornando-se mais atarefados com sua família. No entanto, tudo muda quando a expansão territorial do Reino de Vordia chega ao v...